Pensar verde e branco

OPINIÃO23.05.202000:26

O futebol dito profissional voltou em todo o seu esplendor, como se nada tivesse acontecido. Quando se fala numa segunda volta do Covid-19, os clubes que não terminaram a segunda volta do campeonato, estão aí como se não tivesse havido uma primeira volta da pandemia que colocou o País num confinamento de consequências imprevisíveis, tanto mais quanto, como diz o presidente do Nacional da Madeira, não atacou só os pulmões como também os neurónios! E a culpa é de quem? Do Futebol Clube do Porto que ia à frente do campeonato e depois de ganhar duas vezes ao Benfica e do Pedro Proença que o Benfica não consegue controlar e que não esconde se quer ver livre para pôr lá alguém que lhe faça os fretes. E ainda há quem chore porque não manda fora de campo. É preciso ter lata!...


E fico-me por aqui, porque a questão aflorada tem pouco a ver com o meu pensar a verde e branco, que, com grande satisfação minha, se está a espalhar pela comunicação social. A lucidez dos meus consócios está a conseguir sobrepor-se ao ruído e às considerações cheias de banalidades que por aí ainda andam, e que esperamos que seja por pouco tempo.


Apelei no meu último artigo a um remar unido de todos os que neste momento - e já são muitos - querem debater as questões importantes do Sporting, já que aquele que deveria ser o timoneiro, anda confuso e à deriva, perdendo a cada dia os seus companheiros de viagem, e depois de se tornar refém do treinador, mostra-se agora rendido ao mesmo treinador.


Rendido, significa, como se pode ver em qualquer dicionário da língua oficial portuguesa, dominado, subjugado, vencido, humilhado. Se é difícil perceber como um capitão se pode achar dominado com tanta facilidade apenas por um homem, é inconcebível que o timoneiro de uma das maiores instituições nacionais e internacionais se sinta subjugado ou vencido (para esquecer o humilhado), relativamente ao treinador, com todo o respeito pelo Bruno Amorim. Assim não admira que os convidados para um mandato de quatro anos, ao fim de menos de dois anos, se tenham desconvidado!


Os meus consócios (e alguns que não são) podem ter ideias diferentes sobre o modelo de governance em geral e da SAD em particular, bem como a composição do capital social desta. E sobre isto faço uma chamada para a leitura atenta do artigo do meu consócio e colega Carlos Barbosa da Cruz, quarta-feira passada, no Record, que sintetiza de uma maneira simples que não há que ter medo de uma perda de maioria do capital, tudo dependendo de uma arquitectura jurídica que defenda o clube. Rui Calafate tem outra opinião, Tomás Froes também tem, e outra será a de Poiares Maduro ou de Samuel Almeida. Eu, por exemplo, tenho espírito aberto para qualquer proposta, que não seja a actual situação. Importa é que se discuta o assunto com seriedade, tranquilidade, serenidade e, sobretudo, a elevação que uma história de mais cem anos merece. Depois serão todos os sócios a decidir, se tiverem condições para votar com tranquilidade, serenidade e elevação, as alterações que a realidade impõe.


O problema maior é que a decisão sobre estes temas e outros passam pela Assembleia Geral do clube. Mesmo o que respeita à SAD. E aqui o que está à vista, com pandemia ou sem pandemia, é que uma assembleia geral com centenas, para não falar de milhares, de sócios, pode ter elevação e votação, mas não permite uma discussão serena e tranquila de temas estruturantes, que exigem muita ponderação e pouca emoção, e mais razão que paixão.
No clube, os estatutos, que necessitam de alteração como se precisa de oxigénio para sobreviver, está a solução para uma mudança de vida, que tem de ser gradual, mas decisiva. Mas necessitam da aprovação de três quartos dos sócios presentes na assembleia geral, nos termos da lei e dos estatutos. E neste momento, por razões internas e externas, não há condições para fazer assembleias gerais. As razões externas são conjunturais - a pandemia - mas não se sabe quanto tempo vai demorar ou quando terminará!


Devia-se introduzir na lei o voto por escrito deste tipo de associações como existe para as sociedades comerciais, ou, como seria de acordo, com os tempos modernos, por voto electrónico.


Para uma mudança gradual, o que preconizo justamente é uma alteração dos estatutos por forma a introduzir a possibilidade de ser introduzido o referendo e o voto electrónico. Assim, em votações sobre matérias importantes, como são as estatutárias, todos os sócios, onde quer que estivessem, podiam votar e teríamos a certeza que o deliberado representava a decisão de todos os sócios do Sporting Clube de Portugal, e não apenas a vontade de três quartos dos sócios presentes numa assembleia geral em Lisboa, para alguns distância intransponível, mesmo que o seu amor seja grande pelo clube? Para a discussão teríamos muito mais tempo e meios para debater todos os problemas de modo a que todos esclareçam e sejam esclarecidos!


Fica, a quem de direito, o desafio para uma transformação essencial, porque também a assembleia geral da SAD nada pode decidir, estando absolutamente dependente do que a Assembleia Geral e o Conselho Directivo decidirem. Lembro só, que nos termos dos estatutos do clube depende de autorização ou aprovação da Assembleia Geral a alienação ou oneração de participações em sociedades, excepto se tiverem a natureza de meras aplicações financeiras, o que não é o caso, exigindo antes de mais uma ampla discussão, não compatível com assembleias gerais emocionais e votações dependentes de resultados desportivos.
Como se percebe as mudanças estruturais estão cheias de obstáculos, e o mar da mudança está encapelado de tal forma que, um barco à deriva, já de si com grandes fragilidades, passadas e recentes, corre o risco de afundar.


Vamos permitir isso? De forma alguma! Cem anos de história não podem desaparecer com uma tempestade por maior que seja. Os fundadores não nos perdoariam e os nossos descendentes, sobretudo os mais jovens, condenar-nos-iam por não lhes transmitir o seu legado.


Continuemos o debate, independentemente da situação estatutária. A decisão final é dos sócios. Enfrentemos a tempestade remando unidos - com ideias diversas, mas com o mesmo ideal: o Sporting Clube de Portugal!