Pensar verde e branco

OPINIÃO06.06.202004:00

Julgo que ficou claro no meu pensar verde e branco da semana passada, que o equipamento do presidente para o futuro do Sporting Clube de Portugal tem de ser verde e branco, sem equipamentos alternativos!
Mas hoje o meu pensar verde e branco cruza-se, como não podia deixar de ser, com a justiça, e a justiça de Alcochete, que parece ter terminado definitivamente, naquilo que respeita ao Sporting, na medida em que o presidente, que na altura exercia em pleno as suas funções e que estava envolvido no processo, foi absolvido da acusação de autoria moral de vários crimes.
Há muito tinha percebido, e não deixei de o escrever, que era difícil dar o salto de uma afirmação façam o que quiserem para uma acusação de autoria moral dos crimes praticados em Alcochete naquela fatídica tarde. Foi uma afirmação irresponsável e leviana, que poderia redundar - e redundou - num acto criminoso. A responsabilização criminal, porém, é mais exigente, e não pode haver dúvidas entre causa e efeito, entre uma afirmação irresponsável e uma responsabilidade pela autoria moral. Mas o ex-presidente e ex-sócio do Sporting devia perceber que nem toda a gente gosta de atitudes e comportamentos destes. Devia ter percebido que a legitimidade de 90% dos votos não implica dizer para uns sócios façam o que quiserem e, para outros, eu faço o que quero. A maioria não aceitou nem que uns façam ou fizessem o que queriam, nem que o presidente fizesse o que lhe apetecia. Por isso o destituiu e depois o expulsou.
O Sporting foi vítima do que aconteceu em Alcochete, mas Alcochete nunca será uma página negra na história desta instituição, porque ninguém a pensar a verde e branco comete aquela atrocidade. Na justiça portuguesa não deixará de ser uma página negra da responsabilidade do Ministério Público, o grande derrotado deste processo.
Na realidade, se o ex-presidente do SCP disse façam o que quiserem -  e fez até ser destituído o que quis e lhe apeteceu - o Mistério Público não pode acusar como quer e lhe apetece. E é com tristeza que constato que, se não foi assim, andou lá muito perto, na medida em que a questão não foi apenas não fazer a prova da ligação entre o façam o que quiserem e o ataque a Alcochete, mas sim a quantidade - mais de sessenta - de factos não provados! É muito facto não provado! Como se explica isto? Onde foi o Ministério Pública buscar a consistência da acusação de factos tão graves? Em que depoimentos? Ou construiu uma narrativa a partir das cenas filmadas e centenas de vezes passadas nas televisões?
Pedro Adão e Silva, com a sua habitual lucidez, escrevia na terça-feira passada, no Record, sobre o processo de Alcochete, o que, com a devida vénia, transcrevo: «O assunto é sério e como toca ao futebol talvez as pessoas prestem mais atenção. No julgamento de Alcochete emergiram todas as debilidades estruturais do nosso sistema de justiça: um Ministério Público que acusa com provas frágeis, enquanto dissemina no espaço público uma culpabilidade que depois não é capaz de sustentar em julgamento; e um uso excessivo de prisão preventiva, para além de tudo o que é razoável. Por isso mesmo, precisamos de juízes com coragem moral e cívica, capazes de contrariar esta pulsão incontrolável para fazer julgamentos populares.»
Subscrevo inteiramente, acrescentando que o Ministério Público deve explicações. Não deve uma explicação aos sportinguistas, porque não pensa a verde e branco; mas deve uma explicação a todos os portugueses, porque deve pensar verde e encarnado, que são as cores da bandeira de Portugal!...
    
Jesus
(d)e Nazaré!

Jesus de Nazaré é uma figura central do cristianismo, aquele que consideram ser o filho de Deus. Mas Jesus e Nazaré são duas figuras diversas no universo desportivo, designadamente, figuras incómodas da cartilha encarnada, nos últimos dias.
Jesus deu descanso ao seu amigo do peito Luís Filipe Vieira - e quem tem amigos destes não precisa de inimigos - ao renovar o seu contrato com o Flamengo, permitindo a este dar uma entrevista afirmando que o seu treinador é Bruno Lage. Naquela renovação há apenas um mistério, que não é o da Santíssima Trindade, mas sim quais os clubes que permitirão a saída daquele conceituado treinador e sombra de Bruno Lage. Mais à sombra ainda depois do empate com o Tondela, embora, segundo as notícias, o raspanete tenha sido dado aos jogadores. Fez-me lembrar alguém que os fazia no seu Facebook. Este faz pela face de outros, porque daquele balneário não passa nada cá para fora, que não seja cartilhado!...
Também o Nazaré não é Jesus, mas Luís, ex-Presidente da Assembleia Geral do Benfica. E que, na minha opinião, não tem razão no seu confronto com a Direcção do mesmo clube, quanto ao funcionamento do referido órgão onde reside o poder supremo do clube, logo após o do Presidente da Direcção.
Mas, como referi, eu acho que a razão legal e estatutária está do lado da Direcção. Mas não só! Como pode o ex-presidente Nazaré ser tão conservador, e até algo retrógrado, para não perceber que o digital não permite agarrar o pescoço de quem está no uso da palavra numa assembleia geral? Já era tempo de perceber que a democracia é isto mesmo: só fala quem está a favor! Será tão difícil perceber isto?
Jesus de Nazaré foi crucificado. Agora foi o Luís que se crucificou!...
Aquele teve, como companhia, o bom e o mau ladrão. O Luís terá de escolher a sua companhia ou então ficará só!...

Qual o rumo?

Eu não tenho a paciência e tolerância institucional do meu bom amigo, companheiro e consócio Sérgio Abrantes Mendes e por isso, às vezes, não gosto muito dos seus sintéticos artigos, sem prejuízo de respeitar a sua opinião como ele respeita a minha.
Depois de ver o jogo com o Guimarães, estou de acordo com ele quando diz que já anda ali o dedo de Rúben Amorim. Ele, aliás, não tem nenhuma culpa de ter custado caro, até porque não foi ele a receber a tão proclamada indemnização. Porque, na realidade, devemos ser justos, e apreciá-lo como se estivéssemos no início de uma época, e não de acordo com uma época a terminar, de uma forma atípica, e depois de uma interrupção por causa de uma pandemia.
Ora, dadas as circunstâncias, não desgostei do Sporting e acho que anda ali muita qualidade, que, bem aproveitada, pode dar que falar. Mas tenho receio que a única forma de sustentabilidade seja a venda constante de jogadores da formação, como parece ser o discurso da administração. Se for assim, se não for dado outro rumo, não vejo como é que algum dia haverá sucesso desportivo. E foi para ter sucesso desportivo que o Sporting nasceu. Não para ser um aviário nem um aviamento em beneficio apenas de alguns!