Palavra de Vieira
Sabe o presidente do Benfica que o seu lugar tornou-se muito apetecível, porque está quase tudo feito, mas prometeu não trair a confiança de quem nele acredita
ERA importante que Luís Filipe Vieira falasse para serenar o ambiente e dar uma palavra de confiança à família benfiquista. Era importante baixar o ruído que tem transmitido uma péssima imagem do clube e que tem alimentado a vaidade de quem espreita por detrás da cortina do anonimato a oportunidade para atacar o poder, sem se preocupar nem com os danos, nem com as estratégias, valendo tudo, desde a baixa insinuação à reles ameaça.
Se existe, verdadeiramente, uma oposição que quer apresentar-se como alternativa credível, que avance, que se mostre, que haja rostos, que aceite discutir o estado de saúde da águia nos locais próprios, que são as assembleias gerais, com coragem e frontalidade, e não através de pindéricas ações de terrorismo urbano, que é o que se tem visto.
O presidente benfiquista nada disse de especial na entrevista ao canal BTV, mas teve a hombridade de assumir toda a responsabilidade pelo que de bom e de mau tem acontecido em termos de desempenho do futebol profissional, frisando que a política a seguir será a de engrandecimento de um clube desportivamente ganhador e financeiramente estável.
De certeza que deu outra boa notícia à maioria do universo encarnado, ao manter a aposta nos escalões jovens e reforçar, inclusivamente, a capacidade de resposta do centro do Seixal, tendo sublinhado que no passado recente o Benfica foi considerado no espaço europeu um dos clubes com maior robustez financeira graças, precisamente, ao investimento feito na sua área de formação.
FOI agreste com aqueles que se exibem nas vitórias e se escondem nas derrotas, tendo trazido à colação uma cena de 2013, na final da Taça de Portugal, perdida para o Vitória de Guimarães, em que, olhou para trás, e da multidão de convidados benfiquistas que estava na tribuna, só viu João Gabriel, o diretor de comunicação na altura.
Sabe o presidente do Benfica, sabe toda a gente, que o seu lugar tornou-se muito apetecível. Obra imponente, academia ao nível do que melhor existe no mundo, casa arrumada, contas controladas, plantel que apenas precisa de ser retocado para atacar o projeto europeu: está quase tudo feito, mas, apesar disso, Vieira deu também a palavra de não trair a confiança de quem nele acredita. «Vão sentir orgulho por terem votado em mim», declarou em jeito de mensagem para ser guardada para memória futura.
Em relação ao treinador, penso que encontraria no mercado melhor solução, mais barata, mais bem preparada para os desafios do futebol moderno e com mais futuro, mas também é verdade que dos seus opositores, em período de campanha eleitoral, apenas recebeu declarações de concordância. Portanto, acabou por ser uma escolha consensual, embora de risco, pois é minha opinião que Vieira tem mais consideração por Jesus do que Jesus tem por Vieira. Sobre o cumprimento do contrato no final da época se verá...
O clássico do Dragão
Ahistória do último FC Porto-Sporting, sobre o qual já quase tudo se escreveu e disse, foi resumido em duas frases, com eloquente fidelidade, pelo jornalista António Simões, na edição de anteontem do jornal A BOLA, ao escrever que Marchesín só precisou de uma saída para intimidar Matheus Nunes e que ao FC Porto faltou Taremi, traduzindo com esta simplicidade a preocupação defensiva que caracterizou a estratégia leonina e a inoperância atacante portista.
Em jogo de fortes emoções, o FC Porto foi quem mais porfiou, e só não teve sucesso por causa do desacerto do avançado iraniano em várias ocasiões, aliado ao notório subrendimento de Marega e à fadiga de jogadores nucleares, como Corona, Otávio ou Sérgio Oliveira, todos eles a acusarem excesso de quilómetros nas pernas em ritmo muito exigente, por força de um calendário terrível que está a deixar marcas por todo o lado e que, como se compreende, prejudica sobremaneira os que perseguem mais ousadas ambições desportivas, como é caso do dragão, sério pretendente a passar aos quartos de final da Liga dos Campeões.
Sérgio Conceição tem razão quando afirma que a sua equipa foi a que mais procurou a vitória, o único desfecho que lhe interessava. Uma equipa muito espremida, alicerçada em doze ou treze elementos retirados de um plantel em que falta qualidade à quantidade. O treinador portista muito tem feito com pouco. Não faz milagres, mas quase. No entanto, há uma altura em que a corda, de muito esticada, não aguenta mais e parte.
RÚBEN AMORIM tem igualmente razão, e este jogo confirmou como tem sido lúcido e inteligente o seu discurso construído de mil cautelas, identificando melhor do que ninguém as virtudes e os pecados do grupo de jogadores que superiormente trabalha. A vitória seria ótima, mas, nesta longa e árdua corrida de 34 jornadas, não poderia fechar-se a porta ao empate e quando foi chamado a decidir não teve a menor dúvida em optar pela via segura.
Na conferência de Imprensa, foi esclarecedor nas explicações que deu e quem esteve minimamente atento ficou a perceber de uma vez o porquê da sua relutância em adiantar pormenores que a prudência não lhe recomenda, motivo pelo qual só vai declarar o favoritismo ao título quando a conquista desse supremo objetivo for uma certeza. Nove pontos de vantagem, ainda com 39 por disputar, representam confortável respaldo, não mais do que isso. Penso que foi esse o principal ensinamento que Rúben Amorim extraiu deste clássico: a confirmação do que ele já sabia…