Oxalá!
QUAL é de momento o mais forte, o FC Porto ou Benfica? E o que vai decidir este o jogo? O título? Como pode o Benfica superar o maior adversário das últimas três décadas? E que FC Porto podemos esperar após viver talvez o pior período da época?
O FC Porto parece-me ser de momento, e ainda, em quase tudo, o mais forte. É a equipa mais experiente; fisicamente a mais dura de roer; a mais combativa e mais intensa em todos os momentos do jogo; a mais forte no jogo aéreo; a mais perigosa nas bolas paradas; tem ainda o guarda-redes de maior classe, os centrais mais experientes e mais fortes da Liga e os atacantes mais guerreiros. Ah, e joga em casa, onde em mais de 80 anos apenas perdeu… 13 vezes para o Benfica!
E o Benfica? Está condenado a perder?
O Benfica é, agora, uma equipa que se reconstrói; e se altera; e se recria. E melhora, de jogo para jogo. E a que joga, de momento, talvez o melhor futebol, o mais criativo, o mais elaborado, num certo sentido até, sem dúvida o mais espetacular. Mas que está ainda, e de novo, a aprender a fazer bem as coisas, depois de meses a fazê-las mal, ou mais vezes mal do que bem. E está ainda, e de novo, a crescer, e a aprender a ser mais equipa, mais segura, mais equilibrada, mais consistente e mais regular. E a aprender ainda, e de novo, a ser mais forte na pressão e na recuperação da bola. E a fazê-lo ainda, e de novo, mais vezes no meio-campo adversário. Para ganhar mais depressa a bola e, com a bola, mais depressa finalizar os ataques.
Mas é ainda o FC Porto a equipa mais sólida. E, repito e sublinho, a equipa fisicamente mais forte e, por isso, mais capaz de ganhar os duelos de que são feitos os jogos de futebol. E com uma presença física igualmente mais forte no setor defensivo e no setor atacante. E isso ainda faz, evidentemente, muita diferença. Como comparar, nesse particular, jogadores como Marega e Soares com jogadores como Seferovic e João Félix, por exemplo? Ou jogadores como Pepe e Felipe com jogadores como Rúben Dias e Ferro? Responde o Benfica com maior virtuosismo, sim, e se souber, ou puder, a equipa encarnada, como antigamente tanto se dizia, meter a velocidade na técnica ou a técnica na velocidade, então pode a águia aspirar, realmente, a discutir o jogo como talvez nunca o tenha conseguido nos últimos anos, exceção ao confronto de 2014, que o Benfica venceu, com Jorge Jesus ao leme, num jogo demasiado tático e metido numa... caixa de fósforos.
Agora, acredito que o jogo será mais aberto. É pelo menos o desejo dos que gostam de bom futebol.
Claro que o FC Porto, por jogar com dois resultados - o empate servirá sempre mais aos dragões -, poderá permitir-se a controlar mais o jogo do que a atacá-lo, porque na realidade é o Benfica que mais obrigado está a procurar vencer.
Não está, porém, como se sabe, no sangue do FC Porto apenas o controlo do campo; o FC Porto gosta de mandar no jogo, de o dominar, de o acelerar e esticar consoante a conveniência, o minuto que se joga ou o resultado.
A alguns, parecerão elogios a mais a este FC Porto que Sérgio Conceição tão bem soube transformar no campeão nacional, mas apesar de ter recentemente vivido talvez o seu pior momento da época - que, pelo menos um, todas as equipas têm -, a verdade é que, além de campeão nacional, o FC Porto é o líder da Liga, joga em casa, e tem sido nos últimos largos anos quase sempre superior nos confrontos com o grande rival.
Já agora, e para lembrar os, porventura, mais distraídos, se em mais de 80 anos o Benfica apenas venceu 13 vezes na casa do FC Porto, por que diabo de razão teria este Benfica de Bruno Lage, desta vez, eventual maior responsabilidade de regressar vitorioso a Lisboa?
Não merecem, aliás, estes jogadores do Benfica, sobretudo os mais jovens, nem merece este treinador, que tão serenamente tem procurado reabilitar a equipa e reencontrá-la com o seu destino, ir o Estádio do Dragão com uma espada sob a cabeça. Nem merecem sentir-se condicionados pelo peso da responsabilidade de terem de ganhar se querem recuperar o título.
Merecem, sim, esta equipa e este treinador, que tão bom trabalho têm vindo globalmente a fazer desde que começaram, há dois meses, a caminhar juntos, ir ao Estádio do Dragão jogar simplesmente uma grande partida de futebol, mas jogar o que os jogadores gostam de jogar, o que souberem jogar e, evidentemente, o que puderem jogar diante de um adversário de espírito fortíssimo e fisicamente mais poderoso.
Creio mesmo que se alguma possibilidade terá este Benfica de vencer, amanhã, no Porto, será jogando o seu jogo, o jogo que tem vindo a jogar e não o jogo do adversário, que é, como atrás referi, um jogo mais forte em quase todos os capítulos menos, talvez, no da criatividade técnica, digamos assim, e da rapidez de execução, se pensarmos, muito em particular, no passe de Gabriel - que parece ter no pé esquerdo a mão direita do Benfica -, no ritmo de Grimaldi, na geometria de Pizzi, na velocidade de Rafa, na magia de João Félix ou na espontaneidade de Seferovic.
Reponde, naturalmente, o FC Porto com os pesos pesados no eixo da defesa e na linha atacante - mais ainda se jogar, como creio que jogará, Marega -, mas sobretudo com o caráter, qualidade, competitividade e intensidade de Herrera - que enorme capitão ele é! E que enorme treinador em campo ele se revela! -, o fantástico talento de Brahimi - em absoluto, o melhor jogador da equipa - a imprevisibilidade e técnica de Óliver - que Sérgio Conceição, em boa hora, soube puxar para cima - e esse admirável lateral - sou absolutamente fã - que é Alex Teles, um dos mais importantes jogadores do FC Porto no que diz respeito à palavra-chave do futebol moderno: equilíbrio!
O FC Porto é, além disso, uma equipa testada em todos os terrenos, em toda a espécie de combates, em todos os cenários. Sabemos como reage. Sabemos como joga. Sabemos como está sempre inteiramente disponível para o combate. Sabemos que se levanta rápido sempre que tropeça. E sabemos que rara e dificilmente cai.
O Benfica não. Ou melhor, este Benfica não. Falta ainda testá-lo verdadeiramente sob fogo cerrado. E falta saber como reagirá se tropeçar. Do mesmo modo que falta saber o que fará Bruno Lage quando as coisas - porque um dia, inevitavelmente, vai acontecer - correrem mal.
Está na cara que tem, para já, Bruno Lage tremendo mérito no que está a fazer com e da equipa do Benfica. Notável mérito do ponto de vista tático, mas também de atitude, rigor, disciplina, criatividade e compromisso em campo. Não está apenas a surpreender pela convicção com que aposta nalguns jovens; Lage recuperou, de uma assentada, Samaris, Gabriel e Corchia, por exemplo, três jogadores que pareciam já não contar para o totobola. E mudou ainda a forma de a equipa encarar o que precisa de fazer em campo: quanto melhor souber pressionar, quando mais pressionar e quanto mais equilibradamente o fizer, mais dominadora e mais segura será, mais depressa e mais próximo da área adversária poderá recuperar a bola e mais depressa conseguirá criar condições de chegar ao golo e de ganhar os jogos. Simples, não é? Mas é, pelos vistos, preciso ter-se nascido para treinador (como penso que nasceu Bruno Lage) para se levar uma equipa a fazê-lo. Como sempre relembram os maiores campeões, só talento não chega; é preciso muito trabalho!
Há anos, aliás, que o FC Porto vive desse espírito; veremos se o renovado Benfica de Bruno Lage o quer mesmo reconquistar. Se assim for, o jogo promete. Oxalá!
PS: Como se previa, o Sporting atravessa muito delicado momento financeiro. O problema maior pode ser agora conjuntural, mas parece inquestionável que a dificuldade será também estrutural, porque sem as tão faladas receitas extraordinárias continuará a ser impossível - para qualquer dos grandes clubes nacionais, aliás - equilibrar o que se recebe com o que se gasta. E as receitas extraordinárias são isso mesmo, extraordinárias - nunca se sabe quando chegam e nunca se sabe quanto valem.
Talvez valha a pena, por isso, a pergunta: e que tal o Sporting ser o primeiro dos grandes a perguntar aos sócios se aceitam abrir mão da maioria do capital da SAD a favor de investimento estrangeiro? Não será essa, mais tarde ou mais cedo, a única (ou pelo menos a melhor) solução para uma equipa da grandeza do Sporting poder recuperar a capacidade de competir ao mais alto nível, cá dentro e lá fora?
Como vão querer os principais clubes portugueses estancar os passivos e diminui-los? Apenas a formar jogadores e a vendê-los? Para termos uma Seleção cada vez mais forte no mundo e clubes cada vez mais fracos internacionalmente? Como a Bélgica, que volta a ter uma seleção muito forte mas continua a ter um campeonato muito fraco? E como vão os portugueses querer ser competitivos lá fora se vão passar a vida a vender os principais anéis?
Repare-se: apesar do extenso mercado onde se move, onde estaria a Premier League sem o dinheiro norte-americano, russo, árabe, asiático ou judeu? Seria a melhor Liga do mundo, como parece ser hoje reconhecida?