Os três que aí vêm
Liverpool no Dragão, Barcelona na Luz, Dortmund no estádio mais ‘quente’ da Alemanha: três pesos pesados da Champions para os três grandes
NA próxima semana, os três grandes começam a definir o seu futuro na Liga dos Campeões contra três verdadeiros pesos-pesados da Europa: Liverpool, Barcelona e Dortmund. Um belo programa que certamente prenderá a atenção de milhões de adeptos portistas, benfiquistas e sportinguistas. A anteceder o prato principal (como gosta de dizer o nosso companheiro Jorge Pessoa e Silva n’ A BOLA TV), os três grandes jogam para o campeonato: Sporting-Maritimo e Gil Vicente-FC Porto na sexta-feira; V.Guimarães-Benfica no sábado.
Detenhamo-nos então na Champions, a competição onde realmente se percebe o estatuto e ordem de grandeza de cada clube no futebol continental. Na terça-feira, o FC Porto (1 ponto) recebe o Liverpool (3) no Dragão e o Sporting (0) joga no Westfalenstadion de Dortmund (3), onde moram os adeptos mais animados da Alemanha e a maior bancada do futebol europeu, a monumental südtribune (capacidade: 25.454), que, em certos momentos, chega a parecer uma entidade viva. Na quarta-feira, o Benfica (1) recebe o Barcelona (0) na Luz. Os resultados que fizerem serão muito importantes tendo em conta o que se segue: dois jogos com o Milan para o FCP; dois jogos com o Besiktas para o SCP; dois jogos com o Bayern para o SLB. No rescaldo da primeira jornada, percebemos que o FC Porto, pelo que mostrou em Madrid (0-0), vai lutar até ao fim pela qualificação no chamado grupo da morte, como aliás tem sido hábito; que o Sporting, brutalmente goleado em casa pelo Ajax (1-5), ainda não tem estofo para estas andanças; e que o Benfica (0-0 em Kiev), passageiro frequente da fase de grupos, continua longe do futebol e, sobretudo, da atitude das equipas de topo da Champions.
Vamos aos jogos. Dragão, terça-feira: é um combate de pesos-pesados. O maior clube português na Europa contra o maior clube britânico na Europa. Não é preciso dizer mais nada. Sérgio já foi eliminado duas vezes por este Liverpool (2018 e 2019) e por duas vezes foi rotundamente goleado em casa por Salah e c.ª (0-5 e 1-4, as maiores derrotas europeias do FCP na Invicta). O Liverpool, que lidera a Premier League (com o Chelsea e o Man. United) dispensa apresentações. Refeita a defesa com os regressos dos lesionados Van Dijk, Gomez, Matip e a inclusão do reforço Konaté, os reds apresentam melhorias notórias e estão a caminho do futebol trepidante que fez deles a melhor equipa do Mundo em 2019 e 2020. Suspeito que vão colocar problemas terríveis à melhor versão do FC Porto - a da Champions - mas estou à espera de ver o exército de Conceição bater-se com esse misto de carácter, autoconfiança e compromisso que fazem do FCP, independentemente do plantel, uma das equipas mais combativas e personalizadas da Champions.
O jogo do Sporting é o que suscita maiores angústias, apesar da boa resposta no Estoril ao descalabro do Ajax. Porque é em Dortmund, no tal estádio onde a bancada mexe; porque os leões perderam de goleada quatro dos seis últimos jogos europeus (0-3 e 1-4 com o LASK Linz; 1-4 com o Istambul BB; 1-5 com o Ajax); porque o Dortmund tem um poder ofensivo devastador no jovem trio Erling Haaland-Jude Bellingham-Donyell Mallen (só Haaland marcou 11 golos nesta época…). Porque o Sporting, cumpre lembrar, nunca conseguiu ter expressão na Champions - nem neste modelo, nem no anterior. Não há mal que dure sempre, mas parece-me que o Westfalenstadion não será o lugar mais propenso a redenções. Era bom que estivesse enganado.
Finalmente, quarta-feira na Luz. Benfica-Barcelona, outro cartaz de arromba. O segundo maior clube português na Europa contra o segundo maior clube espanhol na Europa. Foi precisamente contra o Barcelona, na noite de 31 maio de 1961, no estádio Wankdorf, em Berna, que o Benfica começou a construir a sua lenda na Taça dos Campeões Europeus. Triunfo épico por 3-2 na final, a valer o primeiro dos dois títulos europeus encarnados. Foi a primeira vitória do Benfica sobre o Barcelona (seguiram-se mais seis jogos, sem sucesso) e os adeptos estão à espera de um novo triunfo há mais de 60 anos. Talvez tenha chegado a altura. Dado o excelente momento do Benfica e a crise profunda que o Barcelona atravessa - um clube falido, dorido, sem Messi e com a equipa desfalcada de vários jogadores importantes: Pedri, Jordi Alba, Dembelé, Ansu Fati, Aguero e Braithwaite - há realmente uma oportunidade única de bater o colosso catalão - assim Jorge Jesus faça o que tem de fazer!
JOÃO FÉLIX: QUE TAL VARIAR?
CONTAM-SE pelos dedos as boas notícias sobre João Félix nos últimos dois anos. A promessa continua a não passar disso (na realidade, o trajeto no Atlético tem sido mais descendente que outra coisa: agora é suplente), e mesmo descontando as lesões e respetivas paragens e os casos (este último, com o árbitro Gil Manzano, valeu-lhe suspensão de dois jogos) já vai sendo tempo de dizer que o miúdo que maravilhou os adeptos benfiquistas na segunda metade da época de 2018/2019 (foi decisivo na incrível campanha do título de Bruno Lage) tem sido uma deceção com d grande no futebol espanhol - muito por força dos 126 milhões que custou e não justificou. É verdade que Félix, em Portugal e nuns quantos jogos pelo Atlético Madrid, mostrou ter talento acima da média. Mas terá ele o que é preciso para ser um jogador de nível internacional a sério (não apenas na imprensa portuguesa e nas contas do Transfermarkt)? Terá ele o carácter, a personalidade, a determinação, o compromisso, a resiliência, a vontade de «comer o Mundo» (como gosta de dizer Guardiola) que é típica dos jogadores de topo?
… Terá?
Esqueçam o estilo do Atlético que não o favorece, a eterna teimosia de Simeone, a posição onde o põem a jogar e que nunca é a dele. Caramba, tanta desculpa já cheira mal! Os verdadeiros craques impõem-se onde, como e contra quer que seja (lembro a afirmação explosiva do miúdo Paulo Futre, com 21 anos, no Atlético Madrid, em 1987; assim como, mais recentemente, a entronização instantânea e enfática de Bruno Fernandes no insípido/errático Man. United de Solskjaer). Os verdadeiros craques chegam e dizem ao que vêm, não demoram dois anos a anunciar-se. Os verdadeiros craques são fiáveis, consistentes e pesam em continuidade. Desequilibram. Decidem. Fazem constantemente a diferença. Como Kylian Mbapée e Erling Haaland, só para citar dois miúdos da faixa etária de Félix.
João anda há dois anos a marcar passo no Atlético e na Seleção, onde, em boa verdade, deixou de justificar as chamadas. Que tal, para variar, despir o fato de estrela-de-126-milhões e tentar jogar futebol a sério (como o que jogou entre janeiro e maio de 2019 aqui na paróquia)?