Os três erros de Lage
Bruno Lage errou na forma como abordou o clássico do Dragão. A esta distância - bem sei que é fácil falar depois de saber o resultado final, mas as coisas são como são e todos, em tudo na vida, somos avaliados pelos resultados das nossas opções - fica claro para toda a gente que Cervi deveria ter entrado de início. Não tanto por uma questão de contenção - embora também por aí, porque toda a gente sabe que Corona é, por estes dias, um dos jogadores (se não mesmo O jogador) que mais desequilibra neste FC Porto e Rafa não gosta particularmente de estar amarrado a tarefas defensivas -, mas mais por uma questão de afirmação. Eu explico: o Benfica entrou no Estádio do Dragão com sete pontos de vantagem para o FC Porto e com uma possibilidade rara (nunca vista nos últimos 35 anos, pelo menos...) de matar o campeonato a 14 jornadas do final. Ia, portanto, confortável como quase nunca fora a casa daquele que é, hoje, o seu principal rival. Devia, portanto, ter pisado o relvado com a superioridade natural de quem vinha provando ser melhor, fazendo o seu jogo sem dar demasiada importância ao sistema do adversário. Pelo contrário, a preocupação devia estar inteirinha do lado de Conceição, que tinha, de facto, muito a perder neste jogo em que uma derrota significaria o adeus definitivo à possibilidade de lutar pelo título.
Mas Bruno Lage deu demasiada importância ao meio-campo do FC Porto. E caiu na tentação de lançar Chiquinho como uma espécie de terceiro médio, de forma a, pensou ele, equilibrar esse setor na luta com Sérgio Oliveira, Uribe e Otávio. Não só não funcionou, porque foi o FC Porto aí superior durante quase todo o jogo - embora de forma mais expressiva nos primeiros 45 minutos -, como acabou o treinador do Benfica por, encostando Rafa à esquerda, tirar poder ofensivo e defensivo à águia. Foi, portanto, um Benfica de reação em vez de ação. E pagou caro por isso.
Bruno Lage errou também na forma como tentou chegar ao empate. Numa altura em que o Benfica estava por cima do adversário, escolheu o treinador lançar Dyego Sousa para o relvado, quando já lá tinha Seferovic e Carlos Vinícius. É uma tática antiga em que alguns treinadores caem, ainda, na tentação de recorrer, ignorando que raramente (muito raramente, atrevo-me até a escrever...) funciona. Como, de resto, ficou mais uma vez à vista no Dragão, uma vez que não mais o Benfica conseguiu criar os problemas que estava a criar a um FC Porto que dava, até então, sinais de enorme intranquilidade. Repito: é fácil falar depois de se saber o resultado, mas é assim com todos, em tudo na vida.
Bruno Lage errou uma terceira vez no clássico do Dragão. E este será, talvez, o mais incompreensível dos seus erros. Ao intervalo não deveria haver benfiquista que não esperasse ver o seu treinador a corrigir o lapso inicial, deixando Chiquinho no balneário, passando Rafa para o meio e lançando Cervi. Que regressasse, em suma, à fórmula que melhor tem funcionado - tanto a nível de resultados como a nível exibicional. Fazia sentido, até porque se não tinha, o treinador encarnado, nada a perder no início do jogo muito menos podia perder ao intervalo, quando já perdia por 1-3.
Optou, por alguma razão que apenas ele pode explicar, Bruno Lage por deixar tudo na mesma. Aliás, não fez o que parecia mais lógico nem no início da segunda parte nem nunca, uma vez que Cervi não chegou, sequer, a sair do banco, o que é, convenhamos, no mínimo estranho tendo em conta que o argentino, goste-se ou não dele, tem sido - sem margem para grandes dúvidas como, de resto, as bancadas da Luz têm reconhecido - um dos jogadores mais influentes no Benfica. E um clássico no Dragão, decisivo ou não mas ainda mais um que podia, de facto, decidir o título, é para ser jogado pelos melhores. E Cervi tem sido um dos melhores.
Bruno Lage é o treinador do Benfica e tem, claro, direito a tomar as opções que muito bem entender. Tem até, pelo que conseguiu fazer na última época, créditos mais do que suficientes para fazê-lo mesmo quando ninguém as compreende. E quem está de fora tem, naturalmente, o direito de as questionar. Acredito que, mais a frio, e por ser um homem que gosta de falar de futebol, acabará por explicar as suas opções numa derrota que começou - e não é crime assumi-lo, só não erra quem não tem de decidir... - a ser desenhada na sua cabeça.