Os planos e a realidade
Ninguém sabe quando e como acabará a época 2019/2020. É impossível sabê-lo quando ninguém sabe quando começarão as medidas impostas um pouco por todo o Mundo - há algumas e incríveis exceções, com custos que doem só de prever - contra o Covid-19 a inverter o sentido de uma guerra que só podemos ganhar se usarmos com inteligência as únicas armas que, por ora, temos à disposição para vencê-la: paciência e resiliência.
Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, veio a público garantir ontem ter três planos preparados: a) recomeçar as competições em meados de maio; b) recomeçar as competições em início de junho; c) terminar esta época a partir do fim de junho e estendê-la até agosto, quando a próxima devia arrancar. Percebe-se, como já se percebera aquando do anúncio do adiamento do Euro-2020, que a grande preocupação da UEFA é garantir que esta temporada se conclua mesmo, evitando decisões na secretaria que provocariam enormes prejuízos financeiros e divisões brutais entre clubes - que é tudo aquilo de que o futebol não precisa nunca, muito menos nestes tempos em que se pede união. Deixemos, pois, de lado as dúvidas sobre se a época acabará mesmo, porque isso nem se coloca. Sim, é verdade que a Federação Portuguesa de Futebol deu por encerradas (e muitíssimo bem, diga-se) todas as competições jovens por si organizadas, mas uma coisa é anular competições referentes a escalões de formação, outra é fazer o mesmo quando há muito mais em jogo - basta ver os aplausos que esta decisão motivou por parte dos clubes e, logo a seguir, os reparos que mereceu dos emblemas do Campeonato de Portugal a mera hipótese de o mesmo acontecer nos seniores...
Centremo-nos, portanto, na única possibilidade em cima da mesa - terminar de qualquer forma 2019/2020 - e nos planos traçados pela UEFA para que isso aconteça:
a) recomeçar as competições em meados de maio. Era esse o cenário preparado quando se tornou oficial o adiamento do Europeu para dar primazia às provas internas. E o que menos transtornos traria, já que permitiria acabar a época até 30 de junho. O problema é que daí para cá as previsões mudaram e esse parece um prazo cada vez mais irrealista. Em Portugal aponta-se o pico do contágio para meados ou finais de maio, cenário que parece aplicar-se também a Espanha, Itália, Inglaterra ou França. Não parece, pois, uma estimativa realista;
b) recomeçar as competições em início de junho. É, caso se confirmem as expectativas - o que não é certo -, o plano com mais pernas para andar neste momento. Mas obrigará a cedências. A começar por parte de jogadores e treinadores, com contratos assinados até 30 de junho que teriam de ser, de alguma forma, estendidos. E talvez se estenda a clubes, uma vez que a ideia de terminar 2019/2020 a tempo de recomeçar 2020/2021 nas datas normais forçará a encontrar modelos novos que permitam que as decisões - títulos, apuramentos para as provas da UEFA, subidas e descidas - sejam concluídas de forma mais célere do que realizando as jornadas em falta. A época acabará, mas em moldes diferentes dos habituais.
c) Recomeçar no fim de junho e estendê-la até agosto. É um cenário que não deve ser descartado, dependendo do que acontecer nos próximos meses. Mas será o plano que mais questões suscitará. Além dos pormenores relativos aos contratos, há também o mercado de transferências, que deixaria de funcionar nas circunstâncias habituais. E há, talvez ainda mais importante, a questão do calendário. Com o Euro-2020 já empurrado para o verão de 2021, a próxima época, que teria de começar lá para outubro, seria mais curta? Ou será que a sugestão de André Vilas Boas é mesmo possível e teremos, nos próximos anos, a Europa com calendários com base no ano civil?
Há, de facto, muito para resolver. Mas uma coisa é, hoje, certa: com o plano a cada vez mais distante, tudo será, diferente quando o futebol voltar. Resta saber quão diferente será...