Os jogadores
O Supremo Tribunal dos EUA declarou inconstitucional a lei que, com exceção do estado do Nevada, proibia apostas desportivas no país. Decidiu a favor do estado de Nova Jérsia, que em 2012 aprovara lei legalizando as apostas e que se debatia contra ações de NCAA, NFL, NBA, NHL e MLB, ligas que consideram que a deliberação do Supremo descerrará a manipulação de jogos para benefício de apostadores.
Esta noção, agora legalmente ultrapassada nos EUA, é conservadora, mas a verdade, julgo, é que a conexão entre a facilidade das apostas e o desporto tem sido, sim, arriscada. Se por um lado as competições e clubes têm patrocínios do setor (a Premier League tem ligação indivisível, no patrocínio e na publicidade), por outro abre-se um espaço para uma amoralidade que, na América, atemoriza, receando-se que os jogos se tornem só um pretexto para apostas.
Ademais, pelos apanhados em esquemas de apostas se tem percebido a simplicidade com que um só jogador pode condicionar desfechos coletivos. Bastará recordar os casos singulares de Wayne Shaw (aquele guarda-redes que foi comer uma sanduíche atrás da baliza porque sabia que alguém o apostara…) ou Joey Barton, o rebelde que investira em 1260 jogos, incluindo cinco onde atuou, antes de ser banido. Pode acreditar-se que pessoas assim podem ser facilmente encontradas num mundo inteiro e com isso tem despertado a paralela frente de corrupção, latente, bem como as investigações judiciais em todo o planeta. Em Portugal, no mínimo, as sombrias suspeitas e os desavergonhados indícios também correm tudo de fio a pavio.
Terminando: porque alguns valem ganhos e outros facilitam derrotas, todos os jogadores se tornam alvo. Primeiro, dos criminosos que os tentam; segundo, do público que pode precipitar-se a interpretar qualquer incapacidade ou má sorte como jeitinho. Dessa forma são jogados em vez de ser jogadores.