Os bons jogadores e os maus atores
A simulação da falta é uma praga no futebol português. Uma atitude antidesportiva que afeta a qualidade de jogo. Uma fraude ao espectador
D ECORRIA a primeira parte do clássico FC Porto-Sporting, no Dragão, quando o defesa-central belga do Benfica, Jan Vertonghen, não resistiu a comentar nas redes sociais a catadupa de cenas teatrais de jogadores falsamente lesionados por faltas virtuais do adversário. Também eu me irritei com o que via de falsificação do jogo e que retirava qualidade e intensidade a um espetáculo que prometia. Enquanto adepto de futebol, sentia-me enganado e, durante algum tempo, mais incomodado com isso do que o árbitro. Felizmente, em cima da meia hora de jogo, o árbitro Nuno Almeida decidiu agir e, enérgico, mostrou um cartão amarelo a Evanilson, por um disparatado mergulho na área do Sporting.
A partir daí, o jogo ganhou alguma decência, mas nessa primeira meia hora chegou a ser devastador para a imagem de seriedade competitiva do futebol português. Ao contrário do que escreveu o meu amigo e competente comentador de arbitragem Duarte Gomes, não acho que ficaram «por marcar algumas faltinhas». Na minha perspetiva foram marcadas faltinhas a mais, sendo que é verdade que Nuno Almeida, com o tempo, foi corrigindo a tentação de apitar a tudo o que mexe, como tantas vezes acontece com os árbitros portugueses... quando arbitram em Portugal.
Poder-se-á dizer que a verdadeira culpa estará nos jogadores que se vestem a si próprios de atores, seja por iniciativa própria, seja por estratégias encomendadas de cima. Porém, é sempre ao árbitro que compete a interpretação dos lances e se tiver um mínimo de qualidade e de autoconfiança não lhe será difícil distinguir um padrão de fingimento que algumas equipas e, sobretudo, alguns dos seus jogadores, utilizam habitualmente em jogo, procurando influenciar as decisões sobre os lances, criar, artificialmente, faltas junto à grande área do adversário (às vezes, até penáltis em que são bem sucedidos) ou travar o ritmo de jogo, quando a sua equipa precisa de pausas para respirar.
Todo este tipo de comportamento antiético se reflete na qualidade do espetáculo, na atitude antidesportiva, no intuito de enganar o árbitro para favorecer a sua equipa, na drástica diminuição de tempo de jogo útil e, por fim, na fraude ao espectador, que deve merecer o respeito maior de todos os protagonistas que, afinal, por eles são pagos.
Há, hoje em dia, casos coletivos e individuais no futebol português que se tornaram significativas caricaturas dessa arte menor de enganar o árbitro em todo o campo. Todos os adeptos de futebol mais atentos saberão dizer alguns nomes, que terão na ponta da língua, e os árbitros, que devem saber fazer o seu trabalho de casa, antes de irem para os jogos, também sabem e não podem dizer que não estão avisados. Correm o risco de serem injustos e de, por vezes, se tornarem mais intolerantes e poderem errar na análise dos lances desses jogadores mais viciados? Admite-se que sim, e não será isso que se pretende, mas, a acontecer um erro, que tenha, ao menos, um significado didático.
Vertonghen terá procurado fazer chegar esse seu desabafo à FIFA, referindo, mesmo, que o futebol ganharia com a contagem do tempo útil de jogo, por cronómetro, como acontece em outras modalidades. Talvez tenha sido exagerado em propor um cartão vermelho para cada simulador de um penálti, mas é inevitável que os responsáveis pela organização das provas profissionais do futebol português assumam definitivamente as suas responsabilidades na melhoria do espetáculo e na qualidade do jogo. Sei que há sinais positivos em marcha, pois que se concretizem rapidamente.
TALVEZ O CÉU SEJA VERDE
Adeus SAM, querido e bom amigo Sérgio Abrantes Mendes. O supremo árbitro achou que não podia dar mais algum desconto de tempo e, por cá, nós ficámos tristes. O jogo nunca mais terá a mesma graça, a mesma ética, o mesmo sentido de delicadeza que, afinal, a justiça pode ter. Depois do excelente editorial do José Manuel Delgado, pouco ou nada ficou por dizer. Talvez, apenas, que já saibas que andamos todos enganados e que, para teu maior deleite, afinal o Céu seja verde, a cor da tua paixão e que será sempre a cor da tua memória.
O PCP, A RÚSSIA E A HISTÓRIA
Parece que é muito difícil de explicar ao Partido Comunista Português que nem a Rússia já é comunista, nem Putin quer ser o líder da classe operária. Daí que a solidariedade revolucionária e internacionalista do PCP não só não faça qualquer sentido como se torne confrangedora, inútil e até penosa. Porque o PCP, como a grande Rússia, tem uma História e vai-se tornando cada vez mais evidente que nem um, nem outra são, hoje, merecedores dela, porque nenhum governo e nenhum Partido têm razão contra o seu próprio povo.