Os alarmes estão a tocar

OPINIÃO20.10.202206:30

Só por sorte não haverá mais lesões até ao início do Mundial, pelo quanto se joga e pelo que se joga. Portugal perde com a ausência de Diogo Jota

E STAMOS precisamente a um mês do início do Mundial do Catar e os alarmes começam a tocar nos gabinetes dos 32 selecionadores. Porque ao contrário do habitual, as semanas que antecedem o pontapé de saída prometem ser de uma intensidade brutal, com custos evidentes. As lesões já começaram a aparecer e por muito cuidado que haja dos treinadores e dos jogadores, mais baixas poderão surgir nos próximos tempos. Porque se em maio já se sabe, pelo menos, quem não vai ganhar (campeonatos, taças, competições europeias), o mesmo não se pode dizer em outubro e novembro e por isso não há espaço nem legitimidade para gestão e mitigação de riscos. São muitos jogos com intervalo curto de descanso e é sempre a abrir. Quem assistiu ao Liverpool-Manchester City do último fim de semana, por exemplo, não pode ficar surpreendido com a lesão de Diogo Jota. Foi um jogo, como tantos outros, de uma gigantesca força centrifugadora e por muito qualificados que sejam os departamentos médicos e de performance dos clubes, há aqui uma questão de sorte e azar a ter em conta, mais ainda do que nos Mundiais ou Europeus em época estival. Da maneira como se joga e do quanto se joga, as seleções mais aptas a vencer no Catar serão aquelas que conseguirem escapar a esta ameaça que paira em cada relvado, em cada fim de semana, em cada noite europeia.
Se este Mundial já é especial pelo simples facto de se jogar no inverno, é-o também por ser, muito provavelmente, o último Campeonato do Mundo de Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Luca Modric, Karim Benzema, Gareth Bale e Luis Suárez. É uma competição que nenhum adepto do futebol quer perder e, seguramente, que nenhum destes elementos do esquadrão Marvel pretenderá abdicar. Daí resultar como única vantagem para Portugal a menor utilização de Ronaldo no Manchester United: chegará ao Médio Oriente ligeiramente mais fresco do ponto de vista físico.
Fernando Santos deve estar muito preocupado com a baixa de Diogo Jota. O avançado do Liverpool pode não ser um daqueles jogadores que faz um adepto pagar um balúrdio por um bilhete, mas é um daqueles que qualquer clube pagaria uma fortuna para tê-lo. Excetuando Cristiano Ronaldo, era o jogador da Seleção com melhor relação com o golo e com mais peso na área. Foi, depois do Euro-2020, aquele com maior intervenção ofensiva do ponto de vista dos golos e assistências, mais que CR7, o que diz muito sobre o crescimento de DJ numa das melhores seleções do mundo.
Igualmente alarmante para Portugal é notar que, do lote dos avançados prováveis na convocatória, o golo é um corpo estranho na temporada em curso. Se o próprio Diogo Jota tinha 1 golo e 6 assistências em 13 partidas (clube e Seleção), os registos dos outros não são inspiradores: Ronaldo tem 4 golos e 2 assistências em 17 jogos, João Félix tem 0 golos e 3 assistências em 13 jogos, André Silva soma 4 golos e 5 assistências em 19 partidas. Rafael Leão, o português melhor classificado no ranking da Bola de Ouro, soma 4 golos e 7 assistências em 19 jogos - menos um golo que Beto (ex-Portimonense), da Udinese, que já marcou 5 golos em 10 encontros. Os registos mais interessantes acabam por ser de dois jogadores que atuam em Portugal: Ricardo Horta (6 golos e 5 assistências em 18 jogos pelo SC Braga) e Gonçalo Ramos (10 golos e 3 assistências em 16 jogos pelo Benfica). Têm os jogadores mais ofensivos de Portugal uma dupla missão para os próximos 30 dias: ganhar embalo psicológico para chegarem ao Catar mais confiantes e... fugirem às lesões. Nada fácil conciliar isto tudo. 

H Á mais de três anos que um FC Porto-Benfica não se perspetivava, do ponto de vista teórico, tão equilibrado, o que já significa um upgrade para os encarnados. E não deixa de ser curioso que Sérgio Conceição vai ter pela frente Roger Schmidt, um dos bons discípulos da escola alemã contemporânea, aquela em que o treinador dos dragões mais se inspira, a ponto de considerar a Bundesliga o campeonato de referência - já desde os tempos em que o seguia, na televisão, quando jogava no Standard Liège, na Bélgica. Eis um aperitivo para um grande jogo.