Orgulho árabe também entra em campo

Hoje em dia, saber comunicar é essencial ao sucesso. O exemplo dado por Fernando Santos é assinalável. Não fugiu, foi claro, direto, honesto

COMUNICAÇÃO. Hoje em dia, um fator essencial no sucesso de qualquer empresa, de qualquer empreendimento, de qualquer equipa de alto rendimento, seja ela desportiva ou não. E, aqui, Portugal tem, por vezes, jogado contra si próprio. Digo, de propósito, Portugal e não Seleção portuguesa de futebol, porque nesta grandes competições, como é o caso de um Campeonato do Mundo, um povo, sobretudo de um país pequeno e distante dos grandes centros de decisão política, económica, social, acaba por sentir mais o sucesso e o insucesso desportivo, acaba por sentir mais o país, a sua História, a sua cultura nas camisolas que estão em campo vestidas pelos futebolistas.

A extraordinária dimensão da importância que o futebol tem na sociedade portuguesa não é uma questão de interpretação ou de pensamento intelectual, é uma questão de facto e de constatação. Daí que o assunto Cristiano Ronaldo - tema, aliás, bem mais linear do que querem fazer supor - tenha servido de entrada, prato principal e sobremesa de tudo o que é programa televisivo, ilustrado por comentadores diversos, alguns que conhecem, de facto, a realidade e o universo do futebol, e outros que apenas contribuem para um ruído que acaba por perturbar e complicar um entendimento do essencial por parte de quem lê, de quem vê e de quem ouve.

Mesmo dentro da Federação Portuguesa de Futebol tem havido alguma perturbação comunicacional. Peca-se institucionalmente por excesso de zelo e por vontade de agradar a quem manda, mesmo que para isso se trate jornalistas e adeptos como figuras mentalmente diminuídas. Mas, felizmente, também tem havido gente com cabeça e com a noção da responsabilidade, gente inteligente, capaz de abordar problemas mais complexos e suscetíveis, de uma forma clara, honesta e que não deixa pontas soltas para especulações inconvenientes.
 

É justo que se elogie Fernando Santos

Por isso, é justo que se elogie Fernando Santos pela sua frontalidade, pela sua lucidez comunicacional e pela sua exata noção da responsabilidade do cargo que ocupa. A conferência de imprensa concedida ontem, a propósito do jogo, desta tarde, com Marrocos foi absolutamente exemplar.

Excelente a forma como desmontou o enredo novelístico que se formava em relação ao comportamento de Cristiano e à sua representação no elenco teatral. Fernando Santos não se escondeu por detrás de uma qualquer irritação pelas perguntas, condenando os seus autores a demónios antipatriotas. Esclareceu e foi de uma clareza desarmante. Disse o que conversou com Ronaldo, porque conversou, quando conversou e não deixou de revelar que o capitão da Seleção Nacional, como seria normal acontecer, discordou e argumentou no seu direito a um pensamento diferente. Conversaram como adultos, comunicaram como profissionais e, no fim da resposta, então sim, Fernando Santos sentiu o direito de reclamar o foco de todos para a importância do jogo com Marrocos, ajudando a criar uma atmosfera positiva.

Foi bom ouvir o selecionador numa demonstração de sabedoria e de competência profissional, que se estendeu à definição do adversário como uma equipa muito forte e difícil. E é verdade que sim. Marrocos não tem, evidentemente, o mesmo nível de qualidade da França, do Brasil, da Argentina, da Inglaterra, mas tem o que ninguém mais tem: uma ideia única e transbordante de jogar pelo seu país, mas também por todo o mundo árabe, a sua cultura, a sua diferença e a sua honra, perante um mundo que, não raras vezes, o subestima, o diminui, o desvaloriza. E, não esqueçamos, também terá África inteira consigo.  

DENTRO DA ÁREA – UMA TROCA DESPROPORCIONAL 

A basquetebolista profissional norte-americana Brittney Griner (32 anos) que cumpria uma pena de 9 anos numa prisão penal russa por tráfico de droga foi trocada, numa complexa negociação diplomática, pelo traficante de armas russo Viktor Bout, que estava preso numa colónia penal americana, condenado a 25 anos. O crime da basquetebolista americana, que jogava numa equipa russa, foi o de terem encontrado na sua bagagem «azeite de canábis». Quanto a Bout é um dos maiores traficantes de armas do mundo. Uma troca desproporcional...
 

FORA DA ÁREA – MUITA ÁGUA POUCA ÁGUA 

Lisboa ficou inundada por umas horas de dilúvio. Disseram as autoridades que choveu mais em hora e meia do que a média de chuva dos meses de dezembro. Também choveu muito no sul. No Baixo Alentejo (aleluia!) e no Algarve, onde algumas cidades foram afetadas pela chuva. Nas televisões cada canal procurava a sua desgraça exclusiva. Não havia muitas, mas as que havia davam para ser repetidas. O que ninguém repetiu foi a afirmação de um homem da zona de Santarém que garantiu que o Tejo continua sequinho. Alguém explica?