Oportunidades e novos ciclos
Martínez nunca foi treinador de roturas e talvez por isso mesmo tenha sido o escolhido
ESCREVO antes do Luxemburgo-Portugal porque o raciocínio não se altera com o resultado, seja goleada, vitória por margem mínima, empate desinspirado ou desaire escandaloso. Disse, aquando da oficialização, que a ideia que Roberto Martínez traria estaria sempre mais próxima do perfil do grupo do que a de Fernando Santos, que se debateu nos últimos jogos para aproximar o modelo da ambição dos futebolistas. Continuo a acreditar no mesmo, mesmo que já se peça futebol-champanhe a quem chegou há dias e ainda se confunda conceitos básicos como jogar bem e jogar bonito. Porque o que importa não é destroçar Liechtensteins e Luxemburgos, mas sim criar condições para se ultrapassar Argentina, Brasil, França, Alemanha e outros.
No entanto, para mim, perdeu-se, como tantas vezes por cá e não só no futebol, a oportunidade de se abrir novo ciclo, algo que a simples mudança de modelo não assegura. Martínez investiu praticamente tudo na inteligência emocional neste arranque, mostrando-se um tipo acessível e simpático, e merecedor de elogios das bancadas só pelo simples facto de falar português na apresentação oficial e cantar o hino na estreia diante do Liechenstein. Como é óbvio, não é isso que coloca ou não Portugal mais perto de um título internacional.
Martínez nunca foi treinador de roturas. Explica-o a idade avançada dos centrais e a insistência em Eden Hazard no onze titular da Bélgica no último Campeonato do Mundo, mesmo com opções de sobra no banco para ambos os setores. Provavelmente, até terá sido esse respeito pelo status quo uma das razões para ter sido o escolhido, numa altura em que algumas pedras da equipa se aproximam do fim da carreira. O problema é que a questão não é, mais uma vez, a qualificação para o Euro-2024, que conseguirá sempre, porém que equipa se quer ter na Alemanha e no Mundial seguinte.