O teste mais duro

OPINIÃO24.02.202106:00

O Sporting já ‘roubou’ cinco taças ao FC Porto de Sérgio Conceição. Falta o campeonato. Dragão é o teste mais duro… para os dois

N ÃO sei se Sérgio Conceição é supersticioso ou dado a analisar números, tendências e padrões estatísticos. Julgo que não. Mas tenho quase a certeza que ele considera o Sporting um adversário no mínimo indesejável - para não dizer chato. Lembre-se que nos quatro anos de Sérgio no Dragão, o FCP deixou de ganhar cinco títulos (duas Taças de Portugal e três Taças da Liga) por causa de jogos decisivos (finais e meias-finais) perdidos com os leões à beira do fim ou no desempate por penáltis (três vezes!) ou sofrendo penáltis e golos em tempo de desconto. De um modo geral, parece-me que o FC Porto tem sido superior (em jogo jogado) ao Sporting nos confrontos diretos, mas também é verdade que os leões têm arranjado formas de contornar o desfecho anunciado. Nesta época, por exemplo, o FC Porto teve por duas vezes o pássaro na mão e deixou-o fugir. Em Alvalade, para o campeonato, o FCP ganhava por 2-1 a três minutos do fim quando Luciano Vietto empatou, dando expressão à vigorosa segunda parte leonina. Em Leiria, na meia-final da Taça da Liga, o FC Porto ganhava 1-0 a 10 minutos do fim quando o recém entrado Jovane empatou com um pontapé extraordinário. O mesmo Jovane, cavalgando o ímpeto final da equipa, daria a vitória ao Sporting ao minuto 90+4… deixando Sérgio mais uma vez no quase.
Agora é o campeonato que o Sporting quer roubar ao titular FC Porto, impedindo Sérgio de fazer o tri em quatro anos. Graças a um penálti  sobre o filho do treinador portista, o  joker Francisco Conceição, o FCP recebe o Sporting a 10 pontos de distância e não a 12, como chegou a parecer inevitável no jogo do Funchal. As contas são simples: tudo o que não seja vitória portista deixa Rúben Amorim de sorriso aberto e mais perto do título. Para o Sporting, tudo se resume a pontuar, já que com isso garante a manutenção da liderança folgada e, já agora, da invencibilidade no campeonato. Se for o FC Porto a ganhar, o campeonato reabre, mesmo que a vantagem leonina (7 pontos) continue a ser considerável. Mas não faltará quem lembre, e bem, que sete foi a vantagem que FC Porto, em 2019, e Benfica, em 2020, deixaram escapar entre dedos… como areia fina.
Para Sérgio, a meio de uma eliminatória de prestígio com a Juventus (os elogios que lhe dedicou a imprensa italiana…), só o FC Porto versão Champions tem hipóteses de vencer o líder (o que, até agora, ninguém conseguiu…), num embate em que a defesa portista está proibida de ser tão permissiva como tem sido nas competições domésticas. Talvez seja por aí que o jogo se decida. Julgo que o FC Porto tem maior poder de fogo (mais a mais, estado o rival reduzido a Tiago Tomás e Jovane), mas ninguém defende tão bem como o Sporting (menos de metade dos golos sofridos pelo rival: 10-22) que tem em Adán, a meu ver, um guarda-redes tão decisivo como Marchesín - é daqueles que valem muitos pontos.
No momento em que escrevemos não se sabe se Palhinha vai ou não a jogo (curioso a decisão do TAD acontecer em vésperas do clássico), mas sabe-se que Paulinho não vai de certeza. Palhinha será sempre uma baixa de peso, já que neste momento é, provavelmente, o melhor 6 português, com uma influência enorme no jogo leonino. Mas deve lembrar-se que o jovem Matheus Nunes, quando foi chamado à linha da frente no jogo com o Benfica, não se saiu nada mal. Em suma. Jogo do título entre as duas melhores equipas do país, com licença do espetacular Braga de Carlos Carvalhal. O líder imbatível contra a única equipa portuguesa de nível Champions. O teste mais duro para a juventude de Rúben Amorim, que ainda não perdeu qualquer jogo grande. O teste mais duro para o campeão, até pelos antecedentes.
Aqui chegados, só espero que o clássico - e, mais importante, o campeonato - se decida onde é suposto: no relvado, sem interferências  externas. Porque se não for só aí, o Sporting ainda tem muito que penar. Muito, muito…
 

Sporting e FC Porto voltam a medir forças num jogo que pode ser decisivo para o título

A LVO de perguntas incómodas em Inglaterra («está ultrapassado?»; «Não, de todo. De maneira alguma. Zero», respondeu) devido à série negra de seis derrotas nos últimos oito jogos, o único treinador  português com lugar garantido na história do futebol só tem uma hipótese de disputar a próxima Champions: ganhar a Liga Europa. Será José Mourinho capaz de lá chegar? Para mim, a resposta é simples: yes, he can.
A viver em Londres o pior período da sua majestosa carreira (em 75 jogos com os spurs, Mou ganhou 38 e não ganhou 37…), José Mourinho está, não obstante, a fazer uma campanha competente na Liga Europa (oito vitórias e 31 golos em dez jogos) onde, a meu ver, é um dos, senão o grande favorito ao título - ao lado de Man. United, Roma (parto do princípio que elimina SC Braga), Milan, Leicester e Shakhtar. Mourinho sabe que o caminho é por aqui e dará o seu melhor para chegar à final de 26 maio, na Arena Gdansk (Polónia). Se chegar lá, não duvido que a ganhará, como ganhou todas as outras que disputou antes - em 2003 (Sevilha, 3-2 ao Celtic), 2004 (Gelsenkirchen, 3-0 ao Monaco), 2010 (Madrid, 2-0 ao Bayern) e 2017 (Estocolmo, 2-0 ao Ajax). Basta ver como Mourinho se tem referido à (importância da) Liga Europa para se perceber quais são os seus planos para o resto da época, que também incluem uma final da Taça da Liga contra o arquirrival Guardiola no dia da Liberdade (25 abril), em Wembley. Lembro que Mourinho foi uma vez à Taça UEFA e ganhou-a, com o FC Porto. Lembro que Mourinho foi uma vez à Liga Europa e ganhou-a, com o Manchester United - esta é a sua terceira participação completa na segunda divisão europeia (fez um único jogo na Taça UEFA de 2000/2001, com o Benfica).
José Mourinho ganhou 107 dos 193 jogos que fez na Europa. Vai a caminho dos 200, é um dos poucos treinadores que ganhou títulos europeus com três equipas (FC Porto, Inter e Man. United) e aquele que está mais perto de igualar o tetra do rival Rafael Benítez (êxitos internacionais com Valência, Liverpool, Inter e Chelsea). Mourinho ganhou em todo o lado - é o único treinador na história que venceu todas as competições possíveis nos três países mais importantes: Inglaterra, Espanha e Itália - e nem que seja por isso merece o crédito que muitos já não estão dispostos a dar-lhe. Eu acredito que Mourinho, a viver o pior período da sua carreira, estará em Gdansk, no dia 26 maio. Para ganhar a quinta competição europeia em cinco finais.