O ser Messi
PARA o Barcelona parece agora tudo encontrado, Messi ficou depois de ter querido sair. O Barcelona é Messi como jamais foi tão inconfundivelmente outra coisa. Pensemos nos melhores do Mundo e talvez não encontremos outro jogador assim usado, no campo e na alegoria. A afronta ao centralismo madrileno que sempre definiu o emblema da Catalunha, o poder de compra daqueles, galácticos, cresceu em contraponto identitário a este da península. Lá, surgiu uma autoridade para afirmar que os outros só compravam, enquanto eles criavam. Os outros pareciam, eles eram.
O Barcelona teve seis Bola de Ouro, mas só Messi, hispano-argentino, na ciutat desde os 12, se aproxima da perfeição sonhada, da pureza. Antes: Luís Suárez Miramontes, nos anos 60, que era galego e cresceu e jogou no Corunha antes do Barça, e que ainda passaria a maior parte da carreira em Itália; Cruyff, nos anos 70, holandês formado pelo Ajax; Stoichkov, nos 90, búlgaro, do Hebros e do CSKA, antes; e depois os brasileiros Rivaldo e Ronaldinho, o primeiro com passagens por quatro clubes brasileiros e pelo Corunha, o segundo pelo Grêmio e pelo PSG. Formar um Bola de Ouro - mesmos nos tempos em que premiava só o melhor europeu - e mantê-lo pela carreira é raro. Só Yashin (Dínamo), Charlton (United), Muller e Beckenbauer (Bayern) têm histórias assim - Eusébio já tinha 18 quando chegou ao Benfica, contratado em Moçambique.
Se por absurdo fosse possível somar tudo aquilo que as outras pessoas não são, o resultado seria a pessoa que fez a soma. Um eu é a soma do que os outros não são, portanto. Messi é para o Barça essa diferença identitária, essa verdade que demorou, da fundação, 121 anos a achar, e que até poderia jamais ser encontrada. Nunca alguma coisa terá sido tão dolorosa para um clube como o susto de ver Messi sair. Deixar de ser, seja esse ser o que for, é devastador.