O sentido que Jesus nunca fez
Jorge Jesus ainda pode dar a volta ao presente, mas não é o futuro dos encarnados
ESCREVI antes do anúncio oficial do regresso de Jesus ao Benfica que a decisão de Vieira era tudo menos lógica. Não o lembro agora para sublinhar que tinha razão, mas sim para recordar que o que hoje alguns reclamam não fazer sentido já não o fazia no início da temporada passada. O regresso messiânico do técnico, de aura reforçada pelas conquistas sul-americanas, contrastava declaradamente com uma política desportiva mais estruturada, em que scouting, treinador e direção desportiva trabalham em conjunto tendo como meta objetivos imediatos ou já projetados, e ainda mais com uma cada vez mais valorizada formação, que garantira espaço de continuidade na primeira equipa. Se a velha máxima de a juventude, só por si, não chegar para o sucesso sempre foi válida, era então preciso encontrar não só o complemento necessário para o plantel como também um elemento aglutinador desde o banco. Jesus significava inversão completa à ideia de modernidade, consequência de o ex-presidente não saber mais ou conhecer melhor, dados os parcos conhecimentos sobre o jogo.
Não vou valorizar os excessos que resultam de quase todos os processos de divórcio, levados a peito pelos adeptos, e que desde logo tornaram o técnico não tão consensual quanto isso, ou sequer o saldo demasiado equilibrado entre sucessos e insucessos na anterior passagem. Figura histórica inegável do clube pelo impacto imediato que teve, não é hoje menos treinador do que foi, e sim apenas o mesmo, com todos os defeitos e virtudes, enquadrado num contexto diferente: já não há efeito surpresa, os adversários, mais bem trabalhados, saem melhor da pressão, defendem coesos e muitos até gostam de atacar. Desde que chegou, estabilizou (sem títulos) nos três centrais e o resto continua por resolver. Jesus ainda pode dar a volta ao presente, mas não é o futuro dos encarnados.