O selecionador que ainda falta

OPINIÃO16.11.202002:00

França vingou-se em Lisboa da final de 2016 e fê-lo enquanto campeã do mundo, fora e dentro de campo. Ao intervalo, Patrício já reclamava a canonização em vida e, se Portugal tinha dois resultados para gerir, cedo se percebeu que só,  e graças à habitual estrelinha do selecionador, conseguiria eventualmente o nulo: os franceses faziam o que queriam em todos os setores, superioridade mais visível no meio-campo, assente numa qualidade de posse bem acima da do seu adversário.
Para muitos, terá sido uma má noite, culpa da dívida de gratidão com Fernando Santos e também da natural memória seletiva consequente, que elimina do discurso o caminho até à consagração em Saint-Denis, a queda diante do Uruguai no Campeonato do Mundo, uma primeira Liga das Nações com Itália e Holanda, seleções em recuperação, como maiores obstáculos, e, por fim, as exibições dececionantes e os resultados com a Ucrânia no último apuramento.
Em quatro anos, depois de conquistar o seu Europeu, Portugal ganhou um segundo trinco e quis fazer dele um número 8, e ao mesmo tempo absorveu o talento de Bernardo, Bruno Fernandes, Félix e Jota. No entanto, o complexo de inferioridade, afastado do discurso, é evidente nas escolhas para o onze. Se William é e será 8 de circunstância, Félix fica espartilhado num flanco por culpa da obrigação defensiva imposta para ter Ronaldo e o 4x2x1x3. Faltam dinâmicas e química com bola, e sobretudo aproveitar o clique mental, conseguido com mérito de Santos em Paris, para jogar como campeão numa altura em que tem plantel de campeão. Se não, perde-se tempo e oportunidade. Portugal vai continuar a ganhar quase sempre, mas dificilmente a adversários superiores, como a Alemanha e esta mesma França já no Europeu. Aí faltará treinador ou um Fernando Santos diferente.