O século em que se ganha
Este é o tempo em que o futebol português, com as mesmas armas e filosofia dos ‘grandes’, compete para ganhar - nos relvados, no pavilhões, na praia, nos gabinetes
ASeleção de futsal voltou da Lituânia com o primeiro titulo mundial na bagagem, confirmando a tendência ganhadora do futebol português no séc. XXI (nos relvados, nos pavilhões, na praia). Jorge Braz, que já nos tinha dado o título europeu em 2018, faz parte do clube de Fernando Santos (Europeu de 2016, Liga das Nações de 2019) e de Mário Narciso, que levou a Seleção de futebol de praia aos títulos mundiais em 2015 e 2019 e a um ror de conquistas europeias. Em tudo o que meta bola e pés, as seleções de Portugal, nos diversos escalões, fazem parte da elite (o futebol feminino ainda está longe do topo, mas para lá caminha julgo que com segurança, step by step). Nestes últimos anos o futebol tem proporcionado um fartote de títulos, como sublinhou o Presidente Marcelo na enésima receção a comitivas campeãs. Tem sim senhor. E a Federação, com a sua cultura de exigência, ambição e profissionalismo, tem muita responsabilidade nisso. Assim como os clubes, que, convém não esquecer o detalhe, fornecem a matéria prima devidamente trabalhada sem a qual a FPF faria nada e encaixaria qualquer receita.
Ricardinho, o Ronaldo do futsal (têm a mesma idade), coroou a brilhante carreira com o título mundial que lhe faltava, título esse assegurado com duas bombas do Éder do futsal, Anilton César ‘Pany’ Varela. Como o inesquecível e improvável herói da final de 2016 (Éder nasceu em Bissau, na Guiné), Pany Varela também pertence à Lusofonia: nasceu na vila do Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Mais um capítulo na deliciosa tradição iniciada no Mundial de 1966, com o brilharete dos Magriços alavancado pelo fenomenal Eusébio da Silva Ferreira, nascido no bairro da Mafalala, Lourenço Marques (Maputo). Nem preciso lembrar que o prodigioso Madjer, considerado o melhor jogador de futebol de praia de sempre, nasceu em Luanda, capital de Angola. Maravilhosa Lusofonia!
Em tudo o que meta bola e pé, o séc. XXI é o século do nosso contentamento. É o século em que se começa finalmente a ganhar depois de muitas décadas a carpir mágoas e lamentar vitórias morais. O século dos títulos é também, não por acaso, o tempo de afirmação e consagração universal do maior desportista português de sempre - o futebolista Cristiano Ronaldo, secundado por gigantes de dimensão mundial como Luís Figo e Képler Laveran ‘Pepe’; é o tempo da Seleção Nacional (Stade de France, Dragão..) e do FC Porto (Sevilha, Gelsenkirchen, Yokohama…) como potências triunfantes em grandes competições internacionais; é o tempo das sumptuosas conquistas de José Mourinho no futebol europeu de elite e, em menor escala, de André Villas Boas, Leonardo Jardim e Paulo Fonseca; dos êxitos de Jorge Jesus e Abel Ferreira no futebol sul-americano; do longo reinado de D. Manuel José no futebol africano. É o tempo do primado do super-agente Jorge Mendes no mercado internacional. O tempo da FPF mais forte, mais ambiciosa, mais empreendedora e mais reconhecida de que há memória.
O séc. XXI é o tempo em que o futebol português se despede da cultura das vitórias morais, dos ses, dos quases, dos choradinhos, dos amadorismos, das trapalhadas, da improvisação e da desorganização. O tempo em que, equipado com as mesmas armas e a mesma filosofia dos grandes, o futebol português passa finalmente a competir para ganhar - nos relvados, no pavilhões, na praia, nos gabinetes.
E ganha.
FPF, liderada por Fernando Gomes, tem conseguido títulos atrás de títulos
A festa latina em Itália
AÍ está a segunda edição da Liga das Nações, cuja edição inicial (2019) foi ganha por Portugal no Estádio do Dragão há pouco mais de dois anos (1-0 à Holanda na final). A provar a extrema competitividade do futebol europeu, nenhum dos quatro semifinalistas de 2019 (os outros eram a Inglaterra e a Suíça) conseguiu apurar-se para a final four deste ano, que será disputada entre hoje e domingo nas cidades de Milão (estádio de San Siro) e Turim (estádio da Juventus). Desta vez temos as três maiores potências latinas - Itália, Espanha e França - contra a geração de ouro da Bélgica, que luta por um grande título desde o Mundial de 2014 sempre com o mesmo resultado: bola. Hoje temos o clássico Itália-Espanha em San Siro, numa reedição da meia-final do Europeu injustamente ganha pela Azzurra no desempate por penáltis. A Espanha foi bem melhor nessa ocasião e há curiosidade de ver como Luis Enrique abordará o atual campeão da Europa, que, na máxima força, exibe orgulhosamente o recorde mundial de jogos sem derrota (37!). A renovada Fúria, com os portugueses Porro e Sarabia nos convocados, viajou para Itália sem Morata, Ansu Fati, Moreno, Asensio, Dani Olmo, Thiago, Pedri, Marcos Llorente, Jordi Alba e Sergio Ramos (!). Muito bom deve ser o campo de recrutamento de Luis Enrique… tudo somado, não estou a ver a Itália, a jogar em casa, deixar fugir a hipótese de mais uma final e mais um título (seria o sétimo…).
Amanhã, em Turim, outro choque de gigantes que desiludiram no Europeu. A França de Deschamps, eliminada pela Suíça nos oitavos, quer completar o currículo com a conquista do único título em falta (ganhou dois Mundiais, dois Europeus e duas Taças das Confederações). Tem argumentos para isso. Os mais sólidos chamam-se Pogba, Mbappé, Benzema e Griezmann. Mas não está N’Golo Kanté. A Bélgica de Roberto Martínez joga belo futebol, ganha quase todos os jogos, tem um goleador consumado em Lukaku e parece pronta para o título que lhe foge há muitos anos; mas a verdade é que falha sempre num jogo - o da eliminação! Foi assim no Mundial de 2014 (Argentina: 0-1 nos QF), no Euro 2016 (Gales: 1-3 nos QF), no Mundial de 2018 (França: 0-1 na MF) e no último Europeu (Itália: 1-2 nos QF). Não há mal que dure sempre… a não ser para a Bélgica. É possível que tenhamos a terceira final azul (Itália-França) desde 2000…