O sapo que ainda não parou de crescer

OPINIÃO29.05.202107:00

Fernando Gomes e Pedro Proença têm um enorme desafio pela frente: ou engolem o sapo da Mealhada ou lutam pela honra da FPF e da Liga

Oartigo de Henrique Monteiro na edição de A BOLA da última quinta-feira é uma preciosidade rara nestes tempos em que toda a gente se conforma e muito pouca ousa questionar os poderes refastelados no hábito de não ter de enfrentar essa enorme contrariedade jornalística da pergunta.
Henrique Monteiro pertence à geração do jornalismo inquieto, irrequieto e inconformado. Falou, por isso, da aberração daquilo a que chamou a Cimeira do Leitão. Onze, são as reivindicações dos clubes da Liga, que se reuniram sob o imenso chapéu de sol (ou de chuva?) dos chamados três grandes. E a primeira e legítima questão é a de se saber porque não foram convidados, ou porque estavam ausentes os clubes da Liga 2, provavelmente, os que mais razões de queixa têm e os que são mais segregados na putativa indústria do futebol. A segunda questão é a de se saber como reagirá a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga a este levantamento de rancho da Mealhada, a esta manifestação de independentismo que muito parece ter a ver com uma atitude de rebeldia, se não mesmo, de rebelião geral.
A verdade é que desde que se falou na inevitabilidade (será mesmo?) da negociação coletiva dos direitos televisivos, sobretudo pela voz sempre reverentemente escutada de Pinto da Costa, se perceberam inquietações e desconfortos dos clubes maiores, sempre unidos, apesar das muitas diferenças, na ideia de que têm a esmagadora maioria dos adeptos e por isso têm o direito a fazer as leis à medida dos seus interesses, mesmo que sejam conflituantes, como na verdade são, com os interesses do futebol português.
Outro tema muito interessante, que Monteiro também levanta com a legitimidade do seu sportinguismo independente e livre é, precisamente, o de se tentar perceber, coisa que não é, de todo, fácil, a atitude e comportamento de Frederico Varandas. Da Câmara de Lisboa proclama ao país a vitória do bem sobre o mal, o sucesso de um novo paradigma de dirigismo desportivo transparente e liberto de vícios, o esplendor de uma nova era de um futebol honesto, verdadeiro, limpo. No entanto, não resiste à ementa da Mealhada e senta-se à mesa com a mesma gula dos seus criticados opositores, sem cuidar de marcar a diferença ou anunciar qualquer reserva perante tão insólita revolta.
 


O que vão fazer os líderes de FPF e Liga?


Por fim, last but not least, a curiosa posição do governo sobre o assunto, que apaga do seu mapa de critérios éticos e funcionais as organizações estatutariamente representantes do futebol profissional e se dispõe, alegre e irresponsavelmente, a receber e a ouvir os clubes, talvez com participação presencial numa RGC (Reunião Geral de Clubes) para depor, num género de golpe de estado administrativo, as competências orgânicas  da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga, a primeira das quais, pelo menos, tem sido parceira leal e ativa do governo de António Costa.
Com a época desportiva terminada, instala-se a bagunça da desacreditação de órgãos e instituições e recupera-se a lógica dos poderes pessoais ou de grupo no futebol português. Por isso se aguarda, com expectativa, os próximos movimentos. Manterá o governo, em relação ao futebol, a sua posição ziguezagueante que o descredibiliza e o diminui? E o que fará Fernando Gomes e Pedro Proença? Poderão, ambos, limitar-se ao sacrifício de engolir um sapo que não vai parar de crescer?
Nada disto faz sentido. É o regresso ao controlo de um poder oligárquico, injusto e que tem por objetivo essencial manter vantagens e privilégios dos grandes, recusando a democratização e modernização do futebol em Portugal. 
 

DA VERGONHA À DESVERGONHA

Calcule o leitor que o país abria de par em par as janelas da sua habitual tolerância para com os cidadãos britânicos e encomendava a final da Champions para Lisboa. Que, depois, aquietava os preocupados portugueses com a invasão dos bárbaros prometendo que vinham uns milhares de ingleses a caminho, sim, mas todos dentro de uma bolha inviolável. E que depois se constatava que a tal bolha nem figura de retórica era, que seriam dezenas de milhares de bebedolas sem máscara e com vontade de zaragata. O que acham que diria Pinto da Costa?

A SEMANA DO MEL E DO FEL

O Movimento chama-se Europa e Liberdade, o que produz uma marca que pode ficar no ouvido popular: MEL. Durante a semana, o país político falou da reunião. Para quem legitimamente tinha esperanças no renascimento de uma direita alternativa ao governo de António Costa foi uma completa desilusão. A plateia estava às moscas, os discursos só raramente se mostravam aproveitáveis e o principal protagonista, tendo estado em silêncio durante o certame, no final concluiu que tinha de fugir a sete pés, deixando o menor rasto possível.