O sacrifício!

OPINIÃO09.04.202106:05

O FC Porto voltou a mostrar a razão de ser uma equipa da Liga dos Campeões

O FC Porto mostrou com o Chelsea porque é, ainda, a única equipa portuguesa realmente com estofo para a Liga dos Campeões. E Sérgio Conceição mostrou, mais uma vez, toda a qualidade do seu lado de estratega, pela forma como pensou taticamente o jogo e pelo modo como leva os jogadores a acreditar profundamente nas capacidades da equipa. Pena que tenha voltado, porém, na minha opinião, a falhar em dois momentos - ter mexido tarde na equipa e ter sacrificado, de novo, aquele que é, quanto a mim, o maior talento da equipa.
É fácil apontar o dedo a Jesus Corona pelo erro que permitiu ao Chelsea chegar ao segundo golo. Mas não era Corona quem devia estar ali. E se estava à hora errada no lugar… errado, a responsabilidade é inteiramente do treinador. Não de Corona.
O FC Porto foi melhor do que o Chelsea em quase tudo. Faltou o quase. E o quase foi decisivo, como costuma suceder em jogos deste nível. O quase foi o detalhe, o saber aproveitar o erro e o ser eficaz. Foi o que o Chelsea conseguiu. Fria, racional e exigente, a equipa inglesa desequilibrou exatamente nos momentos que só as grandes equipas conseguem aproveitar.
Ao contrário, o FC Porto, tendo sido melhor, repito, em quase todos os outros momentos do jogo, não soube aproveitar os erros do Chelsea e muito menos foi eficaz. Pior do que isso, só mesmo ter visto o FC Porto voltar a pedir a Jesus Corona o sacrifício quando lhe devia ter pedido, sim, um último brilho.
Não se pode querer que Corona seja a principal estrela (porque é!) e, ao mesmo tempo, um dos maiores operários. Não dá. E Corona, sendo o melhor futebolista do campeão nacional, já é um enorme trabalhador. Mas não se abuse.
Não foi a primeira vez que foi pedido a Corona o que Sérgio Conceição lhe pediu, agora, em Sevilha, e ele, já por muitas vezes, mostrou sempre ser capaz de responder ao que a equipa precisa. A equipa é que talvez não tenha sido sempre capaz de lhe mostrar a ele que sabe como o aproveitar melhor.
Agora, em Sevilha, depois de ter feito estrategicamente tanto durante quase todo o jogo, Corona estava no limite físico e, por isso, também mental, quando o treinador do FC Porto lhe exigiu que fizesse o lugar do substituído Manafá.
Corona é o jogador mais utilizado esta época pelo FC Porto, presente em 42 jogos e com mais de 3200 minutos jogados. Além disso, deve lembrar-se que Corona fez, ainda recentemente, mais dois jogos pelo México (a 27 e 30 de março, ainda que ambos na Europa, os 90 minutos com o País de Gales, em Cardiff, e 80 minutos com a Costa Rica, na Áustria). Anda, pois, há muito tempo com uma carga competitiva impressionante.
Ainda que seja sempre fácil falar depois das coisas acontecerem ou, como diz o povo, à segunda-feira todos acertamos no totobola, a verdade é que nas circunstâncias em que estava o jogo com o Chelsea, a 10/15 minutos do fim, quando o FC Porto devia procurar tapar a cabeça (continuando a espreitar o golo do empate), mas sem destapar os pés (para evitar maior derrota), parece-me que seria maior o risco de Corona cometer o erro que cometeu do que o risco de perder alguma capacidade ofensiva se Manafá continuasse, como me parece que deveria de ter continuado, a ser o lateral-direito da equipa.
Sérgio Conceição cometeu, a meu ver, repito, dois erros: mexeu tarde na equipa e quando mexeu exigiu demasiado sacrifício a Corona, quando talvez devesse ter-lhe pedido, isso sim, um último suspiro de talento. Como? Tirando Luís Diaz, que estava há muito fora do jogo, mantendo Manafá como lateral direito e deixando Corona no apoio mais direto a Toni Martínez, que entretanto passou a fazer de Marega.
Manafá estava a jogar bem; Luís Diaz estava a render pouco. E com Corona no papel que o talento do mexicano justifica, talvez o FC Porto tivesse conseguido evitar colocar-se quase irremediavelmente em desvantagem nestes quartos de final.
Fica a ideia, e o sabor, compreensivelmente, amargo, de ter o campeão nacional ficado na situação em que ficou (muitíssimo difícil na eliminatória, sejamos realistas) muito mais por culpa própria do que por mérito do Chelsea, mesmo sendo obrigatório reconhecer a qualidade de muitos dos jogadores da equipa londrina, capazes, lá está, de fazer a diferença quando o detalhe exige maior talento.
Custa, compreende-se, que tenham sido os erros próprios e flagrantes (de que nem Marchesín, um grande guarda-redes, aliás, se livra…), a inclinar o jogo em prejuízo do FC Porto e de modo algum o trabalho de arbitragem, como alguns se apressam sempre a fazer crer, de um juiz que, não tendo sido inteiramente feliz, é certo, esteve realmente longe de influenciar o resultado, tendo em conta os três momentos considerados chave em qualquer jogo coletivo com bola: o golo, o castigo máximo e o cartão vermelho.
Não foi pelos erros do árbitro esloveno (o mais grave dos quais, ter decidido que as mãos de Azpilicueta nas costas de Marega, ainda fora da área, não justificava assinalar falta, talvez sob a pressão, posso admitir, de poder ser grande penalidade!...) que o FC Porto parte para a segunda mão destes quartos de final, a jogar no mesmo lugar, à mesma hora, apenas num dia diferente da semana, mas agora com muito maior improbabilidade de dar a volta a este Chelsea.
O jogo desta semana deixou, porém, a ideia de, no FC Porto, o todo ter voltado a valer (e a valer muito!) mais do que a soma das partes, ao contrário do que mostrou o Chelsea, que neste jogo teve inegavelmente nas partes muito mais valor do que no todo.
Fica, ainda, a imagem de um FC Porto, de novo, de campeões, com o espírito, a raça, a capacidade atlética, a força coletiva, a inabalável atitude, que distingue verdadeiramente as grandes equipas e as equipas verdadeiramente capazes de competir nos mais exigentes desafios da maior prova de clubes do futebol mundial.
 

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V IU o Sporting um golo ser-lhe agora anulado, em Moreira de Cónegos, por um fora de jogo de dois centímetros. No ano passado, em março, o FC Porto já tinha visto ser-lhe anulado um golo por três centímetros (com o Rio Ave) e ainda antes, em janeiro, o Benfica por quatro, num jogo em Paços de Ferreira. É aceitável? Talvez não.
Mas não é aos gritos que se avança. O VAR está aprovado assim, com estas linhas de fora de jogo, e  ninguém pode esperar que o VAR, com estas ou com outras linhas de fora de jogo, venha resolver todos os problemas de um jogo de futebol. Nem agora, nem nunca. Mas no que diz respeito ao fora de jogo, é com estas linhas que o futebol tem, por enquanto, de se coser.
E saber esperar pela evolução que parece quase pronta a ser aprovada por proposta do ex-treinador do Arsenal, o francês Arséne Wenger, que trabalha agora na FIFA, e sugere que um jogador deixe de estar em fora de jogo «se qualquer parte do seu corpo com a qual possa marcar um golo se encontre em linha com o penúltimo defesa, mesmo que outras partes estejam mais à frente». Será uma alteração significativa para deixarmos de nos debater com insignificantes centímetros. E dar um passo em frente!

J Á nos teremos debruçado adequadamente sobre as qualidades, o talento, o estilo e as características do jovem inglês Phil Fodden, que Pep Guardiola lançou ainda com 17 anos no Manchester City? Talvez não. Mas creio que vale a pena começar por recordar estas palavras de Guardiola: «Foden é o jogador mais talentoso que já vi».
Talvez pelo tom de algum exagero - sobretudo se pensarmos no rapaz que Guardiola treinou no Barça, que dá pelo nome de Messi - a verdade é que as palavras de Guardiola, em julho de 2019, pareceram não ser suficientes para nos pôr, a todos, a refletir sobre o que tem de tão especial este rapaz nascido a 28 de maio de 2000, em Stockport, poucos quilómetros a sul de Manchester.
Agora, vistas bem as coisas, não nos fará Phil Foden lembrar um talentoso jogador da década de 50 com a agilidade, a velocidade e a rapidez de pensamento do século XXI? O estilo parecendo, por vezes, meio desengonçado, as pernas arqueadas, a imagem oposta à de um deus do futebol, sem o corpo atlético e torneado de um Cristiano Ronaldo, de um Lewandovski, de um Neymar ou de um Mbappé, e a aparente fragilidade com que se atira a cada metro do relvado, fazem de Phil Foden um caso absolutamente invulgar nos dias de hoje, onde muito do que se vê parece formatado num processo de fabrico industrial, como se o futuro do futebol estivesse (e nunca poderá estar) na ideia de fabricar jogadores iguais.  
Sem querer exagerar, confesso-vos ver no jovem Phil Foden um bocadinho de Gento, mais um bocadinho de Puskas, outro bocadinho de Di Stéfano e ainda outro talvez de Garrincha, mais um pouco de Cruyff, tudo a fazer lembrar génios do futebol do passado, quase sempre a preto e branco, e quase apenas testemunhados no baú das memórias. Phil Foden é, realmente, um jogador de outros tempos que temos, felizmente, o privilégio de ter no futebol de hoje.
Uma espécie de Charlie Chaplin deste nosso tempo!...