O saber é a riqueza que nunca se perde
BRUNO LAGE não parece ter o mesmo discurso confiante e até algo inovador que mostrou, com positiva surpresa, na época passada. É, hoje, um homem mais contido, mais preocupado com o sentido das palavras do que com o sentido do pensamento e, por isso, um cidadão menos livre e menos feliz. Ele saberá melhor do que ninguém por que razão isso acontece. Mas é possível, a quem olha de fora, reparar que a equipa tem problemas ainda mal resolvidos, apesar de começarem a regressar alguns jogadores nucleares, e que, pelo que se viu de um jogador influente como Pizzi, há menos alegria, menos confiança e menos espírito de grupo. E isso é, de facto, um problema que não se resolve com o manual dos mestres da tática, mas com a capacidade de liderar homens, de os perceber e de saber resolver diferenças e conflitos, antes que eles tomem conta do essencial das questões a resolver pela equipa do Benfica.
U LTRAS. Há em todos os clubes, com maior ou menor capacidade de influenciar presidentes, treinadores ou jogadores. Conquistaram privilégios em nome da suprema importância do apoio organizado de grupos heterogéneos, onde cabe de tudo, desde gente boa e civilizada, a guardas pretorianos de dirigentes com poucos escrúpulos, a marginais da sociedade. Ao longo dos anos, têm vindo a ganhar espaço nas bancadas, na hierarquia da influência nas decisões dos diretores e administradores e já se acham no direito de dizerem quem querem e quem não querem para presidente, quem querem e quem não querem para treinador, quem querem e quem não querem pôr a jogar na equipa. Começaram por ser desejados, depois foram incentivados a gerar medos nos árbitros, nos adversários e nos críticos de opinião e, hoje, impõem a subversão da normal cadeia de comando do seu próprio clube. Alguns estão já fora de controlo dos dirigentes eleitos, que, sem surpresa, se tornaram seus reféns. Enfim, a criatura capturou o criador. Ora, a atual direção do Sporting, liderada por Frederico Varandas, entendeu pôr cobro a essa situação. Teve manifesta coragem, mas percebe-se que é uma luta de morte. Se Varandas cair por influência ou ação direta das claques em confronto, então, o Sporting, e quem vier a ser eleito para presidente, ficará definitivamente limitado nos seus poderes e nos seus direitos. E quanto àqueles que assistem de fora, sentados no conforto das cadeiras de observadores, não se iludam. Esta guerra, mesmo que ainda não tenham percebido, também é vossa e o resultado final nunca será indiferente.
TREINADORES PORTUGUESES. Há o sério risco do convencimento e da preguiça. Ou seja: os treinadores do futebol português têm sido tão elogiados, tão cobiçados, tão universalizados, tão admirados, que podem pensar ter chegado, enfim, ao patamar dos inalcançáveis. É um erro e pode vir a tornar-se um erro dramático. Os treinadores portugueses são bons, porque perceberam que precisavam de saber mais e de estudar mais para juntar às suas características de tolerância multicultural e assim se tornarem melhor do que os outros. Mas não podem dormir à sombra do sucesso. Esta é uma corrida que nunca estará definitivamente ganha, apenas define quem vai no grupo da frente ou quem perde contacto com o pelotão. Chegar, nunca se chega. E para aqueles treinadores que acham que essa é a parte triste da sua profissão, animem-se, acontece também com todas as outras profissões. O lugar mais invejado no mundo ainda é o do conhecimento e o do saber. Porque é uma riqueza que nunca se perde.