O resistente-mor em Marselha
O texto de hoje é centrado num dos clubes que melhor combatem a hegemonia cada mais asfixiante das ligas big five na Liga dos Campeões. São cada vez menos e por isso merecem a admiração de quem não se conforma com a redução do magnífico futebol europeu de clubes (de longe o melhor do Mundo, seja qual for o ângulo em análise) a uma elite de cinco endinheirados: espanhóis, ingleses, alemães, italianos e franceses. Na época passada, como se lembram, os big five monopolizaram pela primeira vez na história da Champions todos os lugares disponíveis nos oitavos de final: 16 para eles, zero para os outros (47) países. Uma coisa triste, que já vinha anunciada da época anterior - apenas FC Porto e Ajax nos derradeiros 16.
Nós, futebol português, merecemos um aplauso particular porque temos sido dos mais resistentes à hegemonia dos cinco grandes na elitista Champions. Temos um dos dois únicos clubes que conseguiram ser campeões neste modelo (FC Porto em 2004; o outro foi o Ajax em 1995). E temos igualmente no FCP o clube que, fora do universo big five, mais vezes chegou à fase eliminatória ou equivalente (16) e aquele que mais vezes chegou aos oitavos de final (11), instituídos em 2003/2004. Sendo que o Benfica (passou cinco vezes da fase de grupos, quatro no modelo atual) também se conta entre os resistentes mais empenhados, ao lado de Shakhtar Donetsk e PSV Eindhoven. Curiosamente, ou talvez não, na edição corrente FC Porto, Ajax e Shakhtar (olá Luís Castro) são os únicos não-big 5 que se encontram em posição de qualificação (são segundos nos respetivos grupos) depois de os outsiders Brugge e Zenit terem enterrado definitivamente as suas aspirações na jornada de ontem.
O FC Porto joga em Marselha num estádio lindíssimo (mas vazio…) contra um estranho vice-campeão francês ainda a zero em pontos e golos na prova rainha. Motivos mais que suficientes para acreditarmos que Sérgio Conceição vai entrar com tudo para ganhar o jogo, sendo que uma vitória praticamente sela mais um apuramento (o 17.º portista) para a fase que conta. Isto, claro, se o Olympiakos do nosso Pedro Martins não ganhar o duelo caseiro com o City. Se ganhar (ou se pontuar e o FCP perder….), a equipa grega continua na luta e pode vir a ser um obstáculo muito sério às ambições portistas.
Na noite de ontem quatro equipas garantiram o apuramento (Chelsea, Sevilha, Barcelona e Juventus), havendo mais duas quase lá (Dortmund e Lazio). Nenhuma surpresa. Nota alta para o bis de Bruno Fernandes, o médio com mais golo no futebol mundial (que golão, o primeiro!); para o 131.º golo do imortal Cristiano na Champions (74.º pela Juventus e 749.º na carreira); e para o bis do insaciável tanque norueguês Erling Haaland, que é, aos 20 anos, o jovem avançado mais excitante do futebol mundial depois de Kylian Mbapée…
Benfica e Braga: resistir!
Rangers em Ibrox e Leicester em Braga são os adversários da dupla portuguesa na Liga Europa. O líder da Premier escocesa ameaça Jorge Jesus três semanas após desperdiçar uma rara oportunidade de ganhar na Luz (esteve a ganhar por 3-1, falhou dois golos cantados e acabou por sofrer o 3-3 no derradeiro minuto…), num jogo marcado por erros defensivos encarnados, pela verdura do treinador Gerrard e pela contundência final da dupla Waldschmidt-Darwin. O que se joga em Ibrox é a liderança do grupo, uma vez que a qualificação benfiquista não parece em causa; mas não custa reconhecer que a águia, a atravessar uma fase estranha, está a precisar de uma vitória assente numa exibição sólida, completa e convincente para retomar o passo e, sobretudo, abafar os rumores (e queixumes e gemidos…) que começam a circular quando as coisas não correm conforme o esperado. O Rangers, como se viu na Luz, é um adversário respeitável - equipa competitiva, de grande porte atlético - mas mal estaria este Benfica «candidato a um título europeu» (segundo Vieira) se não chegasse para esta encomenda. Ademais, nunca uma equipa portuguesa ganhou em Glasgow - é boa altura para matar esse borrego. Do Braga espera-se a retificação da goleada sofrida em Leicester (0-4) perante uma equipa que se encontra no pódio do melhor campeonato do Mundo. A maneira como o Leicester se entrega habitualmente ao jogo (a alta rotação da Premier, sim…) não tem paralelo com o que se consome por aqui e pode chegar para fazer novamente a diferença, mesmo com o Braga a dar o máximo. Pontuar seria bom, ganhar seria ótimo. Vale para os dois.