O que temos e o que precisamos

OPINIÃO05.07.201904:00

Carlos Nascimento
É manifesto que os chamados Jogos Europeus não são grande coisa. E não passam a valer só porque vencemos no futebol de praia. Mas isso em nada pode diminuir o destaque alcançado pelo sprinter Carlos Nascimento, triunfador do hectómetro, a prova rainha do atletismo.  

Do estado da arte
Parece curial que, antes mesmo do primeiro particular, se proceda a uma breve aferição do talento que temos e de que precisamos, do que temos mas não precisamos e do que precisamos de ter mas não temos. Ponto por ponto, lugar por lugar. Por onde começar? Talvez pelo princípio, porque é o fim último do jogo - a baliza. O que dizer então dos nossos guardiões? Que saíram Casillas e Fabiano, tendo ficado Vaná e Diogo Costa. É curto? Sim, até porque parece haver intenção (aliás acertada) de emprestar este último, para que possa jogar com regularidade. Mas toda a gente parece esquecer-se de que também há Mbaye - que, de resto, até está no estágio ora em curso. E eu persisto em dizer que vejo nele um tremendo potencial. Em suma: basta contratar mais um guardião, desde que de categoria insuspeita.
Falando agora dos jogadores de campo, principiemos pela lateral-direita. Um dos mais misteriosos e melindrosos postos da equipa. Não se estranhe, portanto, que a primeira aquisição oficialmente confirmada tenha sido precisamente para a posição 2. Nunca vi jogar Saravia, mas espero que a sua bitola não seja a exibida na única partida em que foi titular pela Argentina na Copa América. Entretanto, o dueto de craques (João Pedro e Yanko), adquiridos há exactamente um ano, continua sem poder usar as chuteiras nos treinos da equipa principal. O que, presumo, em nada tenha afectado ou prejudicado as comissões auferidas por quem os levou para lá. Wilson Manafá será, em qualquer caso, uma excelente alternativa, na hipótese de não ser o titular. Falta só acrescentar uma coisa: não sei se será já nesta época ou apenas na próxima, mas o futuro defesa-direito incontestado dos dragões tem 17 anos e é um dos jovens em observação no pré-estágio que está a decorrer no Olival. Convém reter o seu nome: chama-se Tomás Esteves.
Passando agora para uma área nuclear - o centro da defesa. De um golpe só saíram ambos os titulares (Filipe e Éder Militão). Neste momento, além de Pepe, ainda convalescente, estão apenas disponíveis Diogo Queirós e Diogo Leite, uma dupla de centrais fabricada na formação e que conquistou já múltiplos títulos, entre os quais, mais recentemente, o duplete composto pelo campeonato nacional de sub-19 e pela Youth League, além de uma já longa carreira nas seleções jovens. Lembre-se que Diogo Leite até chegou a fazer, na temporada transacta, alguns jogos a titular. Mas, pessoalmente, estou convicto que é Diogo Queirós quem goza de melhores predicados para poder ser titular no imediato.
Faltam, por conseguinte, defesas-centrais? Sim, mas não se olvide que vão chegar um internacional venezuelano (Osorio), outro congolês (Mbemba) e ainda outro nigeriano (Chidozie). Não quer isto dizer que não possa vir mais um central - mas teria de ser alguém assim do género de César (veni, vidi vici), que é como quem diz, chegar, ver e vencer, a exemplo do que fez Éder Militão. Ou Felipe, antes dele. Confesso que o meu preferido para este crucial lugar seria Nathan Aké. Quem? Trata-se de um holandês de 24 anos que milita nos ingleses do Bournemouth. Mas como não parece haver maneira de tirar a um tal Guardiola a mania de colecionar cromos, já estou a adivinhar que este rapaz se vestirá de azul, sim, mas de outro azul... Deste modo, não me importaria nada que, no presente contexto, as portas do Dragão se voltassem a abrir para Marcano.
Quanto a laterais-esquerdos: Alex Telles é um dos melhores do mundo. Não há discussão possível sobre esta asserção. Mas não tem nenhum clone. E até à data nem um simples suplente. Bem sei que Manafá consegue cumprir a função. Mas não é esquerdino…Venha então mais um, se for bom e vier por bem.
Passemos ao chamado miolo do terreno. Saiu Herrera, como esperado. Mas regressa Sérgio Oliveira, cuja saída foi assaz estranha. E continuam Danilo e Óliver Torres. Além de Loum, o qual foi recrutado na última janela de inverno, por um preço exorbitante, e com utilização nula. Isto depois de uma primeira volta muito interessante ao serviço do Moreirense. Mas, sobretudo, o Dragão tem um dos mais formidáveis talentos revelados nos últimos anos: Romário  Baró. Repito o que já disse há coisa de um ano - pode ser um verdadeiro fora-de-série.
Desvie-se agora a atenção para as alas, território de onde se escapou Brahimi. Vem aí Luis Díaz. Não o conhecia, mas jogar na seleção cafetera não é para todos. Além de que o Dragão costuma ser feliz com os jogadores colombianos. Mas se se confirmar a vinda de Nakajima, então muita coisa mudará - e necessariamente para melhor. Há muito tempo que os portistas não dispõem de um desequilibrador deste quilate.
Para terminar, os finalizadores. Parece iminente a saída de Marega, ou de Soares, ou de ambos. Além de que também não parece, à luz de qualquer critério, justificar-se a continuidade de André Pereira. E para suprir todos estes nomes vai apresentar-se Zé Luís. Recordo-me de ter aparecido no Gil Vicente, mas confesso que já me esquecera totalmente dele. Dada a insistência do técnico em contar com ele, teremos de lhe dar, perdão, pagar, o benefício da dúvida.