O que mexe com a cabeça do leão?
Tal como sucedeu, na semana passada, em Marselha, o Sporting voltou a mostrar um descontrolo emocional tão surpreendente como fatal
OSporting não foi capaz de impedir sofrer um agregado de 1-6 com o Marselha, em apenas uma semana. Para os adeptos leoninos, não pode deixar de ser aterrador terem visto o que viram, no espaço de tão poucos dias, como se levassem dois valentes murros no estômago quando o nome do adversário, respeitável, como é evidente, não fazia prever desastre de tão grande impacto. Como sempre, a questão não será tanto a de ver a equipa perder, mas, sim, a de ver como a equipa perdeu. E parece-me que não perdeu pela tática ou pela técnica; perdeu pela cabeça!
Tal como sucedeu, na semana passada, em Marselha, o leão, em Alvalade, voltou a mostrar um descontrolo emocional tão surpreendente como fatal. E Rúben Amorim tem de ser visto como principal responsável, não apenas por ser o treinador, mas sobretudo por parecer mentor de uma certa ‘agressividade’ na equipa, que fica bem quando é apenas competitiva, mas resulta normalmente mal quando acaba, como pareceu, esta quarta-feira, o caso, no tal descontrolo emocional que foi deixando a equipa progressivamente mais fragilizada e, por isso, cada vez mais incapaz de reagir e contrariar o infortúnio de se ver a perder, frente à equipa francesa, logo aos 19 minutos e a jogar, desde essa altura, com um jogador a menos.
É ao treinador que compete manter em alta o foco e a estabilidade mental dos jogadores. E o que me pareceu, com franqueza, é que a equipa, ou parte dela, entrou nesta espécie de segunda mão com o Marselha, com um espírito de ‘vingança’ que lhe tirou critério competitivo e mexeu com a exigida estabilidade emocional. Dou um exemplo: quando Ricardo Esgaio, ainda antes de cometer o penálti, entrou com o braço/cotovelo no rosto de Nuno Tavares - o lateral ex-Benfica que passou do Arsenal para o Marselha - não terá, de algum modo, querido marcar posição junto de um jogador que, após o jogo de França, acusou Rúben Amorim de o ‘insultar’?
O sucedido nos dois jogos com o Marselha deixaram os adeptos desconfiados do rumo e da capacidade da equipa de Rúben Amorim em dar a volta a uma conjuntura negativa
Isto é: terá Rúben Amorim permitido (por ação ou omissão) que os jogadores do Sporting levassem para dentro do campo ideias relativamente perturbadoras do seu indispensável foco competitivo? Nem sempre o que parece é, mas desta vez, é mesmo o que parece!
Seja como for, e ainda que o Sporting não tenha, longe disso, de atirar qualquer toalha ao chão nesta edição da Champions, a verdade é que abanou e abanou o suficiente para sair destroçado desta dupla jornada como uma equipa francesa do Marselha que está verdadeiramente ao alcance do normal futebol dos leões, e deixa para já marcas nos adeptos, evidentemente desconfiados do rumo que a coisa parece estar a levar.
Já se viu, no último fim de semana, na Liga portuguesa, o Sporting a sentir evidentes dificuldades para sair dos Açores com os três pontos e, sobretudo, voltou a ver-se o leão absolutamente caído aos pés dos marselheses numa jornada europeia que, para já, até mancha as duas extraordinárias vitórias conseguidas nos dois primeiros jogos, na Alemanha, com o Frankfurt, e em Alvalade, com os ingleses do Tottenham. O futebol tem destas coisas, o que importa é o momento, e os treinadores (como Rúben Amorim) sabem bem que a memória, no futebol tem, no máximo, uma semana!...
Como sempre, tem, agora, a palavra o treinador, para se mostrar, ou não, capaz de reerguer a moral das tropas e contagiar de novo os adeptos. Parecem, hoje, cada vez mais longínquos os tempos em que o leão vibrava energia, humildade e espírito de combate, como na noite daquele SC Braga-Sporting, lembram-se?, em abril de 2021, em que a equipa de Amorim, a jogar, curiosamente, também com dez desde os 19 minutos, teve força mental suficiente para resistir a toda a pressão e conseguir ganhar um jogo que, muito provavelmente, lhe terá, ali, valido o título de campeão nacional que veio a conquistar nessa primeira época de Rúben Amorim em Alvalade.
Vem o treinador leonino insistindo na ideia de que este Sporting é melhor equipa e joga, agora, melhor futebol. Admito, sob um olhar puramente técnico-tático, que isso seja verdade, e como o leitor compreenderá, se os jornalistas percebessem mais de futebol do que os treinadores, seriam treinadores e não jornalistas. Mas Rúben Amorim que compreenda a observação de quem vê de fora: assistir ao desnorte que esta quarta-feira se abateu sobre a equipa leonina depois de Esgaio ter cometido aquela grande penalidade, não faz prever nada de bom. E lanço a questão: o que será que está a mexer com a cabeça do leão? Acusa apenas as perdas de jogadores como Palhinha ou Matheus Nunes, ou a capacidade de recuperar de maus resultados já não é a mesma do tempo em que ainda nada tinha vencido?!