O que foi ridículo
O futebol nem sempre é uma questão de justiça mas é sempre uma questão de emoção. Mais ainda, quando o jogo se joga num prémio como a Bola de Ouro ou o The Best - e não: para mim, em nenhum dos casos, foi uma questão de injustiça. E não foi questão de injustiça porque apesar de o Modric não jogar como o Ronaldo joga: na iminência da bomba atómica pronta a soltar-se de si - a vitória do Modric é a vitória do espírito evangélico que o Di Stéfano colocou na frase que largou a sete ventos:
- Nenhum jogador é tão bom como todos os outros juntos num qualquer.
Sim, jogar à Modric é jogar a fazer jogar, é jogar a ligar todo o jogo à equipa - a resgatá-la de caminhos perigosos, a descobrir-lhe, sagaz, linhas de horizonte onde outros só veriam becos sem saída. (E é jogar o jogo a despojá-lo de frivolidades na cabeça do geómetra venenoso que ele é , sempre e sempre.)
Não foi uma questão de injustiça porque apesar de o Modric não jogar como o Ronaldo joga: com a bola a sair-lhe do corpo em frenesim pela mão de um deus invisível, fulgurante e furiosa a caminho das redes - a vitória do Modric também é a vitória do espírito evangélico que o Aimar colocou na frase que largou a sete ventos:
- Os melhores jogadores são os que fazem jogar bem os outros.
Sim, jogar à Modric é jogar com ele a movimentar-se para que os companheiros apareçam em situação melhor, é jogar com o Modric a dar aos outros as melhores soluções, salvando-os de vielas sombrias (é jogar para que toda a equipa jogue melhor e fique mais perto do golo - não através de atos de criação exuberante mas de atos de desequilíbrio desconcertante, que é o que ele faz.)
Mas mais: o The Best e a Bola de Ouro para o Modric ainda foi uma (tardia) questão de justiça poética - por haver nos seus ganhos a vingança do destino que deveria ter havido no Deco, no Xavi ou no Iniesta (e não houve, sabe-se porquê…)
PS: Isso sim: ridículo foi Ronaldo não levar o Puskas na sua sublime bicicleta.