O que dizer aos jovens de abril de 2019
Interessante e, sobretudo, pouco visto e ouvido, o tema principal do discurso do Presidente da República, nas cerimónias oficiais de comemoração do 25 de Abril, na Assembleia da República. Curiosa a fórmula encontrada, na separação geracional entre os jovens do abril 1974, entre os quais me incluía, e os jovens do abril de 2019, quarenta e cinco anos depois.
Diz o Presidente que a política e os políticos terão de avaliar melhor a maneira de chegar à nova geração, aos novos jovens, às suas pretensões, aos seus sonhos e desejos. Eis uma verdade que merece, de facto, ser pensada e não apenas numa perspetiva da mensagem política e dos seus valores. Uma mensagem que soa bem, será politicamente correta, mas pode também conduzir-nos ao erro básico de pensarmos que os jovens de hoje têm o direito de colherem o que a sociedade tem o dever de lhes fazer chegar. E não de lhes fazer chegar de qualquer forma, mas de uma maneira fácil, de uma maneira que, de tão fácil, se torne irrecusável.
Lamento, mas não me parece que seja esse o caminho. Não me parece, sobretudo, que essa seja a melhor forma de preparar jovens para os mais complexos e inquietantes desafios do futuro.
O que o Homem quer e deseja deve ser conquistado e não oferecido. E, por isso, o sentido fundamental da educação de qualquer jovem, em qualquer tempo, em qualquer lugar, é o de o preparar para lutar por aquilo que quer e não para esperar por aquilo que lhe possa ser oferecido.
Devemos ter a noção de que ser jovem não é um valor absoluto da condição humana, a qual, de resto, não terá outro valor absoluto que não seja o do respeito mútuo, independentemente do género, da raça, do credo, do clube, da idade. E esse valor não é um valor adquirido. Tem de ser transmitido, ou, melhor, tem de ser ensinado, essencialmente, pelas famílias.
É claro que o estado e as suas instituições, a começar pela escola, têm, nesse particular, uma missão decisiva a cumprir, mas é à família que compete a parte mais importante, diria, mesmo, fundamental, da educação de um jovem. E o problema é que, hoje, o país que procura soluções de futuro no aumento da natalidade e nos jovens, pede o que, na verdade, não quer ter, porque mantém a cultura retrógrada e liberalista de que o sucesso profissional dos pais e das mães deste país está mais relacionado com o tempo da ocupação do que com a qualidade do trabalho; está mais relacionado com o comprometimento temporal do que com o comprometimento dos resultados da atividade. E esse demasiado tempo que os portugueses, sobretudo as mães e os pais portugueses, passam nos seus empregos não acrescenta mais nem melhor produtividade e subtrai o tempo absolutamente imprescindível para a educação. Por isso, as famílias perdem, cedo, a esperança de ensinar os seus filhos e aceitam, não raras vezes cúmplices, serem substituídos pela educação anónima e perigosa, mesmo que sedutora, da única relação humana para que estão preparados: a das redes sociais, que promove a relação da ausência física, a relação da relatividade do real e do irreal, a relação do basismo cultural.
Curiosamente, neste drama civilizacional, é o desporto que ainda surge como oásis de um deserto de critérios, de princípios, de regras e de valores. É o desporto que educa e que prepara o jovem para o futuro onde, queira ou não queira, vai ter de saber lutar pelo que sonha. Falo, evidentemente, do desporto da prática, do desporto estruturalmente enquadrado. E é por isso que a formação de uma nova geração de dirigentes e a formação de novos treinadores é, hoje em dia, mais decisiva no crescimento inteiro dos jovens do abril de 2019. Infelizmente, não chega.