O que aconteceu
PARA o FC Porto, o jogo com o Benfica era muito mais do que um jogo. Era o jogo em que a vida nos seus caprichos não poderia atropelar-lhe o sonho, deixar-lhes esperanças estendidas no chão. E sim: notável foi o que aconteceu no Dragão, o FC Porto fez.
Aconteceu o que aconteceu porque todos os seus jogadores jogaram sempre como se tivessem alma espicaçada colada aos pés (sem que ela se quebrasse, na ponta das suas chuteiras, em desconfianças e angústias - ou pior...)
Aconteceu o que aconteceu porque alguns dos seus jogadores (os que era fundamental que a tivessem) tiveram classe e génio a soltar-se-lhe do corpo travesso, rompendo com qualquer ameaça de jogo rotineiro e chato, triste e angustiante (e, sobretudo, sem que a baliza de Vlachodimos lhes fugisse dos olhos).
Aconteceu o que aconteceu porque os seus jogadores (todos os seus jogadores) souberam sempre ter o momento certo para através das suas decisões porem os seus companheiros a jogar bem - e a sua equipa a jogar ainda melhor).
Aconteceu o que aconteceu porque todos os seus jogadores jogaram (cada um a seu jeito) um futebol de competência total, fosse em que espaço fosse do campo, fosse em que dinâmica fosse.
Aconteceu o que aconteceu porque nenhum dos seus jogadores se desfez de um futebol firme no seu caráter e apaixonado na sua vontade - e quando foi preciso lutar melhor do que jogar bem, não se retraíram (nem se acobardaram).
Aconteceu o que aconteceu porque o treinador do FC Porto esteve (uma vez mais) em alta esperteza. Teve (uma vez mais) boa ideia de jogo, a ideia de jogo que permitiu que a sua equipa entrasse nele arguta e ameaçadora, sem o mais ténue receio de desconcerto. E foi assim que começou a ganhar jogo que ganhou sem contestação a um Benfica que não deixou de ser um bom Benfica, incapaz, porém, de resistir a um futebol de causar faísca, a futebol de fogo cuspido. (E só por isso, por tudo isso que aconteceu, é que o campeonato não acabou ontem…)