O que a goleada deixa por dizer
Um Portugal sem Ronaldo goleou uma vice-campeã mundial Croácia sem os dois hemisférios do seu cérebro, Rakitic e Modric, a pedido dos próprios. Sem um capitão que em campo funciona como um general, a responsabilidade distribuiu-se naturalmente pelos lugares-tenentes Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Moutinho. Já do outro lado, Dalic não tinha ninguém de patente próxima dos seus craques e fez hara-kiri ao deixar no banco os sargentos Brozovic e Perisic. Sem liderança, os croatas capitularam. Não sendo da sua conta, os portugueses partiram para um jogo sólido e para a goleada.
A Seleção conseguiu-se ligar-se em ataque posicional - a presença de João Félix como falso 9, a vontade de Bruno Fernandes em organizar e as diagonais de Bernardo e Jota forçavam quase naturalmente estratégia - e entregou a profundidade aos laterais e a Jota, que eram ainda capazes de, a espaços, sobrelotar o corredor interior. A vitória era uma questão de tempo. A goleada reforça a ideia de que Portugal pode jogar bem e ainda assim ganhar, mas a estratégia provavelmente será novamente guardada na gaveta, com a influência que Ronaldo recuperará no regresso ao onze e que forçará a um jogo mais vertical, a tentar alimentar as suas finalizações
O resultado esconde, no entanto, algumas imperfeições. Como a pressão não funcionou nos primeiros minutos, a Seleção refugiou-se num bloco médio baixo, o que permitiu fases ainda algo longas de posse de bola croata (ainda que sem presença na área) e deixa algumas dúvidas para os jogos com Suécia e França. Além disso, apesar de o terceiro golo ter sido marcado graças ao engodo gerado pelo posicionamento falso de João Félix, nem sempre os companheiros souberam ler o espaço libertado quando saía de posição. Continua um bom plano, mas precisa de trabalho. Fica a ideia.