O processo João Mário

OPINIÃO05.07.202107:00

Não sabendo como acabará esta ‘guerra’, sei que o Sporting se meteu a jeito. E agora será demasiado tarde para travar estragos

N UM mercado estagnado tanto a nível nacional como internacional - a transferência de Jadon Sancho do Dortmund para o Manchester United por €85 milhões é a exceção numa feira mais animada em torno dos grandes nomes (Messi, Sergio Ramos...) que lhe chegam livres -, João Mário promete ser a grande bomba do verão em Portugal. Não apenas por trocar o Sporting pelo Benfica, porque, sejamos honestos, são já tantos os casos que está mais do que na hora de passarmos a olhar para situações destas como normais. Até mesmo como desejáveis - e não só em casos de jogadores em final de contrato ou cedidos por emblemas estrangeiros... - se quisermos ter um futebol verdadeiramente competitivo. O que promete, verdadeiramente, causar impacto é a forma como o Sporting reagirá a este ataque do Benfica a uma das suas principais figuras dos últimos anos, um jogador que chegou a envergar a braçadeira de capitão no ano que que o leão voltou a sagrar-se campeão nacional.
Já fez saber a Direção de Frederico Varandas que irá até às últimas consequências para garantir aqueles que entende serem os seus direitos sobre João Mário caso este se mude, como parece cada vez mais inevitável, para o rival da 2.ª Circular. Nada contra. Se o Sporting acha que tem direito a receber €30 milhões caso o Inter venda o médio a um clube português é compreensível, e até expectável, que lute por isso - se tem razão é outra coisa, mas já lá iremos. A verdade, contudo, é que o Sporting, independentemente de qual seja o desfecho desta guerra, se meteu a jeito. Repare-se: João Mário disse, mais do que uma vez, que queria ficar no Sporting. E o Sporting sabia o que precisava de fazer para, se de facto o quisesse, ficar com João Mário: pagar €7,5 milhões ao Inter. Parecia, portanto, um negócio simples. Só que não. Os leões nunca se aproximaram dos valores pretendidos pelos italianos - que não são, convenhamos, nada do outro mundo... - e deixaram que ficasse no ar a ideia de que João Mário não era, afinal, assim tão prioritário. Foi essa, pelo menos, a ideia que passou para a opinião pública e foi assim também que, de forma legítima, o entendeu o jogador. Não sei se João Mário ficou, efetivamente, magoado com o Sporting, mas admite-se que tenha visto as suas expectativas defraudadas. De qualquer forma, independentemente da forma como tenha João Mário encarado esta, chamemos-lhe assim, hesitação do Sporting, tem o jogador, naturalmente, todo o direito de chegar a acordo com outro clube onde se sinta, efetivamente, desejado. Mesmo que seja o Benfica. Ninguém lhe pode levar a mal. Aliás, devem os adeptos leoninos que gostariam de ver João Mário continuar no Sporting despejar a sua frustração por vê-lo no grande rival - caso a transferência se concretize, como, repito, parece inevitável - não em João Mário mas na Direção de Frederico Varandas, que teve todas as condições para segurar o jogador mas, seja por que razão for (também legítima, diga-se), as desperdiçou . Os outros, os que não se importam de não ter João Mário em Alvalade - seja de fora ou de dentro do Sporting - não se devem preocupar com o facto de ele ir para o Benfica. Parece simples, não?

MENOS simples é, convenhamos, a tal cláusula do contrato assinado entre Sporting e Inter que os leões entendem dar-lhes direito a receber €30 milhões caso o jogador seja vendido a outro clube português. Não tenho, admito, escola para fazer uma leitura segura ao documento. Mas mais do que uma cláusula antirrivais, cuja legalidade é, no mínimo discutível, o que me parece estar em causa é um direito de preferência. Ou seja, se o Benfica oferecer €7,5 milhões para garantir João Mário, o Sporting terá de ser avisado para cobrir a proposta. Não haveria, há uns meses, problema. O Sporting pagava o mesmo ao Inter e o jogador ficava onde sempre disse que queria ficar. O problema é que as coisas mudaram. Por culpa do Sporting. E se tudo for, de facto, assim tão simples não há muito que o Sporting possa fazer para impedir João Mário de ir para o Benfica, como parece ser, agora, o seu desejo. É demasiado tarde. É como em tudo na vida. O que para mim é dispensável para outro pode ser um bem de primeira necessidade. Ninguém tem de ficar chateado. E o bem não tem, de certeza, culpa de como eu olho para ele...