O plano que falta para o pós-Covid
CONFESSO! Para alguém que é, como eu, viciado em futebol, a saudade aperta. Corrói-nos por dentro. E a ressaca, essa, deixa-nos ainda mais expostos à pandemia, já que o vazio dos dias e falta de realização pessoal que os acompanha têm certamente efeito imunossupressor. É por aí que a tristeza nos aproxima ainda mais da doença, sem que haja pouco mais a fazer do que esperar. A falta de futebol mata-nos, mas o seu regresso agora aproximar-nos-ia mais rapidamente do fim. Parado, fica presente nas nossas mentes: se ninguém joga é porque é mesmo grave. É como as filas nos supermercados ou a escuridão das ruas vazias do Bairro Alto à sexta e ao sábado à noite. Se ninguém joga, que as pessoas também não saiam de casa! Por favor!
Escrevi aqui há uma semana que seria fundamental aproveitar bem o tempo para pensar mais no jogo, irmos além das medidas de sustentação do negócio-futebol, embora os portugueses gostem demasiado da expressão Depois logo se vê, em nome da reação imediata ou do desenrascanço. Não é fácil, porque não conhecemos ainda a profundidade da crise que aí vem, mas é certo que o futebol português vai precisar de um plano, de ideias novas e de uma união que nunca teve até aqui. Os últimos dias têm trazido várias manifestações de solidariedade, e vai ser preciso muito mais e muito depois de a tempestade ter passado.
Se a Liga já era das mais fracas e os mais fracos são aqueles que mais sofrem, o esforço para reerguer-se será enorme e terá de assentar em clubes, organismos e outros agentes desportivos em igual medida. Ou seja, não haverá espaço para guerras civis. E isto só para reerguer-se, porque para passar a fazer parte realmente do mapa europeu seria preciso uma revolução que ninguém tem coragem para fazer.