O Pinho do Eça
Por que no final do Chelsea-FC Porto me apareceu na cabeça, o Pinho (em metáfora)
NOS romances do Eça há sempre metáfora para o que é a vida ou o futebol - e, no final do Chelsea-FC Porto, lá encontrei o Pinho (de A Correspondência de Fradique Mendes), retornado do Brasil que se fizera comendador e para quem a vida na Travessa da Palha passara a ser o Universo que constava de duas únicas entidades:
- … ele próprio, Pinho, e o Estado, que lhe dá os seis por cento.
Para o Pinho, o Universo estava todo perfeito, a vida estava toda perfeita, desde que, graças às águas de Vidago e ao ágio, fosse conseguindo o que queria:
- … apetite e saúde, que o Estado continue a pagar fielmente o cupão, que a polícia mantenha a ordem e que não se produzam nos princípios e nas ruas distúrbios nocivos ao pagamento do cupão.
Se lhe falassem dos «problemas do sentimento», atochado retorquia que talvez pretendesse um pouquinho mais:
- … modestamente não apanhar uma doença e quanto à alma que depois de morto não me enterrem vivo!
Tendo a boa alma morta pela inveja e o egoísmo, a avareza e a preguiça e pelo medo que o fazia mais pequeno (sem que o sentisse…) - Fradique considerava-o uma «excrescência sebácea», notando-o, contudo, ainda, no remoque:
- Nos nossos tempos, em que o Estado está cheio de elementos mórbidos, que o parasitam, o sugam, o infeccionam e o sobrexcitam, esta inofensibilidade de Pinho pode mesmo (em relação aos interesses da ordem) ser considerada como qualidade meritória...
A esse Pinho não o vi (em nenhum momento) no FC Porto, contra o Chelsea - e se tudo acabou como acabou foi porque o futebol é mesmo assim: nem sempre ganha quem o joga melhor. Ou quem o joga melhor por ter o treinador que tem (sem o Pinho) a injetar paixão no coração da equipa, a depurar-lhe fraquezas com sua argúcia, a dar-lhe a empatia dela ser um corpo de 11 (+5 e não só...) cabeças, todas elas incapazes de pensarem:
- … e quanto à alma que depois de morto não me enterrem vivo...