O outro ganho
O Sporting venceu (sem ser na taluda...) a Taça da Liga - mas, para mim, quem primeiro começou a ganhá-la (aliás, a ganhar bem mais do que isso...) foi Frederico Varandas, ao dizer o que disse num corredor de Braga a arder:
- Perdi em Tondela, perdi com o Portimonense - e perdi bem. Empatei com o FC Porto e empatei bem. Há três formas de encarar a derrota: com dignidade, com a versão histérica e com a versão cobarde, culpando outros. Mas a arbitragem está muito melhor, com o VAR. A arbitragem está mais livre…
O resto que ele afirmou (e bem, também…) não vale a pena repetir - o que, para mim, vale a pena repetir é a minha ideia: dele a ganhar - por não se ter deixado sequestrar pela versão cobarde ou pela versão histérica das línguas incendiadas por corações em cinzas. Por isso, ganhou - e saiu do jogo em dignidade.
Saiu do jogo em dignidade porque se houve alguém que um dia disse que errar é humano, ainda mais humano é atribuir o erro aos outros - Frederico Varandas não deixou que a tentação o levasse a atribuir a culpa do erro aos outros (o que, no futebol, é quase sempre, o atribuir da culpa aos árbitros - umas vezes mais patéticas que outras, umas vezes mais fabuladas que outras).
Saiu do jogo em dignidade porque se houve alguém que um dia disse que o objeto da oratória não é a franqueza é a persuasão - Frederico Varandas não deixou que o objeto do seu discurso fosse o engano, o embuste, a dissimulação, o condicionalismo, o farisaísmo, a má fé.
Saiu do jogo em dignidade porque se houve alguém que um dia disse que nunca algum poeta interpretou a natureza de forma tão livre como um advogado interpreta a verdade - Frederico Varandas não deixou que o engodo (ou pior...) o enrodilhasse na interpretação das verdades do VAR (que são muito maiores do que as suas suspeitas e momentâneas mentiras...) com mais ardis ou trapaças do que o advogado da frase a interpretar apenas o que lhe convém, vendo ou mostrando apenas o que lhe convém.