O neto que todas as avós querem
Dos livros de história já não se vai livrar Bruno Lage: a meia época ao serviço do Benfica será recordada daqui a 20 anos das mais variadas formas e há muito por onde escolher: desde a reviravolta na classificação, a recuperação de vários jogadores, o 10-0 ao Nacional ou os 103 golos. Outros treinadores (e respetivas personalidades) provavelmente iriam recordar-nos estes registos até não haver mais voz ou papel, mas o mais recente treinador campeão parece pertencer a uma casta diferente: terá, até, uma excessiva humildade que só será verdadeiramente compreendida se mantiver o registo em momentos de insucesso.
O que Lage já percebeu, apesar da pouca experiência no cargo, é que a linha que separa o elogio da crítica ao treinador do Benfica (um cargo mais escrutinado que o do primeiro-ministro) é tão frágil quanto um fio de seda. Lage recebe agora todos os louvores. E são mais que merecidos. Porque além da excelente condução de um plantel, o comandante das águias trouxe um discurso que deixa os sanguinários sem argumentos. Porque trata os rivais como adversários e não como inimigos; porque relativiza o que deve ser acessório; porque prioriza o essencial; porque é, como diria Joseph Blatter sobre Messi, o neto que todas as avós queriam ter.
Mas esta aura só dura quando se ganha. Lage teve uma grande vantagem: tinha pouco a perder porque agarrara uma equipa em cacos e só os loucos lhe poderiam exigir o título. Na próxima época tudo será diferente: vai ser um dos máximos responsáveis pela construção (retoques) do plantel numa época em que as águias apostam numa Champions sólida, à semelhança das do FC Porto. Como se diz na gíria, vai aumentar a parada. Mas se há um homem capaz de surpreender é sem dúvida o treinador do campeão nacional.