O leão merece o título

OPINIÃO04.05.202107:00

O Benfica sofreu escandalosa derrota no Bessa e não mais recuperou da vergonha; o FC Porto só uma vez encabeçou a Liga nas 30 jornadas já realizadas

JÁ se avista a linha de meta e quem é líder à 30.ª jornada sê-lo-á também quando se completar a 34.ª e última desta longa corrida, que, dezanove anos depois, vai consagrar o Sporting  como campeão nacional.  Talvez esteja a precipitar-me,  porque ainda estão doze pontos por decidir e o emblema do leão só tem seis de vantagem, mas quem tomou conta do primeiro lugar à sexta ronda e não mais o largou é merecedor, no mínimo, deste sinal de confiança.
O Benfica entrou em força e sentou-se no primeiro lugar em quatro das primeiras cinco jornadas, mas no dealbar de novembro sofreu escandalosa derrota no Bessa e não mais recuperou da vergonha, entretanto escondida por detrás da pandemia, que  tudo abarcou e tudo desculpou, como o treinador tem defendido de cada vez que  se justifica à nação benfiquista, recusando ter falhado,  porque, declarou, poucas vezes falha. Sim, foi o maldito Covid-19 que o impediu de ser campeão, como se tem afadigado em proclamar, ao mesmo tempo que adverte os que não aplaudiram o seu regresso para não ficarem à espera de o ver pelas costas porque, sublinhou, não vai sair «por pé nenhum».
Pudera! Com a generosidade do seu contrato, e ainda por cima sem a responsabilidade de objetivos para cumprir, ele que, com a soberba que o caracteriza, afirmou, na cerimónia de apresentação,  querer assinar por um ano, mas, por pressão do presidente, aceitou um contrato de dois anos, ou de três, ou… até de quatro.  E, se assim for, os adeptos agradecer-lhe-ão, digo eu, se a cada época corresponder um título de campeão nacional e a estabilização do clube na Liga dos Campeões, o que significa, no mínimo, atingir os oitavos de final, empreitada que Jesus, nos seis anos anteriores de ligação ao Benfica, apenas conseguiu em uma ocasião (2012).

OFC Porto só se viu a encabeçar a Liga numa jornada (2.ª) nas trinta já realizadas, ele que,  segundo tema muito em voga, não pode lamentar-se quanto ao número de penáltis assinalados a favor. Pelo contrário, é líder muito confortável, sem concorrência próxima, com quase o  dobro de castigos máximos que os árbitros marcaram a seu favor em comparação com o Sporting, por exemplo, porque o Benfica só teve direito a entrar nesta classificação à 25ª jornada, no jogo com o Marítimo, e, por isso, é o último.
 Acerca dos penáltis que os clubes reclamam e os árbitros não assinalaram, a barafunda tem sido ruidosa, com o FC Porto a queixar-se de três em falta no jogo com o Moreirense, o que foi motivo bastante para uma cena à moda antiga, agora com a diferença  de ter sido transmitida em direto  para o mundo. Insultos, apertões e empurrões, perpetrados por  um senhor que toda a gente viu quem era, na presença do presidente do clube, o qual, porém, se deu ao cuidado de anunciar que, além de  não tolerar violência, não testemunhou qualquer agressão: talvez  tivesse reparado apenas em  ligeira reprimenda ao jornalista, feita com bons modos, pelo facto de estar a recolher imagens sem a devida autorização, de aí de lhe ter sido perguntado se havia alguma novidade…
 Não havia. No futebol português, novidades como esta foram despromovidas a banalidades há muitos anos e ainda há quem não tenha entendido ou faça de conta que não entendeu.

EM Alvalade, em jogo um pouco ao jeito do século passado, por culpa do Nacional,  o Sporting  foi na conversa e transformou um triunfo que poderia ter sido fácil e robusto num bico de obra difícil de ultrapassar. Suou as estopinhas e  recebeu o prémio merecido com uma vitória construída nos derradeiros dez minutos.  
Também aqui, denunciam os especialistas, ficaram dois ou três penáltis por marcar a favor do leão e, mais grave, dois vermelhos por exibir a jogadores do Nacional. Outro exemplo de que as coisas, em termos de VAR, estão mesmo a correr mal.
O excesso de rigor na análise das arbitragens por parte dos peritos também não ajuda, pelo contrário, apenas lança mais dúvidas para o ar, por não haver unanimidade em boa parte dos lapsos identificados.

NO jogo de Moreira de Cónegos, apesar da berraria suscitada por responsáveis portistas,   os sábios da arbitragem, sobre os penáltis por assinalar, variam entre três e nenhum.
No encontro de Alvalade, as opiniões são igualmente díspares, sendo de temer a emergência de uma nova corrente empenhada  na purificação do futebol.
Como escreveu Vítor Serpa, ontem, no seu editorial em A BOLA,  «deixem, ao menos, alguma coisa de humano ao jogo de futebol» porque  «a verdade desportiva não pode ser questionada em fotogramas, centímetros, décimos de segundo ou imaginárias unidades de força».      
Creio que se anda à caça de falhas microscópicas, mais no sentido de desacreditar o VAR e de  penalizar o árbitro de quem não se gosta do que contradizer  a história do jogo. O excelente trabalho de Tiago Martins no recente FC Porto-V. Guimarães alertou-me para essa eventualidade.