O lamento!
Sem estar, naturalmente, na posse de todos os dados, e sem o rigor que um assunto desta natureza justifica, parece-me difícil, assim à primeira vista, não considerar de muito mau tom obrigar a equipa profissional do V. Setúbal a realizar amanhã o jogo com o Sporting, tomando, evidentemente, como boas as informações prestadas pelo presidente dos sadinos sobre o estado de saúde de, pelo menos, 14 jogadores do plantel, alegadamente vítimas de sintomas que ultrapassam, segundo o mesmo presidente vitoriano, a «simples constipação ou gripe».
Nem os responsáveis do Vitória estarão a inventar cenário tão preocupante para evitar fazer um jogo - creio que não passará pela cabeça de ninguém que pudessem, sequer, pensar em fazê-lo, quanto mais fazê-lo… -, nem me parece, também, assim tão difícil aos responsáveis da Liga de Clubes avaliarem correta e mais profundamente a situação de modo a poderem, na posse de toda a informação, encontrar, em conjunto com o Sporting, uma solução que permitisse adiar o encontro.
Recusa o Sporting adiar o jogo, argumentando falta de datas para o jogar mais tarde; argumenta a Liga, lavando as mãos como Pilatos, que só é possível adiar por acordo entre os clubes; e fica o Vitória a saber que nem mesmo um caso de saúde pública mexe com o regulamento das competições profissionais de futebol deste País. O que se lamenta! Mas pode sempre, por fim, levantar-se a questão: e se fosse ao contrário?
Ainda no universo sportinguista, e enquanto decorre o julgamento sobre o hediondo ataque à Academia de Alcochete, voltou a destacar-se esta semana o presidente leonino pela determinação, e coragem - como já aqui assinalei, noutra ocasião -, com que procura lutar contra o que o próprio Frederico Varandas designa como «escumalha que não tem lugar no futebol».
Não deviam a Liga, os restantes clubes profissionais, e, sobretudo, e muito especialmente, o Estado português deixar o presidente sportinguista sozinho nessa cruzada. Se o deixarem, é uma vergonha!
Há uma óbvia responsabilidade política sobre os sucessivos atropelos à integridade do espetáculo desportivo - e ao bem-estar de espectadores e protagonistas - como ainda recentemente voltou a verificar-se em Guimarães, durante o último Vitória-Benfica da Liga.
Estiveram os responsáveis encarnados à altura do que lhes é exigido ao condenarem - como não podia deixar de ser - os atos de muitos dos seus próprios adeptos em Guimarães. Mas não chega a coragem do presidente do Sporting - que enfrentou, como nenhum outro líder até hoje, as claques do próprio clube que lidera - nem chegam comunicados como este último do Benfica. É preciso que as autoridades do País façam o que estes autênticos casos de polícia reclamam: controlo, identificação, punição e expulsão de todos os que violem grosseiramente a ordem em qualquer recinto desportivo. De uma vez por todas, para não termos de voltar, um dia, a lamentar o pior!
ARRANCA o Benfica o primeiro ano com duas notícias que não deixam de ser relativamente surpreendentes: a chegada de um craque como o alemão Julian Weigl e a partida de um craque - como é minha convicção - como o espanhol Raul de Tomas. Se a chegada de Weigl deixará os benfiquistas de boca aberta, a partida de Raul de Tomas deixá-los-á, porventura, e de algum modo, de água na boca.
Todos compreenderão que é extraordinária notícia para o Benfica, mas também para o campeonato português, a chegada do jogador alemão, porque não é evidentemente todos os dias que vemos um futebolista trocar a poderosa Bundesliga pela nossa, ainda por cima quando esse futebolista é internacional alemão, do mesmo modo, com as devidas diferenças, como já tinha sido surpreendente a chegada, nesse caso ao FC Porto, de uma estrela da dimensão, prestígio, qualidade, currículo (absolutamente ímpar) como Iker Casillas.
Weigl é ainda um jovem sem a aura de grande estrela como a que tem o infortunado Casillas. Mas também só mesmo um clube com a grandeza e o potencial (no mercado internacional) do Benfica - e, já agora, o peso e o impacto, queira-se ou não, de um nome como Rui Costa - para convencer alguém, mais do que a trocar o Dortmund pelo Benfica, a trocar a Bundesliga pela Liga portuguesa. Tenho, por outro lado, a ideia de terem acabado realmente os benfiquistas por ver partir outro craque como creio ser Raul de Tomas, um atacante provavelmente a sentir-se tão infeliz na Luz que acredito ter chegado ao ponto de pressionar os responsáveis do Benfica para o deixarem regressar a casa. E quando é assim, pouco há a fazer.
Fica uma certa sina dos benfiquistas de verem (como sucedeu várias vezes nos últimos 10 ou 15 anos) chegar e partir jogadores sem saberem exatamente o que eles valem. O que não podem deixar de lamentar.
Ainda no universo do Benfica, ninguém pode negar ter a águia começado bem o novo ano, a ganhar num palco sempre tão difícil como é o de Guimarães. Não deverá, porém, o Benfica contentar-se com isso, porque se espera sempre que uma equipa como a do Benfica não se contente a ganhar, seja como for e onde for, por 1-0, a não ser que esteja perante adversário de responsabilidade igual ou superior, e, mesmo assim, convém não abusar da sorte.
Acontece que o Benfica que jogou em Guimarães nos primeiros dias do ano foi um Benfica com um futebol tão pobre que chegou a meter aflição ver a equipa de Bruno Lage defender tanto, e por tanto tempo, o precioso, e tão magro, resultado - como fez a águia sobretudo no segundo tempo, período durante o qual o mais difícil parece mesmo conseguir encontrar-se algum momento em que não o tenha feito.
De um modo, apesar de tudo, diferente, de boa acabou, também, por se livrar o FC Porto em Alvalade, onde, podendo ter regressado a casa com derrota clara, acabou por vencer um duelo muito intenso quase só graças à maior experiência e noção do que exige uma partida desta natureza.
Teve o Sporting algum talento, alguma dose de irreverência e organização, e muita efervescência para incomodar um FC Porto que chegou a parecer insuficiente para tão agitado e influente desafio. Mas impôs, por fim, o dragão a força da sua maior rodagem e maturidade.
Por outro lado, nem sempre deve ter sido fácil, mesmo para Sérgio Conceição, ver um desequilibrador talentoso como é Corona (que decisão incompreensível a de deixarem o jogador mexicano escrever o nome que escreve na camisola de jogo…) preso à posição de lateral-direito, como não deve ter sido fácil ao treinador portista voltar a ver tão desperdiçada nova oportunidade dada a Nakajima, e, por fim, calculo que só possa ter sido com alívio que Conceição viu Danilo resistir os 90 minutos de um jogo destes quase… sem poder andar, quanto mais correr!
O que não abona, propriamente, muito a favor do adversário.
Se uma derrota pode, no entanto, dar, apesar de tudo, alguma saúde ao derrotado foi esta derrota do leão. Porque fez o suficiente para não a merecer, sobretudo naquela primeira meia hora do segundo tempo, na qual teve absoluto domínio sobre o jogo e sobre o adversário, talvez a melhor meia hora da época leonina.
Pode ainda o leão tirar de bom um Acuña que, quando não perde tempo a reclamar, mostra ter estofo e dimensão para jogar em qualquer um dos grandes campeonatos europeus, e um Bruno Fernandes que é um jogador tão excecional que, com todo o respeito pela decisão do seu treinador, meteu alguma impressão vê-lo, nos últimos dez minutos recuar tão inesperadamente no campo como se fosse mais importante ou indispensável tê-lo, a 60 ou 70 metros da baliza contrária, a despejar a bola para a frente do que a tentar, bem mais perto da grande área portista, usar o génio ou o fantástico remate que deus lhe deu para ajudar o Sporting a evitar pelo menos a derrota. Que o leão lamenta!
TENHO enorme admiração por Jesualdo Ferreira, que me habituei a ver como um dos mestres do futebol português, a quem o destino obrigou, infelizmente para ele, a esperar mais de 30 anos, e depois de tanto, e tão bem, fazer pelo futebol, para se ver finalmente reconhecido como grande treinador de futebol e, mais do que isso, como grande senhor do futebol português. Foi, para isso, preciso chegar, recordo, já com mais de 60 anos, ao FC Porto, e, de uma virada, conseguir sagrar-se tricampeão nacional!
Agora, com os 73 anos que ele, invejavelmente, exibe em tão extraordinária forma, mestre Jesualdo aceita, porventura, a mais desafiante das aventuras - a de treinar o vice-campeão brasileiro, o clube de Pelé, que fez, entre outros, Robinho ou Neymar.
Jesualdo merece o tudo de bom que lhe possa acontecer no Santos, assim percebam os brasileiros que não basta, a partir de agora, contratar um treinador português para chegar aos títulos. Não sei se Jesualdo - a quem Jorge Jesus chamou um dia mestre do 4x3x3 - vai conquistar alguma coisa no Brasil. Mas sei que já começou a ganhar com a fantástica conferência de imprensa com que se estreou. Sem nada a lamentar!