O jogo da imitação

OPINIÃO20.09.202106:05

O futebol português não está isento de responsabilidades nos longos calendários

O futebol português foi rápido a unir-se contra aquilo que ainda é apenas uma ideia e que passa, no pressuposto mais conhecido, por passar a haver Mundiais de dois em dois anos, em vez dos atuais quatro de interregno. Se o consenso fosse semelhante na altura de resolver os problemas do futebol português - as dificuldades financeiras dos clubes, as fracas assistências e a incapacidade de gerar interesse além-fronteiras, a justiça tremendamente lenta e o persistente sentimento de impunidade, e o ruído constante vindo das quatro linhas, só para enumerar alguns - teríamos um muito melhor produto. A reação nem sequer é disruptiva, segue a linha do que têm dito várias individualidades ligadas ao jogo, desde treinadores a dirigentes. Imitamos.
Se a maior parte dos princípios elaborados para tal tomada de posição são oportunos e não deixam margem para discórdia, sobretudo no que diz respeito à sobrecarga dos jogadores, a verdade é que o novo modelo predispunha-se pelo menos a rever os atuais calendários, que deixam os clubes sem os seus melhores jogadores por vários períodos a meio dos respetivos campeonatos, interferindo obviamente com a dinâmica das próprias ligas. Novamente, trata-se da questão do produto, mas também de mais limitações para o trabalho por parte dos treinadores. O que se passou na última paragem - e teremos outra em breve -, com jogadores a chegar aos clubes na noite anterior para jogar é um exemplo gritante de que alguma coisa tem de ser feita. Não é por ainda não se ter solução que não se deve discutir o problema.
Além disso, os organismos portugueses não estão isentos de responsabilidades na questão do calendários. Basta olharmos para o excessivo número de equipas que tem a Liga ou mesmo para a existência de uma Taça de Liga ainda muito pouco relevante.