O jogador certo à hora certa
João Mário era aquilo de que o Benfica precisava. O que não quer dizer que fosse, também, aquilo de que precisava o Sporting. Às vezes é assim, simples
JOÃO MÁRIO tem sido, é inegável, uma das figuras do francamente positivo arranque do Benfica em 2021/2022. Quatro vitórias em quatro jogos e, mais do que as vitórias, exibições (umas melhores do que as outras, como é normal, tendo em conta também a rotação por que Jorge Jesus tem optado nesta fase em que o mais importante é a chegada à fase de grupos da Liga dos Campeões) que deixam os adeptos otimistas numa época melhor do que a passada - não é, convenhamos, nem pedir muito nem assim tão difícil…
Voltando ao início: parte deste sucesso - mesmo tendo em conta a fase muito embrionária da temporada e de como tudo pode mudar num ápice, caso as coisas corram mal no play-off com o PSV - da nova águia deve-se, muito, a João Mário. Mais do que ao conhecimento que a equipa leva depois de um ano a trabalhar junta ou da forma como os jogadores entenderão, agora, melhor os métodos e as ideias do treinador, o grande segredo do futebol apresentado pelos encarnados está no reforço que trocou Alvalade pela Luz via Milão.
Estava, desde o tempo de Bruno Lage, à vista de todos que o principal problema do Benfica estava no meio-campo. Primeiro discutiu-se a falta de um trinco, em especial desde a chegada de Weigl, que não é, nem nunca será, um daqueles 6 à moda antiga. O alemão provou, contudo, já na temporada passada e com Jesus, não ser, afinal, esse o problema das águias. O problema estava, afinal, ao lado. Chamava-se Taarabt. Não está em causa, note-se, a qualidade do marroquino. Tem características que podem, até, ser úteis à equipa, quando os jogos pedem mais risco, quando as circunstâncias exigem um médio de transporte, que pegue na bola na defesa e a leve, quase, até à área contrária. Nada contra Taarabt, portanto. A verdadeira questão é que quando chega um médio que tem uma percentagem de acerto de passe quase sempre superior a 85 por cento, como João Mário, tornam-se demasiado evidentes as limitações de um médio que falha quase metade das tentativas de passe, como Taarabt. A diferença é gritante e tem, naturalmente, reflexos no futebol da equipa. E não apenas no ataque.
Repare-se: uma das verdadeiras diferenças deste Benfica para o do último ano e meio está não apenas na forma como gere o ritmo dos ataques - algo em que Jorge Jesus já disse ser João Mário perito - mas, especialmente, no modo como se mantém, quase sempre, equilibrado a defender, permitindo não só estabilidade a quem tem a tarefa de defender como segurança a quem só tem, quase, de se preocupar em atacar, sem estar sempre com medo que o médio de transporte perca a bola e desequilibre a equipa. E isso, em especial para uma equipa como o Benfica, que passa a maior parte dos jogos a atacar, faz toda a diferença. Aliás, muda tudo, como parece estar à vista de todos. Daí que mais do que o tempo de trabalho em conjunto ou a adaptação aos métodos e ideias do treinador, às vezes basta ter o jogador certo à hora certa para transfigurar uma equipa. No Benfica, esse jogador é João Mário.
ESTÁ o sucesso de João Mário no Benfica a incomodar o Sporting e os sportinguistas? Admito que para alguns adeptos leoninos faça confusão ver João Mário a brilhar no rival. É normal. Mas as coisas têm de ser colocadas em perspetiva. A Direção do Sporting, certamente em consonância com o treinador, decidiu, quando teve a oportunidade de garantir, sem problemas de maior, o jogador, adiar ou, se calhar, deixar cair essa hipótese. Estão, Frederico Varandas e Rúben Amorim, no seu direito. Aliás, as declarações do técnico do Sporting há poucos dias deixaram evidente que entende ter, no plantel, jogadores que farão o papel de João Mário, aplicando a SAD os milhões (que não seriam poucos) que teria de gastar na sua contratação em setores em que o plantel não terá tantas soluções. São opções. Algumas são difíceis, mas têm de ser tomadas. E não devem, os sportinguistas, criticar a de Amorim e de Varandas só porque João Mário pode vir a ter sucesso no Benfica. Até porque, lá está, nada lhes garante que teria o mesmo sucesso no Sporting. Porque ser João Mário exatamente aquilo de que o Benfica precisava não o torna, necessariamente, no jogador que o Sporting precisava também. É tudo uma questão de necessidades. E o Sporting tinha outras. Simples.
OCovid voltou a causar polémica, desta vez por causa da falta de entendimento entre Santa Clara e Moreirense para adiar o encontro apesar dos dez casos nos açorianos. É uma discussão estéril. E muito mais estéril é culpar a Liga por isso. Se os clubes querem que o Covid não seja visto como uma lesão, que aprovem regulamentos que o digam. Até isso acontecer, têm de se entender. Sim, sei que dizer isso pode parecer piada. Mas mais cómico é ler e ouvir justificações idiotas para esconder o essencial: em Portugal é cada um por si...