O futuro do Félix
No futebol poucas coisas há que me irritem mais do que as algaraviadas dos idiotas da objetividade, aqueles idiotas da objetividade do Nélson Rodrigues que nunca se deixam levar para além dos factos concretos ou das ideias fechadas - e que não percebem que o encanto do futebol se faz do mistério que é ele não ter de viver de obviedades ou de certas verdades (que às vezes são mentiras a embuçarem-se).
E sim: alguns desses idiotas da objetividade têm andado em frenesim por causa do João Félix. Ou melhor: do futuro do João Félix - insinuando (ou pior) que a sua decisão de ir para o Atlético Madrid lhe pode amachucar esse futuro, porque outro deveria ser o seu destino (o City de Guardiola, por exemplo). Ouvindo-os nos seus clamores, não largo de pensar no que o Hemingway descobriu (ao tentar escapar dos alçapões que o atormentavam):
- Um homem nunca se deve pôr em posição de perder o que não se pode dar ao luxo de perder.
E, não: não acho que no Atlético Madrid, o Félix se vá dar ao luxo de perder o que não pode perder: a sua imortalidade. E quando acho que não a vai perder, acho-o por não ter grandes dúvidas de que nele o futebol nunca deixará de nascer na cabeça (sem pressão) que põe nos pés com que joga qualquer jogo dentro do jogo (mesmo tendo de jogá-lo dentro da ideia que o Simeone gosta de dar ao seu jogo). De que nunca deixará que lhe roubem as virtudes de poeta que o seu futebol tem: criatividade, fantasia e coração (tudo em fogo de artifício). De que nele entre a luz e a sombra, ganhará sempre a luz - e entre o laço solto e o nó cego, a alma nunca se enganchará no nó cego. É isso o ser craque - e é isso que o Félix é. E sendo-o, sê-lo-á em Madrid, como o seria em Manchester (ou para onde mais o levassem - flor em botão).
PS: Sim, também é minha convicção que foi através de um desses idiotas da objetividade (de um ou mais que um) que o João Félix escapou do FC Porto para a imortalidade que o espera (airosa).