O futebol português está a mudar?
A meia-final da Taça da Liga deu-nos uma perspetiva, ainda pouco analisada e comentada, daquilo que poderá ser, em termos muito reais e objetivos, o crescimento competitivo, tanto do SC Braga como do Vitória Sport Clube, de Guimarães.
É evidente que apenas dois jogos não serão, só por si, suficientemente elucidativos, mas o facto desta final four ter proporcionado jogos diretos entre as duas equipas do Minho e dois dos chamados grandes do futebol português, permite-nos uma comparação mais significativa e mais consistente.
Há muito que Braga e Guimarães se assumem como cidades de futebol e de duas equipas que as representa. Historicamente, Guimarães ganhou, mesmo, o direito a ser considerada, no futebol português, uma cidade diferenciadora porque o Vitória é, de facto, o primeiro clube dos vimaranenses, que com ele se identificam e por ele sofrem alegrias e tristezas. Mas também é verdade que Braga se tem aproximado, cada vez mais, da sua equipa. Um processo lento, difícil, no qual a estável presidência de António Salvador tem investido com indiscutível sucesso.
Se olharmos, sem preconceitos, para o SC Braga-Sporting e para o FC Porto-Vitória, a primeira ideia que imediatamente teremos é a de equilíbrio. Um equilíbrio que no primeiro caso é mais real do que no segundo, porque ao contínuo ascendente da equipa agora treinada por Rúben Amorim, tem correspondido um reconhecido deslizamento descendente do Sporting, o que, de facto, leva a que, do ponto de vista da própria formação do plantel, não haja notória diferença de qualidade e se alguma houver, até poderá ser favorável aos minhotos.
No segundo caso, a situação é diferente. O equilíbrio, em termos de discussão de um resultado e do acesso à final, tornou-se possível, não tanto pela equidade de meios, ou seja de jogadores, mas pela margem de manobra tática que o jogo permite, tornando mais próximas e mais competitivas equipas que, no caso em questão, ainda estão algo distantes.
Mas há, a meu ver, um sinal de novidade que este nosso futebol, quase sempre sem grande vontade de mudança, está a dar e que tem passado despercebido do grande público e das grandes discussões futeboleiras dos media nacionais.
E esse sinal de novidade, a par de ser percetível que, de uma forma geral, se treina e trabalha cada vez melhor nas equipas portuguesas, chamadas de futebol profissional, tem uma expressão considerável na forma sustentada como o SC Braga, à frente de todas as outras, mas também o Vitória de Guimarães, tem vindo, com mais longos ou mais curtos intervalos, a crescer do ponto de vista, estrito, da qualidade dos seus jogadores e das suas equipas, mas também do ponto de vista das estruturas e da organização.
Acho que devemos ter em especial atenção estes sinais e acho que o futebol português tem tudo a ganhar com uma eventual e agora mais do que nunca possível aproximação dos seus clubes médios ao patamar da grandeza possível do futebol nacional.
Julgo que o ponto de situação atual da parte superior da tabela do futebol português se mostra mais dinâmica do que nunca e, por isso, deve ser acompanhada com especial atenção.
No topo, o Benfica tenta descolar para uma liderança absolutista e o FC Porto luta desesperada e heroicamente para não deixar fugir o seu rival e não assistir a um novo ciclo de hegemonia benfiquista; e abaixo desta luta a dois, o Sporting tenta resistir em manifesta dificuldade, enquanto o Minho se afirma como uma região de futebol grande, com dois polos centrais, em Braga e Guimarães.