O fosso

OPINIÃO06.09.201901:31

Há mais de um ano, desde que assumiu a disponibilidade para se candidatar à presidência do Sporting, que é conhecida a pouca habilidade comunicacional de Frederico Varandas. Tem-se notado alguma evolução do líder leonino neste capítulo e na última entrevista ao canal do clube foram evidentes alguns progressos, especialmente na parte final, quando foi mais genuíno nas palavras. Foi nesta fase que soltou a palavra fosso. A analogia é feliz porque se há coisa que sempre irritou os adeptos do Sporting desde a construção do novo estádio é o fosso que rodeia o relvado e os coloca mais longe, em termos visuais, do centro da ação. No fundo, é o mesmo fosso reconhecido por Frederico Varandas que existe do Sporting para os rivais, por muito que uma larga fatia dos associados e adeptos do clube não o reconheçam. E o fosso não é apenas resultante da maior capacidade financeira dos rivais, que terá tendência a ser ainda maior se os outros continuarem a ir à Champions e os leões não. O fosso também foi cavado na instabilidade; na inexistência duma figura agregadora nos últimos anos; no poder das bancadas; nos enormes egos que sempre gravitaram por Alvalade; na sapiência autista de muitos elementos dos órgãos sociais dos últimos mandatos sem resultados visíveis desse suposto conhecimento; na híper valorização de resultados que por vezes não passaram de epifenómenos; na aposta cega na conquista de um título de campeão descurando por completo a génese do clube, a formação; na deterioração de todas as estruturas patrimoniais do clube; na condescendência para com supostos anjos salvadores com egos do tamanho de condores e asas de periquito. São muitas as razões para o fosso e para que este se tornasse cada vez mais fundo.
Fazendo uma analogia entre o Sporting e um ciclista, o leão tem ido montanha acima com imensos a empurrarem-no para cima mas com o ciclista com três toneladas às costas e a concorrência bem mais leve. Será possível ganhar uma etapa assim? Duvido.