O estado a que ‘isto’ chegou
«Isto está a ficar quase insuportável, pois está a passar-se o limite do respeito pelas pessoas, mesmo em termos de vocabulário, com afirmações e insultos que não é bom para ninguém.» A frase é de Sérgio Conceição e merece ser aplaudida, como merece qualquer uma de alguém que chame a atenção para aquilo em que se transformou o futebol português. Encerra, contudo, dois problemas. O primeiro é que não está totalmente correta. Porque isto não está a ficar quase insuportável nem está a passar-se o limite do respeito pelas pessoas. A forma correta de dizê-lo, para não fugir à verdade, é que isto está insuportável e há muito se passou o limite do respeito pelas pessoas. O segundo é que não pode, ou não deve, o treinador do FC Porto fazer de conta que ele próprio, e o clube que representa, não são, também, responsáveis pelo estado a que isto chegou. Porque não há, ao contrário do que quase todos querem fazer crer, apenas um culpado por aquilo que se está a passar hoje no futebol em Portugal. São, somos, muitos os culpados. Presidentes, dirigentes, treinadores, jogadores, árbitros, jornalistas, comentadores e adeptos. Era bom que todos o percebêssemos, pois só com a admissão dos erros poderemos avançar, de facto, para a sua resolução. Não se pode querer ser parte da solução e continuar a ser, ao mesmo tempo, parte do problema. O futebol português só pode andar para a frente se deixarmos de ser como o miúdo que parte o vidro do vizinho e começa aos gritos a acusar o amigo que lhe deu a pedra para a mão, como se nada tivesse, ele próprio, a ver com o assunto. É hora de sermos, todos, homenzinhos e assumirmos as nossas culpas. Porque isto não chegou onde chegou por artes mágicas. E também não mudará por magia.
«Fico muito frustrado com as derrotas, mas gosto de olhar para dentro e ver onde errámos. O VAR é importantíssimo para o futebol português. Há que melhorar em outros aspetos.» A frase é de Frederico Varandas e merece ser aplaudida, como merece qualquer uma de alguém que chame a atenção para aquilo em que se transformou o futebol português. Não encerra, nela própria, qualquer problema de maior, pelo menos enquanto o presidente do Sporting se mantiver fiel a este princípio mesmo depois de perder com um ou outro erro de arbitragem. Merece, ainda assim, Varandas o benefício da dúvida, pois será, de todos, aquele que menos culpas terá nesta espécie de vale tudo contra os árbitros - se por andar cá há menos tempo que os outros se verá mais à frente. O único problema da frase foi mesmo o facto de ter aproveitado aquele iluminado momento de superioridade intelectual para uma indireta a Luís Filipe Vieira e outra a António Salvador. Porque um dos aspetos que há que melhorar é precisamente esse: resistir à tentação de atacar os rivais só porque se tem uma câmara ou um microfone à frente e por muito que eles o mereçam. Caso contrário será, sempre, pescadinha de rabo na boca. Não pode Varandas chegar a um cruzamento e querer virar para a direita e para a esquerda ao mesmo tempo. Se quer ser diferente, que o seja de facto. E não só no que lhe convém.
Vários problemas tiveram as frases de Luís Filipe Vieira após o jogo com o FC Porto na Taça da Liga. É evidente que a dupla Carlos Xistra/Fábio Veríssimo teve noite para esquecer, em especial o segundo, que nunca conseguiu ser aquilo que o VAR nasceu para ser. Mas dizer, por isso, que não pode apitar mais é ir demasiado longe. Seria o mesmo que dizer que Vieira, por um dia ter contratado craques como Bebé, Taarabt, Carrillo ou Yannick Djaló, não poderia mais ser presidente do Benfica. Todos erramos.
P.S. - As frases de António Salvador depois do SC Braga-Sporting não merecem comentários. A forma como colocou em causa a honra de todos aqueles de que se lembrou só porque mostraram uma opinião diferente mostra, apenas, que há gente a mais no futebol. Ou, pelo menos, no futebol que pretende quem dele de facto gosta. Porque, infelizmente, nisto que se transformou o nosso futebol qualquer um tem lugar.