O enorme erro de Varandas

OPINIÃO03.11.201803:00

O jovem e recém-eleito presidente do Sporting tomou a sua primeira grande decisão: despedir o treinador. Que Peseiro nunca foi considerado como o treinador que Frederico Varandas gostaria de ver à frente do futebol do Sporting era, até, demasiado evidente. E tão públicas e notórias foram as suas declarações que todos aqueles que conhecem alguma coisa de futebol e de balneários de futebolistas perceberam que o treinador, de tão fragilizado pelo próprio presidente, estava ferido de morte.


Que era, apenas, uma questão de tempo sabia-se. Sabiam os sportinguistas, os jogadores, o enxame de comentadores nacionais e, sobretudo, José Peseiro.


Não se pode, pois, falar em surpresa nesta decisão. E, no entanto, ela é apressada e extemporânea.


Apressada porque fica demasiado ligada a resultados que, desportivamente, nada definiram mas foram tão exuberantemente contestados por alguns adeptos leoninos que os levou a exigir a cabeça do treinador, vontade que Varandas cumpriu o mais rapidamente que conseguiu, deixando a sensação perigosa de ter agido para contentar esses adeptos mais insatisfeitos e ruidosos; extemporânea porque estamos numa fase da época em que o Sporting terá muita dificuldade em encontrar alguém com suficiente competência, dimensão e disponibilidade para pegar numa equipa retalhada por acontecimentos que certamente o presidente não esquecerá e, ainda mais importante, num projeto de futebol profissional que ainda ninguém sabe bem o que é, nem, sequer, o que Frederico Varandas deseja que seja.


Afetado por uma preocupante crise financeira, fragilizado na confiança de jogadores, que se dividem entre os que decidiram ficar, os que decidiram voltar e os que puderam vislumbrar uma oportunidade pela ausência de todos os que saíram, o Sporting precisava e ainda precisa de uma época (no mínimo) de luto, durante a qual os seus novos responsáveis deverão pensar um projeto de afirmação de identidade.
Não se pode dizer que seja uma época para deitar fora, porque é sobre ela que Varandas e a sua equipa terão de trabalhar e planear o futuro. Evidentemente, percebia-se  que nesse futuro não cabia Peseiro e o presidente do clube teria sempre de ser soberano na escolha do seu treinador, do homem que lhe dará mais confiança profissional, na figura central da recuperação do futebol do Sporting. E é por isso que a decisão de Varandas foi um enorme erro.


Talvez por ser jovem e inexperiente neste mundo complexo do futebol profissional Frederico Varandas tenha pensado que esta era uma boa altura para se afirmar perante o clube, o país, quiçá o mundo. Não me parece ter escolhido a melhor altura nem, mesmo, a melhor forma.
Admitamos que o presidente, pensando como os adeptos mais críticos do atual momento da equipa de futebol, entende que nem as exibições nem os resultados eram aceitáveis, mesmo num quadro em que os condicionalismos são tão evidentes. Seria entendível que, por tais pecados, despedisse o treinador se o problema do Sporting fosse o presente, se a equipa estivesse afastada de todos ou dos principais títulos e, sobretudo, se já tivesse uma solução na manga.


Pelos vistos nenhuma destas condições se verifica e com uma agravante: ou Varandas faz de Tiago Fernandes um treinador para o resto da época, e espera o momento certo para ter mais oportunidades e critérios de escolha, ou vai mesmo ter de andar com uma candeia acesa à procura de um homem que preencha as raras e complexas necessidades do futebol profissional do Sporting.