O Desporto perante a nova ordem mundial
Num Mundo tão incerto, qual o impacto de tanta imprevisibilidade sobre o Mundial de Clubes, o Mundial de Seleções, ou os Jogos Olímpicos, que têm os Estados Unidos como denominador comum?
A recente decisão de Donald Trump de agravar em 25 por cento as taxas aduaneiras das importações provenientes do Canadá e México, não terá sido a mais ‘interessante’ do ponto de vista do ambiente que se instalará na organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2026, a cargo de norte-americanos, canadianos e mexicanos. Se bem que a tripla candidatura da América do Norte tivesse sido desenhada ainda no último mandato de Barack Obama, foi já depois da primeira tomada de posse de Trump, a 20 de janeiro de 2017, que foi confirmada, avaliada e declarada vencedora, com 66 por cento dos votos no Congresso da FIFA, de 2018, em Moscovo. Aliás, o envolvimento do atual presidente dos Estados Unidos no Mundial/26 e também no Mundial/25 de Clubes, ficou bem patente no discurso que proferiu em 19 de janeiro passado, na véspera da sua segunda tomada de posse, que levou Gianni Infantino, presidente da FIFA, a responder-lhe, afirmando: «que honra e privilégio incríveis são sermos reconhecidos pelo Presidente Donald J. Trump, durante o seu discurso no comício da vitória em Washington DC., agradecendo-nos pelos eventos que estamos a organizar nos Estados Unidos.»
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No Mundial de Clubes (14 de junho a 13 de julho de 2025), a realizar em doze estádios norte-americanos, que contará com a presença de três clubes mexicanos – Pachuca, León e Monterrey –, ter-se-á uma primeira ideia de como vai decorrer a movimentação de adeptos que, aos milhares, viajarão do México para os Estados Unidos para apoiar os seus emblemas. No ano seguinte, dependendo da forma como a ‘guerra fiscal’ evoluir, saber-se-á qual o nível de cooperação possível, sendo certo que a FIFA terá a tutela técnica sobre ambas as competições (o que é um descanso). Para já, sem que possa falar-se em problema grave, fica pelo menos uma pequena pedra no sapato, que não é nem um pedregulho, nem um grão de areia.
Mas há mais: Los Angeles vai receber os Jogos Olímpicos de 2028 (14 a 30 de julho), ainda durante o mandato de Donald Trump, que expirará a 20 de janeiro de 2029. Em 1984 (presidência de Ronald Reagan), nos Jogos de boa memória para Carlos Lopes, também realizados naquela cidade californiana, o bloco de leste decidiu boicotá-los, em retaliação ao boicote aos Jogos de Moscovo/80, decidido pela administração Carter por causa da intervenção soviética no Afeganistão, que arrastou a maior parte dos atletas de outros 65 países. Provavelmente é demais, pelo estado das coisas, querer adivinhar como estará o Mundo em 2028 – até porque ainda vão passar muitas luas sobre a Casa Branca e os desígnios de Trump, como se sabe, são desconcertantemente insondáveis -, mas se em relação ao futebol haverá a tal pedrinha no sapato, que não impede de andar, mas incomoda, na questão olímpica devemos ficar, pelo menos, com a pulga atrás da orelha…
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Façamos votos para que a vocação do Desporto para a paz, que vem do tempo das tréguas olímpicas na Grécia Antiga, possa contribuir para alguma distensão num Mundo em que, de repente, o que era dado por adquirido deixou de sê-lo, e o que hoje é verdade amanhã será mentira…