O custo!
No futebol, há decisões que podem custar muito mais do que se pensa
E SCREVO, na verdade, já com algum atraso, mas não me sai da cabeça o caso Slimani, que ainda ninguém conseguiu explicar muito bem o que é.
Slimani regressou, este ano, a Alvalade vindo do Lyon, de França, onde na verdade já não contava muito para o totobola - apenas 16 presenças, seis delas a titular, e 4 golos, na primeira metade da última época. Assinou com os leões por época e meia. Cumpriu parte da meia, mas já está excluído mesmo antes de começar a nova. Se ficar, mesmo sem jogar, deverá custar mais de dois milhões de euros. Pior é se o custo de o afastar vier a estender-se às relações e ao espírito da própria equipa.
Slimani regressou porque lhe fez sentido relançar em Alvalade uma carreira que se aproxima a passos largos do fim, e porque os responsáveis leoninos - sobretudo os dirigentes - perceberam que seria politicamente uma boa decisão pela manifesta consideração que os adeptos dispensam a Slimani.
Poderia ainda ser desportivamente útil, na ausência, até ver, do desejado e esperado maior número de golos de Paulinho.
Rúben Amorim, que a princípio parecia pouco fã de Slimani, acabou por assumir a responsabilidade pela chegada do argelino.
Slimani foi contratado no fim de janeiro e jogou pela primeira vez com Amorim a 6 de fevereiro, em Alvalade, 16 minutos com o Famalicão.
Logo a seguir, mais 25 minutos no empate a 2-2 com o FC Porto, no Dragão. Mas só foi titular no final de fevereiro, com o Marítimo, no Funchal, e fez o golo que valeu, ainda assim, o empate 1-1. Voltou, no jogo seguinte, à condição de suplente com o FC Porto, para a Taça de Portugal - jogou 20 minutos na derrota em casa, com os portistas, na primeira mão das meias-finais.
Pelo resto do mês de março, foi então titular em quatro jogos consecutivos (três para a Liga e um, em Manchester, no empate 0-0 com o City, para a Liga dos Campeões) e fez três golos - dois na vitória 2-0, em casa, com o Arouca, e um, no triunfo por 2-0, fora, com o Moreirense.
Ainda foi titular (ao 4.º jogo consecutivo) na vitória em Guimarães, por 3-1, substituído antes da hora de jogo. E voltou ao banco.
Em abril, jogou 16 minutos com o Paços de Ferreira em casa (V 2-0) e não imaginaria ainda, seguramente, que faria o último jogo com Rúben Amorim, a meio de abril, jogando a última meia hora na derrota (0-2), em Alvalade, com o Benfica.
O que sabemos, depois disso, é que não sabemos muito. Sabemos que Rúben Amorim lhe fechou a porta, sem explicações detalhadas. Saberemos também, pelo que correu nos bastidores, que Slimani se terá aplicado pouco nos treinos que se seguiram ao jogo com os encarnados. Talvez. Mas custa admitir que se afaste definitivamente um jogador apenas por isso.
Slimani, como muçulmano, cumpria o Ramadão (este ano de 2022, entre 3 de abril e 2 de maio), levado, por isso, a rigoroso jejum durante todo o dia, e apenas a alguma refeição durante a noite.
A 21 de abril, Slimani não fez parte sequer dos convocados para novo clássico, da 2.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal, com o FC Porto (derrota por 0-1, no Dragão).
Nessa noite, Rúben Amorim respondeu assim à ausência do argelino: «Foi opção técnica. Volto a dizer: os que treinam melhor são convocados e jogam. É-me indiferente… Eu posso arriscar o meu trabalho, a eliminatória… É-me indiferente, e será assim até deixar de ser treinador,» Perguntaram-lhe se se tinha passado alguma coisa de verdadeiramente anormal. «Não. Foi uma opção», respondeu Amorim.
No dia seguinte, Slimani reagiu com este post nas redes sociais: «Mesmo sem beber, nem comer, sempre treinei arduamente pelo meu clube e ninguém me pode tirar isso.»
Se não jogava por treinar mal, compreende-se. O que é mais difícil de compreender é a decisão de o afastar de vez. Depois do jogo com o Benfica, Slimani não mais voltou a ser convocado, e a partir de certa altura - meados de abril - deixou mesmo de se treinar com os companheiros. Sem qualquer explicação púbica, sem qualquer inquérito, sem qualquer processo disciplinar, Slimani foi, simplesmente, afastado e condenado.
«Tudo o que tinha a dizer sobre esse assunto [o afastamento de Slimani] foi dito à direção, em particular ao Hugo Viana, aos jogadores e ao Slimani na cara. É um assunto encerrado. (…) Slimani não fará parte da ideia do próximo ano!», disse Amorim, já na ponta final de abril. E disse mais: «Todos os jogadores são responsabilidade minha. Eu não queria o Slimani no início; depois, percebemos que precisávamos de um jogador assim, vimos vídeos e achámos que seria boa opção. Todos os jogadores são da minha responsabilidade e a culpa de ele estar cá e não ter funcionado é completamente minha.» Por que razão não funcionou como Amorim queria que funcionasse, na verdade, e em bom rigor, ninguém sabe.
Cometeu Slimani alguma infração disciplinar grave? Ou apenas deixou, no entender do treinador, de render e trabalhar o que devia?
Se cometeu infração disciplinar grave, ao ponto de ser excluído, então onde está o respetivo processo? Se Amorim entende que o jogador não lhe dá o que quer, bom, então a condenação parece excessiva.
Slimani esteve três épocas completas no Sporting (contratado, em 2013, por 300 mil euros) antes de se transferir para a Liga inglesa, e render 30 milhões de euros. Não há notícia de qualquer incidente com Slimani durante todo esse tempo, em que fez pelos leões 111 jogos e 57 golos. Os adeptos sempre adoraram a entrega do avançado argelino, e Slimani nunca escondeu sentir-se em Alvalade como em casa.
Agora, nove anos depois, Slimani sai chicoteado do Sporting, num final absolutamente inesperado, surpreendente e avassalador de uma relação que foi de encanto.
Não é fácil compreender o silêncio do líder. Mas é fácil tirar-lhe o chapéu, porque, como ouvi alguém (que sinceramente não recordo) dizer no outro dia, no Sporting, os casos polémicos morrem à nascença. É um mérito. Um grande mérito!
C ONTINUO a escrever, na verdade, com algum atraso, mas não me sai da cabeça a declaração do alemão Roger Schmidt sobre o também alemão Julian Weigl. Quis o novo treinador do Benfica, e bem, parece-me, na primeira conferência de imprensa na Luz, criar bom espírito no relacionamento com os media portugueses e responder a todas as perguntas que lhe foram feitas. Mas não posso deixar de confessar-me surpreendido ao ouvir Roger Schmidt afirmar, sobre Julian Weigl, que será o jogador, no final do dia, a decidir se quer ou não continuar na Luz. No limite, é sempre o jogador que decide se quer ou não continuar no clube onde está. E bem sabemos como é: se um jogador quer muito sair de onde está, é muito difícil que não o consiga.
A questão não é, pois, tanto a de saber se Weigl quer ou não deixar o Benfica, mas a de percebermos o que levou Roger Schmidt a dizer o que disse da maneira como disse.
Ao dizê-lo como disse, deixou a ideia de não lhe fazer assim grande diferença que Weigl se vá embora. O que é, no mínimo, relativamente perigoso. Pode Roger Schmidt pensar assim, mas não esperava, confesso, que o dissesse como disse.
Noutras circunstâncias, normal era ouvir o novo treinador afirmar que Weigl é jogador do Benfica, conta com ele como conta com todos, e que, portanto, não é assunto. Mesmo que, internamente, o seja.
Schmidt optou por estratégia diferente. E a conclusão é clara: se Weigl quiser sair, pois que saia, não há problema; se quiser ficar, pois que fique. Já ficou foi a saber que não será, na verdade, considerado essencial para o novo Benfica. Veremos com que custo!
Relativamente surpreendente foi também a forma como Schmidt falou de Ricardo Horta, alvo que o Benfica persegue há demasiado tempo. O treinador alemão não teve complexos (e bem) em falar de um jogador que lhe interessa, mas não evitou criar a expectativa, junto dos adeptos, de se ver Horta na Luz 24 ou 48 horas após a conferência. A não ser assim, por que aceitou falar de um jogador que não é do Benfica?
Schmidt elogiava Horta («é um jogador muito bom e seria grande melhoria para a equipa») e o presidente Rui Costa e o administrador Lourenço Coelho ouviam, em sintonia, admite-se, sentados na primeira fila da audiência. Já os adeptos, em sintonia apenas com a próprias paixão, ouvem, mas não veem o jogador, incrédulos com uma novela que parece boa para toda a gente menos para o Benfica. Por fim, António Salvador, o maior craque do Braga. Dá-se ao luxo de parecer até gozar com o pratinho. E o Benfica parece ir na conversa. Bem sei que nem sempre o que parece, é. Mas, às vezes, é mesmo. Como parece ser o caso!
Lembro, por fim, que devo ter sido dos poucos analistas a considerar que Vlachodimos não é o grande guarda-redes que precisa uma grande equipa como deve ser o Benfica. É uma opinião, como outra qualquer. Claro que é ao Benfica que compete saber, também nessa matéria, com que linhas se quer coser.
Mas também deveria competir ao Benfica impedir que um profissional como Vlachodimos, com quatro anos de Luz, fosse à Gala da Liga agradecer um prémio… em inglês.
É inacreditável. E não devo ser o único a pensar assim!