O craque Luís Carlos Novo Neto

OPINIÃO29.11.202106:00

Adoro craques como Ronaldo, Eusébio, Deco, Futre ou Madjer mas as grandes equipas também têm o seu Costinha, o seu Mário João ou o seu Petit

H Á jogadores que fazem a diferença. No FC Porto há Luis Díaz, Pepe e mais uns quantos; no Sporting existem Coates, Pedro Gonçalves e mais alguns; no Benfica brilham Otamendi, Grimaldo e mais um punhado. Todos craques, todos brilhantes, todos (quase) insubstituíveis. Mas o futebol, como diria o senhor de La Palisse, é uma modalidade coletiva. Ronaldo sem Nani ou Rui Patrício, por exemplo, não teria batido a França e sido campeão da Europa em 2016. Deco, sem Costinha, não teria vencido o Mónaco e o Celtic e chegado à Liga dos Campeões de 2004 e à Taça UEFA de 2003. Tal como Futre e Madjer, sem João Pinto ou Frasco, não teriam batido o Bayern para ganharem a Taça dos Campeões de 1987. Ou Eusébio, sem Mário João ou Ângelo, não teria ultrapassado o Real Madrid e tocado na Taça dos Campeões Europeus. Na conquista do Campeonato Nacional de 2004/2005, que seria de Simão e Nuno Gomes sem Petit e Argel? E em 2020/2021, que seria de Pedro Gonçalves sem João Palhinha?

N OS desportos individuais é diferente. Carlos Lopes foi Carlos Lopes sem precisar de quase ninguém. Tal como Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora ou Pedro Pablo Pichardo. Foram todos grandes sem que, à exceção dos seus clubes e dos seus treinadores, precisassem verdadeiramente de mais alguém. É por isso que, para mim, Cristiano Ronaldo é o maior desportista português de sempre, mas não é o maior atleta português de sempre. Precisamente por causa da dependência de outros. Ronaldo depende, tal como Eusébio dependia, dos guarda-redes, dos defesas, dos médios e dos parceiros de ataque. Um atleta, não. Joaquim Agostinho, outra força da natureza, valia quase por si só. Claro que necessitava de equipa para o ajudar a controlar o pelotão (o que, no caso do senhor de Brejenjas, nem sequer era bem assim, pois raramente teve equipas decentes para o ajudar a ganhar o Tour), mas era, apenas e só, Agostinho e a bicicleta. Agostinho, a bicicleta e as montanhas. Agostinho, a bicicleta, as montanhas e o cronómetro.
 

Corte de Neto na bola conduzida por Murilo é como se fosse golo no Sporting-Tondela

POR defender a tese de que, no futebol, ninguém ganha sozinho, destaco aqui um jogador que há mais de dois anos me impressiona. Podia ser Grujic ou André Almeida, por exemplo. Mas não. Destaco Luís Carlos Novo Neto, 33 anos, 19 vezes internacional por Portugal, presente no Mundial-2014 e na Taça das Confederações-2017. Joga como suplente como joga como titular: a mesma garra, o mesmo sorriso, o mesmo empenho. Neto não é o capitão do Sporting, mas exemplifica tudo aquilo que deve ter um capitão: craque mental da cabeça aos pés.