O cerco a João Félix

OPINIÃO30.04.201901:29

Nada de verdadeiramente significativo se registou na jornada do último fim de semana, à exceção de a corrida a dois pelo título ter deixado de ser ombro a ombro. Foi devolvida  ao Benfica uma almofada de conforto, equivalente a um empate, almofada essa que a águia deixara fugir no jogo com o Belenenses, na Luz. O resto são vulgaridades, como a opinião de Sérgio Conceição, a qual,  na ausência de argumentos para explicar o tropeção em Vila do Conde, principalmente a forma como  aconteceu, transferiu a culpa para o inexplicável, sem se dar conta que essas coisas, afinal, não  são assim tão raras em futebol, uma modalidade desportiva incomparável pelo fascínio que a envolve.


O futebol nada esconde de sobrenatural, sublinhe-se, como às vezes os treinadores querem fazer crer, principalmente os mais antigos. Quanto muito, serão situações imprevisíveis, o que é completamente diferente, na medida em que é absurdo um treinador sentir-se dono e senhor daquilo que os jogadores lhe podem dar em cada jogo. Porque não são peças de xadrez, são pessoas com ideias próprias e que no universo da equipa formam  uma diversidade de personalidades extremamente complexa, de aí que, como nos ensina o professor Manuel Sérgio, antes de se pensar nos modelos táticos e nas estratégias é preciso compreender o lado humano,  cada um dos praticantes e todos enquanto coletivo envolvido  num projeto comum.


 Em concreto, a luta pelo título continua empolgante, sabendo-se que em caso de igualdade pontual é campeão o Benfica por força do regulamento, que define o vencedor através dos resultados nos jogos entre ambos: duas vitórias da águia contra duas derrotas do dragão.
Nos casos inexplicáveis de que fala Conceição o Benfica também  leva vantagem porque já passou por dois (sendo certo que em nenhum deles, nem de perto nem de longe, os adeptos benfiquistas reagiram com o destempero que se viu em Vila do Conde, com o protagonista do costume):
Derrota em Portimão (0-2) com dois autogolos, um de Rúben Dias, outro de Jardel.


Empate na Luz, diante do  Belenenses (2-2), tal como o Porto com o Rio Ave: vencia por dois-zero mas, por magia, a baliza de Vlachodimos mexeu-se e Rúben Dias, confundindo as cores das camisolas, fez um passe de morte para golo do opositor.


OBenfica pratica um futebol mais atrevido, versátil e vistoso, em contraposição ao estilo mais musculado, disciplinado e seguro do FC Porto. Dois conceitos interessantes, ambos com os seus seguidores, e que, perante públicos de visão mais esclarecida sobre o fenómeno, teriam sugerido  outra abordagem ao longo da época, com conversas e debates vivos, ponderados e eloquentes. Para mal do nossos pecados, porém, por cá, os jogos não se discutem, apenas se gritam os erros do árbitros.


Seja qual for o ordenamento final da classificação, por esta altura julgo não haver dúvidas sobre o merecimento do Benfica na conquista do título. Basta-lhe apresentar a competência necessária no calendário que falta preencher.  


Quem marcou até agora mais 27 golos do que o segundo, mais 29 do que o terceiro e 39 do que o quarto, santa paciência, se há sinal diferenciador este é o mais relevante de todos e o que melhor traduz a essência do futebol: o golo.  Ou seja, o Benfica merece mesmo ser campeão. Se conseguirá sê-lo ou não faz parte de outra conversa, por causa dos imprevistos… explicáveis. Como, por exemplo, o cerco que se está a montar para expulsar João Félix. É uma  doideira. Basta ler ou ouvir, especialistas na arbitragem, treinadores retirados, antigos praticantes e similares.  


Félix ainda não sabe defender-se  dos pisões que o massacram. Reage com a impetuosidade de um jovem de 19 anos e desprotege-se. É por esta e por outras que os virtuosos não cabem na Liga portuguesa.


Bruno Lage que se acautele, sob risco de ficar impedido de o utilizar nas duas últimas jornadas e meia…  

Albuquerque e Dias - a dupla do sucesso

OSporting é campeão europeu de futsal, um objetivo notável há muito perseguido e agora alcançado. Prova de que o trabalho árduo, perseverante e sério geralmente compensa.


Nesta hora de vitória e de comemoração é de elementar justiça  destacar duas pessoas que arrostaram todas as vicissitudes e, resistindo a ventos e marés, conduziram o leão ao título supremo: fizeram dele rei da Europa.


Aplausos para os jogadores em primeiro lugar, os artífices da conquista, e para toda a estrutura de apoio. No entanto, duas pessoas há que me merecem especial destaque. Miguel Albuquerque, um dirigente  de muita competência, ousado mas sensato, que teve a virtude de jamais  deixar de acreditar. Nuno Dias, um treinador que veio da Rússia para abraçar um projeto ambicioso. Provou o que vale, com resultados e o título mais desejado.