O cavalo das cinco patas

OPINIÃO16.09.201904:00

Vinte e cinco anos é muito tempo, como diria o eterno Paulo de Carvalho. Há um quarto de século, precisamente a 21 de junho de 1994, Diego Armando Maradona marcava o seu último golo na seleção. No Mundial-1994. Um golaço, aliás. Sucessivas trocas de bola à entrada da área grega e o capitão argentino, obviamente com o 10 nas costas, a tirar dois adversários da frente e, quase sobre a linha de grande área, a desferir tiro potente com o pé esquerdo e a fazer o 3-0. A seguir, como bom rebelde que sempre foi, correu, desenfreado, na direção de uma câmara de televisão e festejou o golo como se não houvesse amanhã. E, de facto, não houve. Veio o controlo anti-doping, a suspensão pela FIFA e o fim de carreira na seleção. Ainda jogaria mais três anos no Boca, até que em 1997, com 37 anos, colocou ponto final na carreira de futebolista.

Passaram, entretanto, 25 anos. Apareceram Ronaldo Nazário e Zidane, Rivaldo e Ronaldinho, Xavi e Iniesta, Neymar e Griezmann, Messi e Ronaldo, Ronaldo e Messi, Messi e Ronaldo, Ronaldo e Messi. Mas Maradona continuou no trono. Porém, tal como as vedetas do cinema mudo que entraram em decadência quando o som apareceu, o carisma de Don Diego começou a empalidecer. Até como treinador. O ponto alto foi, no Mundial-2010, na seleção Argentina e com craques como Messi, Aguero, Tevez, Di María, Higuaín, Palermo, Milito, Verón ou Pastore, ao chegar aos quartos de final. E acabou o curtíssimo tempo da esperança de vermos um Maradona-treinador ao nível do Maradona-jogador.

Agora, 25 anos depois do golaço à Grécia e nove após ter estado na África do Sul, Diego Armando Maradona foi apresentado como treinador do Gimnasia de La Plata. Porém, aquela figura quase grotesca que vimos no Estádio Juan Carmelo Zerillo, com a voz entaramelada e arrastando-se, coxeando e amparado, pelo relvado, já não é Maradona. É qualquer coisa indefinível. Talvez a mulher das barbas de um circo de terceiro nível. Ou o anão marreco. Ou o cavalo de cinco patas.  Mas já não é Maradona. O barrilete cósmico como lhe chamou Victor Hugo Morales, radialista argentino, durante o Mundial-1986, é agora génio decadente. Devia haver uma lei que proibisse que ídolos de muita gente se pudessem transformar em figuras grotescas. Fosse em que área fosse. Sobretudo na desportiva. Há que sair a tempo sem nos andarmos a arrastar por palcos onde antes fomos grandes. Maradona será eterno, claro. Um dos grandes. Um dos maiores dos maiores dos maiores. Mas agora o que nos oferece é apenas nostalgia e pena.