O campeão volta a Istambul
O Liverpool já foi muito feliz em Istambul. Foi nesta portentosa cidade transcontinental à beira do Bósforo que, numa certa noite de maio de 2005, o grande clube de Mersey ganhou a final da Champions ao AC Milan de Pirlo, Káká, Rui Costa, Seedorf, Hernan Crespo e Shevchenko depois de assinar uma reviravolta espantosa (de 0-3 ao intervalo para o 3-3 final com vitória nos penáltis). O capitão Steven Gerrard, com determinação de ferro, detonou o espantoso volte face e o guardião polaco Jerzy Dudek foi o herói nos penáltis (defendeu os remates de Pirlo e Shevchenko), não se esquecendo de imitar a rábula de outro famoso guarda-redes do Liverpool, Bruce Groobelaar, numa final europeia (Roma, 1984): fez pernas de spaghetti para desconcentrar os oponentes. Essa final do Atatürk entrou directa para a história do futebol.
Mais logo o adversário não é italiano, mas inglês: o Chelsea, acabadinho de levar uma valente tareia em Old Trafford (0-4) perante o olhar critico do novo comentador da Sky Sports, José Mourinho (caramba! quando volta !?!), que apadrinhou na pantalha a estreia oficial de Frank Lampard pelos blues. Este terá de exigir muito mais aos seus jogadores para poder estar à altura da armada de Klopp. Em Manchester, a defesa azul esteve tenebrosa e o ataque mal se viu. Boa noticia para Lampard é que na baliza do Liverpool não estará o titular Alisson, que se lesionou no jogo com o Norwich; a má noticia é que o substituto de Alisson não será o belga Simon Mignolet (foi para o Brugge) nem o alemão Lorius Karius, que continua emprestado ao Besiktas - lembro que Karius foi o autor de duas intervenções inesquecíveis na final da Champions de 2018 em Kiev que o Liverpool, por via delas, perdeu para o Real Madrid. Como outros guarda-redes do Liverpool, Caoimhin Kelleher e Vitezslav Jaros, também estão indisponíveis, Alisson será substituído pelo ilustre desconhecido Adrián San Miguel, um sevilhano de 32 anos que estava livre [após seis épocas e 150 jogos no modesto West Ham] até Klopp se decidir pela sua contratação para o lugar do inconsistente Mignolet.
É assim a vida, é assim a bola. Há um mês, San Miguel não tinha clube e treinava para manter a forma. Subitamente, volta de 180 graus. Com apenas 4 jogos internacionais no currículo - todos na Liga Europa -, Adrián guardará a baliza do campeão europeu… numa final europeia ! Para os supersticiosos, o número da camisola dele - 13 - poderá acrescentar uma pitada de mau augúrio ao Liverpool, que tem em Jurgen Klopp um treinador absolutamente pé frio em finais - só ganhou uma das últimas oito [para os amantes da estatística como eu, 13 é o número de títulos europeus com que o Liverpool ficará se vencer a final - e eu quero esse azar, claro]. A novidade absoluta no Vodafone Park de Istambul (sim, onde trivela Quaresma) chega do apito: a francesa Stéphanie Frappart, 35 anos, torna-se hoje a primeira mulher a dirigir uma final europeia masculina depois de apitar, há pouco mais de um mês, a final do Campeonato do Mundo feminino. Stéphanie estará auxiliada pela compatriota Manuela Nicolosi e pela irlandesa Michelle O’Neill.Cherchez la femme…
FCP: que desastre!
IMPENSÁVEL a forma como o FC Porto se deixou eliminar pelos russos do Krasnodar, uma equipa de segunda linha sem qualquer experiência de Champions… depois de ter ganho na Rússia. Primeira parte má de mais para ser verdade; segunda parte com um FCP mais próximo do normal, mas o mal estava mais que feito - alguns erros individuais inaceitáveis e uma ou outra opção técnica difícil de entender. Derrota amarga que tira ao FC Porto o importantíssimo encaixe milionário e, claro, o palco de prestígio onde se costuma exibir todos os anos; derrota inesperada que tira ao futebol português o seu porta aviões na Champions. Lembre-se que o FCP é uma das equipas europeias com mais história neste modelo competitivo (cada vez mais elitista) que a UEFA estreou em 1992/1993 - basta pensar que só ontem os portistas deixaram de ser recordistas de participações (23) ao lado do Real Madrid e do Barcelona.. e que continuam a ser, com o Ajax, a única equipa fora dos big five que conseguiu ganhar a Champions (em 2004, com Mourinho; além de ter chegado a uma meia-final com Bobby Robson em 1994). Em termos domésticos, o FC Porto é o único que tem registos positivos na Champions, somando mais jogos (196) e mais vitórias (85) sozinho que Benfica (100 j, 35 v), Sporting (50 j, 14 v), Boavista (18 j, 4 v) e Braga (12 j, 4 v) todos juntos. Pela simplicidade crua dos números se percebe o dano da eliminação portista para a representação portuguesa na Champions. Tem a palavra o Benfica (vai para o 2.º pote), agora com a responsabilidade de representar sozinho o futebol nacional na maior competição clubística do Mundo.