O caminho já feito e a grande esperança no futuro 

OPINIÃO05.11.202003:00

Deixem-me, por pouco tempo que seja, saborear esta liderança do Sporting. Olhar para a tabela classificativa da Liga e ver lá, em primeiro lugar, isolado, o nome do meu clube. Há quantos anos não acontecia? Já escreveram várias vezes que foi em 12 de setembro de 2016, há mais de quatro anos. E à quarta (e não sexta) jornada. Há 137 jornadas, portanto, que não acontecia. E digo-vos que não me lembro, sequer, desse feito, porque na altura nos prometiam que íamos ganhar tudo (embora, logo na jornada seguinte, tenhamos perdido em Vila do Conde, deixando o lugar para outros).

No sábado, o Sporting tem também uma deslocação difícil, a Guimarães e, no dia seguinte, o Benfica, seu imediato perseguidor (como sabem bem estas palavras) recebe o Braga, que estando no terceiro lugar, ganha há quatro partidas consecutivas, depois de ter perdido, não se percebe porquê, nas duas primeiras jornadas. O desejo, sincero, é que o primeiro lugar persista e que o Sporting jogue tão bem como no maravilhoso jogo que fez contra o Tondela, de que destaco o segundo golo de Pedro Gonçalves, pela simplicidade e simultânea complexidade da jogada e sua concretização.

Rúben Amorim escolheu para jogar de início João Mário e Sporar. Fez bem e viu-se a mais valia que um e outro trouxeram. Mesmo que essa opção o obrigasse a deixar Matheus Nunes e Jovane no banco - mas costuma dizer-se que essas são as boas dores de cabeça. João Mário impõe uma serenidade e uma visão no meio-campo que, não desmerecendo Matheus, estabelece uma classe diferente, e Sporar cria uma objetividade de que o ataque carecia. Como aqui escrevi, Jovane estava tipo peixe fora de água, a jogar num lugar que não era o seu. Aliás, contra o Tondela, tendo jogado poucos minutos, conseguiu, mesmo assim, dar um ar da sua graça que lhe faltou nos jogos anteriores.

A Rúben Amorim se devem, essencialmente, estas alterações que passaram pela contratação cirúrgica de jogadores ao Rio Ave e ao Famalicão e pela negociação de dois empréstimos, ao City e ao Inter de Milão. São quatro jogadores de inegável valia - Nuno Santos, Pedro Gonçalves, Pedro Porro e João Mário. Gastou-se pouco, venderam-se jogadores que, em princípio, não gostaríamos que saíssem, como Acuña, Wendel ou Vietto, mas, para já, os resultados falam por si. O dinheiro que renderam estas vendas e a de Matheus Pereira é mais de três vezes aquele que se gastou em contratações. E com menos se fez mais.

Os miúdos

Não podemos esquecer, no entanto, que a alma do Sporting, neste momento, é constituída por miúdos. Nuno Mendes tem 18 anos; Pedro Porro, 21; Pedro Gonçalves, 22; Tiago Tomás 18; Matheus Nunes,22; Plata, 20; Jovane 22; Daniel Bragança, 21; Gonçalo Inácio 19; Eduardo Quaresma, 18; Luís Maximiano, 21: Pedro Marques, 22. Ou seja, fora dos sub-23, na equipa principal do Sporting, contando com os suplentes, temos o guarda-redes Adán com 33 anos; Feddal, 31; Coates, 30; Palhinha, 25; Nuno Santos, 25;  João Mário, 27; Sporar, 26 e Luís Neto, 32. A média é impressionante: 23,6 anos, para os 20 jogadores que jogaram ou estiveram no banco contra o Tondela. E destes, só 7, contando com suplentes, têm mais de 23 anos.

Sabe-se que estão mais jovens para chegar, o que faz do Sporting - e os contratos têm sido, tanto quanto possível, blindados - uma equipa com futuro. Tiago Tomás, Matheus Nunes, Daniel Bragança, Gonçalo Inácio, Jovane e sobretudo Pedro Gonçalves e Nuno Mendes são profissionais que só um desastre desviará do caminho futuro na Seleção Nacional. Aliás, a maioria deles alinha pelas diversas seleções jovens (de sub-23 e sub-21); jogadores como Nuno Santos e João Palhinha, com experiência de seleção em escalões etários menores, a continuar a jogar assim, devem ter legítimas aspirações à Seleção Nacional, no imediato.

E esta questão leva-nos a outra. Dos jogadores que estiveram em campo na última jornada, contra o Tondela, não menos de oito são portugueses. No Benfica, frente ao Boavista, foram metade, apenas quatro portugueses (Pizzi, Nuno Tavares, Diogo Gonçalves e Rafa); e no Porto outros quatro (Diogo Leite, Sérgio Oliveira, Manafá e Fábio Vieira). Se quisermos ser justos, contamos com Pepe que só não jogou por estar lesionado. De qualquer modo, o Sporting jogou de início com seis portugueses, o Benfica com dois e o Porto com três. Diferenças significativas.

E esta é mais uma característica que agrada, neste novo Sporting: além da juventude, os recursos serem, no essencial da casa, da formação. Podem falar muito do Olival e do Seixal, mas a casa que forma melhores futebolistas não rima com nenhuma dessas. É mesmo Alcochete.

Uma época feliz?

SE há atividade onde se condena tão depressa como se perdoa, é o futebol. Frederico Varandas, como todos os dirigentes, estará sempre dependente de resultados. Não interessa que tenha feito tudo bem, caso a equipa não ganhe; não interessa que tenha feito tudo mal, caso a equipa vença. É assim, e penso que ninguém conseguirá mudar esta forma de estar, pelo menos em tempos próximos.

Pode por isso dizer-se que a Direção do Sporting vive tempos de glória. Pelas redes sociais (e não só) correram os feitos da Direção de Varandas, muitos certeiros, outros talvez exagerados. Nada tenho a dizer sobre isso, salvo o que Rúben Amorim, com muito bom senso e humildade, recomendou aos jogadores depois dos 4-0 ao Tondela: «Não leiam jornais, porque podem ficar a pensar que são melhores do que na verdade são.» Recomendaria o mesmo ao presidente: não ligue a tanto elogio, porque pode ser levado ao engano. Saboreie o momento, como todos nós, mas prepare-se para tempos em que pode não ter a mesma felicidade e união.
Aliás, umas das coisas que está a deixar desesperado aquele cujo nome não pronuncio, é a campanha deste Sporting. Como não pode dizer nada de jeito, decidiu atacar uma frase do antigo capitão sportinguista Beto. E que disse Beto? Algo tão simples que aposto que qualquer sportinguista já tinha pensado nisso. Afirmou que o facto de não haver adeptos no estádio tem ajudado a equipa do Sporting. E explicou: contra o Gil Vicente, a perder 0-1 perto do fim do jogo, haveria, de certas bandas, um festival de assobios e insultos que só desmoralizaria os jogadores. Sobretudo os jovens que, como se viu, são a alma e o espírito do clube. Mas sem esse constrangimento, o Sporting deu a volta. Aos 82 minutos empatou por Sporar, aos 84 deu a volta com Tiago Tomás e nos descontos confirmou com Pedro Gonçalves.

Beto tem toda a razão. O Sporting deve ser o único clube do mundo onde os jogadores são (eram?) sistematicamente assobiados e insultados por quem se diz adepto; e onde alguns adeptos são ameaçados por outros, que se dizem também adeptos. E, muito embora o público seja necessário aos clubes e ao futebol, o Sporting tem beneficiado de uma certa paz de espírito.

Pois o senhor referido veio logo escrever nas redes e dar à Comunicação Social o seu ponto de vista. Elegante e elevado como sempre disse «já metem nojo com esta história dos adeptos». Pelo meu lado, proponho que deixemos de lhes chamar adeptos. Não são. São seguidores da IURB, uma vez que seguem alguém que se toma por reizinho ou divindade e cujo nome começa por B. E devemos ter a coragem, como se teve com algumas claques, de dizer a esses possuidores de um cartão de sócio que estão a seguir quem foi expulso por prejudicar o clube. E que não admitiremos que o clube seja prejudicado por eles.

Uma coisa são salutares divergências, que também tenho e muitos consócios meus têm, podendo querer trilhar outros rumos, mas sem nunca prejudicar o Sporting. Outra, diferente, é aquela malfadada turba que apenas quer um expulso de volta e sabotar todos (mesmo que sejam a esmagadora maioria) os que o expulsaram.