O bom exemplo leonino
Primeira pausa longa no campeonato com apenas quatro jornadas realizadas, mas já com algumas agradáveis razões para se acreditar que esta época vai ser melhor do que a anterior, com ambiente mais despoluído, futebol mais atrativo e arbitragem mais compreendida.
Média interessante de quase três golos por jogo (2,91), treinadores preocupados em falar do seu trabalho com elevação e árbitros determinados em prolongarem o tempo útil de jogo são os aspetos mais relevantes a reter.
Com um dérbi de permeio disputado em clima de elogiável serenidade, que devia ser a regra e não a exceção - a PSP, porventura também ela admirada, teve o cuidado de valorizar essa situação, pela invulgaridade -, foi bem-vinda a decisão dos mais altos dirigentes do Sporting, os quais deram notável exemplo ao corporizar a mudança que tanto se apregoa e quase ninguém pratica, sem confundir rivalidades com ódios, nem paixões clubistas com fanatismos tribalistas.
A presença de Jaime Marta Soares, Artur Torres Pereira e José Sousa Cintra na tribuna presidencial do Estádio da Luz foi um gesto de enorme significado e um passo em frente muito importante para uma imagem do futebol que as pessoas de bem merecem e as novas gerações precisam.
O futebol é festa e é assim que deve ser vivido, motivo do meu espanto por não sei quantos candidatos à presidência leonina se aproveitarem de uma atitude nobre, é assim que a vejo, e, sem pudor, a incluírem como tema menor e censurável na luta pelo voto.
As personalidades leoninas que aceitaram a empreitada de salvar o clube do precipício fizeram-no com admirável ponderação. Em curto espaço de tempo, e no meio de problemas imensos, devolveram a estabilidade e a esperança a uma família desavinda.
A paz voltou à casa do leão e Sousa Cintra, na qualidade de presidente da SAD, indicado pela Comissão de Gestão, desempenhou papel particularmente decisivo, não só pelo exercício modelar da função, mas também pela recetividade das suas genuínas intervenções, sem adornos nem maquilhagem. Ao ponto de se tornarem incomodativas para os candidatos, os quais se convenceram de que se ele resolvesse intrometer-se no processo eleitoral provavelmente ganharia, à vontade. No entanto, como disse o nosso primeiro-ministro, palavra dada é palavra honrada e como entrou, com inequívoco sentido de dever, a Comissão de Gestão vai sair de cena no próximo dia 8, quando for eleito o novo presidente.
Vai sair como entrou, discreta e com a certeza do dever cumprido, podendo, enfim, José Peseiro dormir descansado, mudar o discurso e libertar-se dos receios de despedimento. A época está em marcha, o Sporting passou no dérbi da Luz e reparte o primeiro lugar com Benfica e Braga. Quem chegar vai dar-lhe um voto de confiança, aproveitar o muito que foi bem feito e seguir em frente.
Nesta análise ligeiríssima às primeiras quatro jornadas do campeonato deve assinalar-se, ainda o esforço que os árbitros desenvolvem no sentido de uniformizarem interpretações e critérios, além de, como referi, procurarem estender o tempo útil de jogo com razoável sucesso já visível.
Trata-se de uma alteração inevitável e absolutamente necessária à saúde do jogo, embora de efeito demorado, na medida em que é preciso eliminar manhas enraizadas e corrigir mentalidades distorcidas. Existem Neymares de mais nos campos portugueses, não tão espalhafatosos, mas igualmente com a tendência doentia de se atirarem para o chão aos gritos, simulando dramas e desgraças. A isto chama-se trapaça, que os árbitros devem combater, em nome da verdade, sendo certo, porém, que as culpas tanto cabem ao jogador que engana como ao treinador que lhe sugere o engano.
Foram anos a receber ensinamentos de uma escola de muitos truques e poucas virtudes. O processo vai ser lento, mas já se notam sinais que entusiasmam. Talvez menos do que seria desejável, mas é um começo.
Tudo estaria melhor, porém, se os especialistas fossem mais explícitos sobre a correta aplicação da letra da lei. Também não ficaria mal se a uniformização de critérios que se exige aos árbitros no julgamento dos lances fosse seguida nos reparos que lhes são feitos por quem sabe: a uns pede-se-lhes que não olhem para as cores das camisolas, a outros que não reparem nos nomes de quem apita.