O árbitro, o clássico e o novo presidente
Todos nós admiramos Rui Costa, o homem da camisola 10. Mas como será a personalidade, o estilo e o projeto do próximo líder do Benfica?
UM árbitro francês arbitra em Portugal e um árbitro português arbitra em França. A isto alguns chamam modernizar, internacionalizar o futebol, deixar o jogo ao abrigo de deploráveis suspeições e insinuações. É um avanço civilizacional.
Será? Não estou certo que o seja. Para mim, que me desculpem os promotores da grande novidade e os criadores de futuros mais ou menos virtuais, trata-se de uma experiência avulsa, sem fins determinados, sem objetivos consistentes, sem projeto coerente.
Há quem esteja em desacordo por meras razões corporativas. Não os acompanho. Não está aí o problema, nem sequer entendo quem veja na experiência uma desvalorização do árbitro nacional. Mas vejo outros problemas que levam à contraindicação desta ideia experimentalista. A verdade é que cada país foi moldando o seu futebol no engenho e na arte dos seus protagonistas, mas também foi ganhando estilos de arbitragem diferentes. Basta ver os campeonatos espanhóis, italianos, franceses, ingleses, para se perceber que as leis são as mesmas, as regras não mudam, mas a sua interpretação é diferente, tanto ao nível técnico como disciplinar. E assim sendo corre-se evidentemente o risco, não só de se estranhar a diferença como de não haver equidade, tanto mais que os chamados jogos grandes parecem ficar de fora da mesa de laboratório.
HOJE há clássico, com público nas bancadas. O regresso aos ambientes dos grandes jogos, mesmo que ainda não totalmente em pleno. Isto sim, um avanço civilizacional neste tempo que começa a ser de transição para a normalidade na vida dos cidadãos.
Sporting e FC Porto jogam na ainda na aurora do campeonato e, no entanto, está longe de ser um jogo que deva ser considerado pouco ou nada decisivo. Dizem os treinadores que o importante não é como começa, mas, sim, como acaba. Mas um dos treinadores que diz esta frase é o mesmo que admitiu que o FC Porto perdeu o campeonato pela maneira como esbanjou pontos no início do campeonato da última época.
Os jogos clássicos são sempre muito importantes. Dão-nos nota do momento real das nossas melhores equipas, até porque a esmagadora maioria dos jogos são pouco discutidos do ponto de vista competitivo. Além do mais, este clássico traz-nos a expectativa de ver como Rúben Amorim e Sérgio Conceição pretendem lidar com com o necessário equilíbrio das suas equipas nos jogos do campeonato (sobretudo quando são jogos muito importantes) e nos jogos da Champions, separados por horas e na sequência de um pesado calendário de seleções.
Como será Rui Costa presidente?
CADA vez mais se percebe que Rui Costa será eleito como presidente do Benfica e, como tal, sucessor de Luís Filipe Vieira. A extemporânea saída de Noronha Lopes da corrida, que ainda nem sequer começara, e os bons resultados desportivos de início de época do futebol do Benfica trazem-nos a convicção de que Rui Costa não terá grande dificuldade em ganhar o voto e a confiança da maioria dos benfiquistas.
A dúvida não estará, pois, no nome, mas na personalidade. Rui Costa manterá a linha de Vieira? Manterá a equipa que Vieira nomeou para o acompanhar e proteger? Até que ponto Rui Costa conseguirá autonomizar-se, criar um projeto próprio, definir uma nova estratégia, estabelecer um plano para o futuro do Benfica? Todos continuamos a admirar Rui Costa na lembrança do homem da camisola 10. Mas como iremos mais tarde recordar o presidente?
AS SELEÇÕES E OS CLUBES
Há um problema real e que se torna urgente resolver na base do bom senso e do equilíbrio, entre os interesses das confederações (e da FIFA) e dos clubes (e da UEFA). Podemos resumir o problema a um acender da guerra entre as duas maiores instituições do futebol mundial, mas é demasiado básico. É preciso pensar nos clubes, que pagam, nos treinadores e nas crescentes dificuldades do seu trabalho e, acima de tudo, é preciso pensar nos jogadores e na sua condição humana que, embora alguns se esqueçam, não é ilimitada.
JORGE SAMPAIO E O (SEU) FUTEBOL
Da personalidade política, outros se encarregarão. Foi uma vida intensa e rica, sobretudo desde a revolta estudantil de 1962, que ajudou a liderar. Jorge Sampaio teve sempre um sentido cívico muito apurado, que lhe terá chegado, também, da sua educação britânica. Daí gostar tanto de futebol e do Sporting. Não do futebol do fingimento, dos mestres na arte de ludibriar, de driblar a verdade, mas do futebol puro e digno que ele reconhecia nos ingleses. Foi, ainda, um político que sempre relacionou o futebol com a cultura. Também aí, diferente.